Ótimo disco pós anos 2000 |
O que
esperar do segundo disco de um grupo que surge com um hit fácil que acaba em
superexposição, com aparições em programas de domingo a tarde? Nada? Pois é, eu
cai nessa e quando Los Hermanos, após o sucesso pop e fácil de Ana Júlia, lançou Bloco do Eu sozinho, seu
segundo trabalho lançado em 2001, não dei muita atenção. Eu e a mídia toda, que
ignorou por completo esse disco na época do seu lançamento. Não se ouviu nada
nas rádios (as mesmas que cansaram literalmente de tocar Ana Júlia anos antes) e acabaram rompendo com a gravadora. Tempos
depois, resolvi me libertar do preconceito (confesso), fui até alguma loja e
comprei o disco sem nunca ter escutado nada (motivado pelo elogio que li em
alguma revista confiável). E qual não foi minha surpresa a me deparar com uma
das minhas melhores aquisições naquela época.
Tudo começa com Todo carnaval tem seu fim esbanjando uma
bela nota 10 com um sensacional arranjo de metais de Rodrigo Amarante (a
composição é do Marcelo Camelo). Na sequência, A Flor começa tímida até arrebentar com um ritmo surpreendente e
muito bem trabalhado. Retrato pra Iaiá
vem sonora numa balada mais tranquila. Depois de Assim Será (maravilhosamente destoante) e a poética Casa Pré-fabricada (Cobre a culpa vã... até amanhã eu vou ficar e fazer do seu sorriso um
abrigo), que Roberta Sá gravou anos depois em sua estreia no disco Braseiro,
até surgir outro ponto alto do disco, com a criativa e genial Cadê teu Suin-?, momento de pura
inspiração de Marcelo Camelo.
Depois vem a lindíssima Sentimental, de Rodrigo Amarante,
excelente trilha sonora para um romance, onde o sentimento de rejeição,
acrescida de conselhos sentimentais no telefone quase imperceptível, resulta em
outra música maravilhosamente harmoniosa. Segue-se com Chez Antoine, cujo toque francês não se restringe apenas à letra,
mas ao ritmo semelhante ao um realejo. E seguida, Deixa estar e Mais uma canção,
outra romântica onde os arranjos de metais dão um toque especial. Fingi na hora de rir merece destaque
pelas guitarras distorcidas.
Depois mais um ponto alto do
disco (talvez o maior), com Veja bem meu
bem, canção de letra tão original e bem elaborada que outros grandes
cantores como Maria Rita e Ney Matogrosso resolveram interpretá-la em seus
trabalhos individuais. Posteriormente, demonstrando que um disco homogêneo pode
apresentar diferentes ritmos, Los Hermanos surgem com um som puramente hardcore
- ou seria punk?, com Tão sozinho.
Para concluir essa verdadeira obra-prima, Adeus
Você, sintetizado o tema recorrente que dá uniformidade ao trabalho: pra
que minha vida siga adiante.
Esse disco mudou totalmente
minha opinião com relação ao potencial dos barbudos que fizeram parte de Los
Hermanos. O fim anunciado no ano passado só serviu para minha admiração pelo
grupo fosse maior, pois novamente tiveram a coragem de remar contra a maré no
auge do reconhecimento do trabalho. A questão agora é saber se realmente todo
carnaval realmente tem seu fim? Se tiver, pelo menos deixaram grandes
recordações.
Bloco do Eu Sozinho / Los Hermanos
Nota
10
Marcelo
Teixeira
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