segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Os mistérios de Luísa Maita


 

misto de tédio e mistério

 

meio dia / meio termo

 

incerto ver nesse inverno

 

medo que a noite tem

 

que o dia acorde mais cedo

 

e seja eterno o amanhecer

 

 

(misto de tédio e mistério – leminski)

 

 

Luísa Maita era um mistério. Lero Lero foi um achado pra mim. Estava em João Pessoa com meu amigo Tom Chagas passeando no shopping sobre um sol de 40 graus quando entrei numa loja de discos e deparei-me logo na entrada com o disco de Luísa. Misto de mistério sem tédio. Uma poesia que só fui desvendar na sacada do apartamento do meu amigo, vendo a bela paisagem de João Pessoa (estado até então desconhecido por mim), com a bela voz de uma cantora que fui conhecer e me apaixonar longe de minha casa. E o disco foi se revelando devagarinho, na paz, como toda música ouvida pela primeira vez merece ser tratada. Abrindo com a sossegada Lero Lero, com voz de algodão acompanhada de um violão de batida marcante, Luísa Maita à vontade canta as coisas invisíveis e indizíveis da amizade. Uma música cantada em códigos. Códigos do olhar, da rua, da intimidade.

E assim segue: o disco todo desliza como se estivesse numa corda bamba. Os passos são lentos, mas a leveza e a graça são essenciais na travessia. É assim que eu escuto Lero Lero – a aspereza tratada com fragilidade. O repertório é cheio de fatos do cotidiano – amor, motoboys, uma pessoa andando de bicicleta, o mar. É a simplicidade transformada em poesia do dia-a-dia: e tem um samba ali, uma música eletrônica aqui, uma cuíca lá e uma viola do outro lado. Luísa Maita em Lero Lero coloca notas musicais na rotina de São Paulo. As cores aparecem, mesmo na aparente ausência de cor. O caos gris flutua e se transforma numa viagem.

O som parece artesanal, saído de um ateliê. Lero Lero é cheio de conversas paralelas, de velocidade, de alegria, de rastros jamaicanos. Onde é que aquilo ia dar/ E o medo vinha devagar/ Mas o desejo de sonhar tomava conta lugar. Lero Lero é um pedido de água, de trégua. É a poesia extraída de uma constelação nova. Supernova.

 

Lero Lero / Luísa Maita

Nota 10

Marcelo Teixeira

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