Mariene de Castro |
O álbum começa com o samba
de roda A Pureza da Flor, marcada por
um excelente coral de vozes femininas, o que se repete na doce Amuleto da Sorte, de Nelson Rufino. Em seguida,
vem a mais suave Filha do Mar, da
novata cantora e compositora paraibana Flávia Wenceslau: Sou filha do mar e na maré mansa / Basta um riso, uma esperança / Pra
meu peito consertar / Sou filha do mar e na maré cheia / Tiro o barco da areia
/ Vou-me embora navegar.
Entre os clássicos regravados
por Mariene de Castro, está Roda Ciranda,
de Martinho da Vila, lançada em 1985, no álbum Criações e Recriações.
Outro é Um ser de luz, de João
Nogueira, Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, imortalizado pela interpretação
de Alcione, em homenagem à Clara Nunes, quando esta partiu em 1983.
Os indispensáveis, quando se
pensa em música nordestina, Dorival Caymmi e Luiz Gonzaga, também estão
presentes. O primeiro aparece com a acolhedora Tia Nastácia (Cantiga Pro Sinhozinho). O segundo é representado
pela delicada parceria com Humberto Teixeira, Estrada de Canindé.
Mas Mariene vai ainda mais
longe. Ela recupera o lundu Isto é Bom,
de Xisto Bahia, compositor baiano do século XIX; e faz uma interpretação
personalíssima do samba Não Vou Pra Casa,
do Roberto Roberti, aqui em parceria com Antônio Almeida. Roberti se destacou
principalmente nas décadas 1930, 1940 e 1950, e, além de ser um dos criadores
da Associação Brasileira de Compositores e Autores, foi gravado por, entre
outros, Carmen Miranda, Araci de Almeida, Orlando Silva e Francisco Alves.
O compositor mais presente
em Tabaroinha
é o rei do samba baiano Roque Ferreira, nascido em Nazaré das Farinhas (BA), e
que começou a compor aos 14 anos, quando se mudou para Salvador e conheceu
artistas como Riachão, Edil Pacheco, Nelson Rufino e Batatinha, entre outros.
As canções compostas por ele presentes no álbum são a graciosa Foguete, parceria com J. Velloso; a doce
Ponto de Nanã e a dançante Orixá de Frente, já cantada por Roberta
Sá no belo disco Quando o Canto é Reza, em homenagem à Roque: Venha ver como é lindo / Uma preta na roda /
Toda se bulindo, laiá / Pano da costa do ouro / Cobrindo o colar.
Tabaroinha, que
vem de tabaroa, uma palavra tupi-guarani, que quer dizer mulher acanhada,
criada no interior, matuta, caipira. “Sempre
me senti tabaroa, ainda mais quando saí da minha taba, juntando-me a outras
tribos. Levei comigo meus costumes, meu sotaque, minha raiz. De onde vim, trago
as minhas cores, o meu olhar, minhas lembranças, minhas saudades. Que reflete
neste CD a tabaroa, tabaroinha! Que levarei comigo onde quer que eu vá. A
escolha deste repertório vem desse mesmo sentimento”, explica Mariene, no
encarte.
A cantora, que desde pequena
sonhou ser bailarina, aprendeu a tocar violão e iniciou a carreira como vocal
de apoio para Márcia Freire, Timbalada e Carlinhos Brown. Nesse álbum, ela é
acompanhada por, entre outros, Júlio Caldas (violão e banjo), Israel Ramos
(baixolão), Dudu Reis (cavaco), Cicinho de Assis (acordeom), Binho Cunha
(timbau, surdo, agogô, ganzá e reco-reco), Marcelo Pinho (timbau, cajon e
triângulo), Iuri Passos (timbau, shake balde, pandeiro e cáscaras) e André
Souza (timbau e congas).
Tabaroinha é,
portanto, um álbum extremamente prazeroso de se escutar e que comprova o imenso
talento de Mariene de Castro. Além de se cercar dos melhores músicos e de
possuir a candura de uma guerreira na interpretação, a cantora prova ter
sensibilidade rara na escolha do repertório que, mesmo formado por canções de
diferentes épocas, forma uma unidade bastante concisa.
Nota
10
Tabaroinha
/ Mariene de Castro
Marcelo
Teixeira
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