sexta-feira, 15 de junho de 2012

Sexto Lugar: Rodrigo Maranhão - Os 10 Melhores Cantores dos Últimos 10 Anos


Carioca de nascimento, Rodrigo Maranhão nunca escondeu a raiz nordestina tão presente em sua canção, que vai do xote ao baião, passando obrigatoriamente por samba, embolada e até pela valsa. Paralelamente à carreira solo, Rodrigo integra o grupo Bangalafumenga e, no momento, lança Passageiro, o segundo álbum solo. Assumido minimalista (no sentido da depuração), Rodrigo trabalha mais com a tesoura em suas belas canções. Rodrigo Maranhão não esconde o orgulho de ter obra marcada por canções nas vozes consagradas de Maria Rita (Caminho das águas), Roberta Sá (Olho de boi e a ótima Samba de um minuto), Fernanda Abreu (Dance, dance e Baile da pesada), Anna Luisa (Baião digital e O osso) e Zélia Duncan (Gringo guaraná).

De seu primeiro e surpreendente disco solo, Bordado(2007), Rodrigo Maranhão trouxe, além do já inconfundível estilo de compor e cantar brasileiro, a variedade de ritmos e gêneros. Variedade, claro, calcada nas duas grandes veredas da música brasileira, o samba (urbano) e o baião (rural). Mas se lá, em Bordado, ele apresentou quase um manifesto pelo direito de sua geração de continuar a fazer simplesmente uma música brasileira ampla e em Passageiro, mais maduro Rodrigo põe tudo em dúvida, questiona ritmos e gêneros, é ora metalinguístico, ora onírico. Sempre e ainda surpreendente.

Senão ouçam Samba quadrado, o samba irônico e metalinguístico que abre o CD (anunciando o espírito da coisa): se na letra ele diz que tentou fazer um samba importado/ um samba quadrado/um samba só, na música tudo suinga, tudo balança, do pandeiro de Pretinho da Serrinha e da guitarra de Thiago di Sabatto, ao quarteto de cordas arranjado por Leandro Braga.

No mesmo espírito de estranhamento com ritmos e gêneros estão a Valsa lisérgica, única parceria do disco, a letra de Pedro Luís cheia de imagens loucas também no espírito da coisa; o Quase um fado, gravado entre Rio e Lisboa, com direito à voz potente do português Antônio Zambujo, em quem, aliás, Rodrigo se inspirou para fazer a canção, depois de assistir um concerto dele no Rio; o sambão Um samba pra ela, popular e escorreito na melodia, com direito à suingueira do trombone de Zé da Velha e o trompete de Silvério Ponte, além do sax soprano do produtor Zé Nogueira reforçando o naipe e o suingue, mas em cuja letra também irônica e metalinguística revela-se que tentei fazer um samba pra ela/ mas a palavra se nega/ não me dá satisfação.

Conhecedor dos meandros da canção brasileira, como se vê, Rodrigo Maranhão se dá ao luxo de brincar com ela, de por vezes virá-la ao avesso. É o caso da faixa mais pop do disco, Camaleão, conduzida pela orquestra percussiva de Marçal e pela deslumbrante flauta baixo de Andrea Ernest Dias, tocada com o sopro evidente, à maneira de Hermeto Pascoal, e com a letra propondo um negaceio típico deste trabalho: No inverno posso ser verão/ Ser um só e ser camaleão. É também o caso do lindo xote Maria sem vergonha, a orquestra percussiva desta vez a cargo de Marcos Suzano, o arranjo minimalista conduzido pelo órgão Hammond vintage de Marcelo Caldi e pela guitarra de Ricardo Silveira, um misto de coisas velhas e formas novas para a letra que confessa: Volto ao velho e companheiro cais/ Para espiar no mar de tantas eras/ O que ainda é novo e o que ficou pra trás.

A produção de Zé Nogueira, aliás, privilegia o acústico e o minimalismo que as canções de Rodrigo pedem, ou melhor, exigem. As cordas e o piano são usados, por exemplo, de forma parcimoniosa (e deslumbrantes, com direito também a solo do sax de Zé Nogueira) por Leandro Braga em De mares e Marias, canção de amor de feição clássica, mas com letra cheia de dúvidas, tão no espírito do disco: Pode ser que a noite queira dizer tanta coisa, tanta coisa/ Mais de uma vez, eu sei/ Pode o amor passar/ Ninguém saber.

Espírito do disco, aliás, que pode ser resumido no baião onírico Sonho: Se é sonho ou verdade/ Eu não sei. Ou mais ainda na embolada-canção (com direito a rabeca de Siba) que não por acaso dá título ao disco, Passageiro, que encerra o trabalho com um conselho daqueles de cego cantador e que deve ser seguido à risca: Pra chegar no fim do verso/ É preciso ficar quieto.

Com todos esses ensinamentos e soberania sobre música popular brasileira e pelo novo talento surgido nos últimos anos, é que Rodrigo Maranhão encabeça a sexta colocação da lista dos 10 Melhores Cantores dos Últimos 10 Anos. Merecidamente.



Sexto Lugar: Rodrigo Maranhão

Os 10 Melhores Cantores dos Últimos 10 Anos

Marcelo Teixeira

Nenhum comentário: