O primeiro disco de Céu: ótimo |
Que a
música brasileira é cheia de grandes cantoras, belas vozes, elegantes,
sensuais, e de muito bom gosto não é novidade. Mas quando uma nova cantora
aparece com repertório novo, banda nova, cara nova, tudo novo, e de muito boa
qualidade é sempre uma delícia. É o caso da cantora Céu, que apareceu com este
disco homônimo de 2004, onde a mistura da tradição, violão, cavaquinho,
pandeiro e percussão típica do samba, com a modernidade de scratches e loops
eletrônicos convive com tamanha suavidade que mal se percebe a inusitada
mistura. Em Lenda, Céu canta
suavemente uma ameaça a príncipe encantado: num
instante você vira sapo. É ela quem manda, e já avisa de saída. O choro Malemolência é executado com scratches
acompanhando cavaquinho, e em Roda
ela adverte de cara que caiu na roda ou
acorda ou vai rodar... Lúcio Maia (da Nação Zumbi) é convidado para tocar
guitarra nesta faixa. Rainha é minha
música predileta, coincidentemente é a única que ela assina sozinha a
composição. A música é levada por um baixo hipnótico que comanda o ritmo da
seção percussiva e o naipe de metais. O refrão em forma de pergunta-resposta é
um primor e na música toda, Céu contrapõe força e suavidade magistralmente.
10
Contados é um lamento acústico (na harmonia, porque o ritmo é recheado
de loops eletrônicos) de saudade, bem-humorado e Céu faz voz e contracanto,
ficou lindo! Segue Mais um Lamento,
de saudade como o anterior, só que mais sóbrio. Neste mais um lamento entre tantos já feitos, Céu é mais mulher que a
criança-adolescente do anterior. Concrete
Jungle é um dos dois covers do disco, e ficou sensacional. Céu mais uma vez
suaviza a Selva de Concreto e a ginga
lenta do reggae fica mais suingada, mais abrasileirada aqui. Lúcio Maia, de
novo, ajuda nas guitarras ao lado parceiro e produtor Beto Villares.
Véu
da Noite é quase um jam session da banda já que o verso da música
é mínimo. Uma concessão justa, já que a música ficou excelente, muito bem
temperada na seção rítmica e com o balanço certo de guitarra, teclado e sopros.
O chorinho Valsa pra Biu Roque vem em
seguida, apresentando um formato mais tradicional só de voz, violão e bandolim.
Ave Cruz é uma queixa, meu deus faça o favor de retornar o
recado... o meu cabelo insiste em
acordar despenteado. Até pra se queixar ela mantém o bom-humor. Essa
aparentemente foi a música de rádio do disco, que apesar da roupagem eletrônica
é um samba.
De João Bosco e Aldir Blanc
vem O Ronco da Cuíca, que ficou
excelente nesta roupagem moderna, mostrando que o caminho que seu som indica
encaixa muito bem na tradição da MPB. O disco termina com o sambinha Bobagem e o delicioso Samba na Sola, um elogio ao povo
brasileiro, antes de uma versão remix de Malemolência.
A foto da capa ilustra o primeiro verso de Bobagem:
minha beleza não é efêmera como o que eu
vejo em bancas por aí... Só essa foto já vale o disco.
Céu
/ Céu
Nota
10
Marcelo
Teixeira
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