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Os truques salientes de Anitta |
Não podemos tirar o mérito da
cantora Anitta de que ela é um sucesso estrondoso aqui no Brasil e angaria a
passos tímidos sua incursão em países da América Latina, Europa e todo o
Continente. Em alguns países, como México, por exemplo, ela praticamente domina
as paradas de sucessos e já é muito requisitada para programas de TV e rádios
locais. Mas em países como Colômbia (em que precisará brigar muito com a dona
do pedaço, Shakira), Anitta ainda não reinou, mas conseguiu entrar bem
timidamente. Portugal, Argentina, Paris, Londres e em alguns outros países ela
ainda engatinha, mas o efeito maior mesmo está no país do Chaves, Chesperito e
Chapolin Colorado, talvez como uma troca de favores.
Diferentemente
do que muitos pensam, Anitta é muito mais esperta que todos no quesito fazer truques: ela tira onda em suas
músicas, planeja muito bem como fazer de seus singles um verdadeiro fenômeno e
tira de tudo isso um proveito absurdo, sem ao menos... abrir tanto a boca.
Explico: em músicas como Bang, de 2015 (mesmo
que ainda cante e bem), Paradinha (2017)
Vai Malandra (2017), Machika (2018) e o agora sucesso Medicina (2018), Anitta mal abre a boca, mais dança do que canta e
nos engana muito bem com seu portunhol esquisito. Não estou aqui querendo dizer
que Anitta não é uma boa cantora ou que seu sucesso não é merecido. Estou
dizendo justamente o contrário, até porque, no início de sua carreira eu mesmo
fui totalmente contrário ao seu estilo de fazer música brasileira e a chamei de
medíocre quando queria usar e abusar da comunidade carente para se
autopromover.
Mas
se você reparar bem nas músicas da cantora, verá que a mesma praticamente não
canta muito, que mais dança e rebola do que pratica o ato de soltar a voz.
Outra coisa que me deixa muito intrigado é o fato da cantora sempre ter um parceiro para dividir os vocais e isso
está em praticamente noventa por cento de suas músicas. Em Vai Malandra ela canta tão pouco, que cheguei a acreditar que ela
não estava no clipe. Agora em Medicina
o efeito se repete: além de colocar várias crianças e jovens de outros países
fazendo o refrão (La La La La La La),
ela canta pouco, explora mais o cenário e os países pelos quais perpassa e
pronto: clipe feito, música cantada, sucesso estrondoso e ‘bora’ fazer outro
sucesso.
Formada em Administração, Anitta
é o fenômeno que é devido ao seu caráter, seu estilo despojado e seu lado
humano: o povo precisava de uma cantora que os representassem. Isso aconteceu
com Carmen Miranda nos anos de 1930, Clara Nunes e Elis Regina nos anos de
1970, Rita Lee e Marina Lima nos anos 1980, Daniela Mercury nos anos 1990,
Ivete Sangalo nos anos 2000, Anita nos anos 2010. Ainda risco em dizer que
Anitta é a cópia de Ivete, mas em graus diferenciados, porque Ivete explorou
muito seu lado baiano, enquanto que Anitta não tem uma identidade cultural, não
ficando restrita apenas ao Rio de Janeiro, mas representando todo o Brasil,
indo de encontro com a identidade ideológica da História.
Todas
essas cantoras citadas tiveram e têm uma representatividade muito grande dentro
da MPB e souberam utilizar seus espaços com uma organização temporal incríveis.
Hoje Anitta é a maior cantora do Brasil, segundo especialistas de música mais
antenados do que esse crítico que vos escreve aqui e agora e que você está
lendo-o. Sua grandiosidade artística impera entre aqueles que se sentem
representados por ela e que estão órfãos com tantos acontecimentos em prol da
maior detentora do pódio musical brasileiro: Ivete teve duas filhas, se afastou
da mídia por um tempo, se dedicou à família e o público não consegue ficar
muito tempo sem uma representante oficial, mesmo que essa representante não
tenha sutilezas ao fazer músicas que perdurem vinte ou trinta anos, como uma
Carmen, uma Clara, uma Elis, uma Rita ou uma Daniela. Anitta é a Carmen Miranda
do século XXI, mas seu espelho maior é a sombra da Ivete, só que em tamanho
menor.
Os
truques de Anitta
Por
Marcelo Teixeira