Sensacional disco de Criolo |
Para
começo de conversa, Criolo (que até pouco tempo era Criolo Doido) disponibiliza
em seu site oficial o disco para baixar gratuitamente (www.criolo.net). Ponto positivo, que demonstra que além de estar
conectado, sabe – talvez melhor do que muita gente por ai – que nos tempos
atuais mais do que tentar inutilmente criar mecanismos para dificultar o
download de suas músicas, o mais importante é utilizar de forma positiva as
mídias atuais para divulgar o trabalho. E funciona, além de demonstrar, mais
uma vez, uma postura simpática perante o público. Só que obviamente o fato de
ter respostas inteligentes e postura simpática perante o público não seria
suficiente para ser incluído nesse blog se tivesse algum disco realmente digno
de nota.
Com a carreira mais
fortemente fixada no rap desde 1989, nesse seu último disco (o segundo de
estúdio) ele optou por misturar gêneros, estilos e instrumentos de forma muito
inteligente e, certamente, isso contribuiu para que tivesse maior
reconhecimento. O disco inicia-se com Bogotá,
uma inteligente letra com um estilo de dificílima definição, levada ao som de
trompete e saxes. Gosto disso. Subirusdoistiozin,
a seguinte, tem uma pegada mais próxima às suas raízes e já tinha sido lançada
anteriormente como single, sendo uma das mais conhecidas de sua carreira.
Pausa para uma balada triste
em Não existe amor em SP, um retrato
belo da sua própria cidade, paradoxalmente dona de uma efervescência cultural e
triste impessoalidade, retratada tão bem na letra dessa canção. A mudança de
ritmos e estilos continua em Mariô,
com uma pegada que lembra sons de umbanda com uma crítica social. Me perdoem os
que conhecem aspectos de umbanda ou se falei besteira aqui, mas foi apenas uma
referência sem nenhum rigor científico implícito nessa definição.
Freguês
da meia-noite é quase um tango com todo o drama inerente
ao estilo, que tem a cidade de São Paulo como palco. Como se não bastasse ser
uma bela canção, tem um clipe excelente, muito bem feito (com qualidade HD) que
vale a pena ver e ouvir. Nova reviravolta com Grajauex, som em que suas raízes do rap retornam com toda força.
Até mesmo eu que não sou muito desse estilo, gostei dessa. Já o histórico de
letras engajadas que combatem as desigualdades está bem presente nas duas
seguintes: Samba Sambei e Sucrilhos.
A penúltima música começa
com um som de violino e viola para entrar com uma letra forte e autobiográfica.
A mistura de estilos ao longo do disco se faz presente em uma só canção em Lion Man, um rap que conta com uma
sonoridade ímpar, sem perder a seu engajamento. Sensacional.
O nó da
tua orelha ainda dói em mim... E Cebolinha mandou avisar... Quando a
"fleguesa" chegar...Muitos pãezinhos há de degustar... O disco
finaliza com um samba muito bem humorado e inteligente em Linha de Frente, trazendo a turma da Monica (aquela mesmo, do
Maurício do Souza) para a rotina da periferia de São Paulo. Faustosa.
Enfim, confesso que demorei
a conhecer o trabalho do Criolo, já que o rap não é muito a minha praia (apesar
de respeitar o estilo). Só resolvi parar e dar atenção ao seu som quando vi, em
rede social, trecho de uma entrevista dele em que dá uma resposta excelente a
uma brincadeira infeliz de fundo homofóbico do apresentador de um programa (que
prefiro nem citar porque o objetivo aqui não é criar polêmica, ao menos não com
este artigo!). Então, deixei o preconceito com o rap de lado, escutei suas
músicas e gostei tanto que virei fã. Como diria o Criolo, Não precisa morrer pra ver Deus... Não precisa sofrer pra saber o que é
melhor pra você.
Nó
na Orelha / Criolo
Nota
10
Marcelo
Teixeira
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