misto de tédio e
mistério
meio dia / meio termo
incerto ver nesse
inverno
medo que a noite tem
que o dia acorde mais
cedo
e seja eterno o
amanhecer
(misto de tédio e
mistério – leminski)

E assim segue: o disco todo
desliza como se estivesse numa corda bamba. Os passos são lentos, mas a leveza
e a graça são essenciais na travessia. É assim que eu escuto Lero Lero – a aspereza tratada com fragilidade.
O repertório é cheio de fatos do cotidiano – amor, motoboys, uma pessoa andando
de bicicleta, o mar. É a simplicidade transformada em poesia do dia-a-dia: e
tem um samba ali, uma música eletrônica aqui, uma cuíca lá e uma viola do outro
lado. Luísa Maita em Lero Lero coloca notas musicais na
rotina de São Paulo. As cores aparecem, mesmo na aparente ausência de cor. O
caos gris flutua e se transforma numa viagem.
O som parece artesanal,
saído de um ateliê. Lero Lero é cheio de conversas paralelas, de velocidade, de alegria,
de rastros jamaicanos. Onde é que aquilo
ia dar/ E o medo vinha devagar/ Mas o desejo de sonhar tomava conta lugar. Lero Lero é um pedido de água, de
trégua. É a poesia extraída de uma constelação nova. Supernova.
Lero
Lero / Luísa Maita
Nota
10
Marcelo
Teixeira
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