Quatro grandes nomes da MPB juntos |
Eu
nem era nascido quando Miúcha, Tom Jobim, Toquinho e Vinicius de Moraes fizeram
este disco e eu nem pensava em música quando descobri este disco, meio que por
acaso, numa loja qualquer de discos e, quando vi a capa, achei meio estranha,
chata, caricata: uma mulher com três homens de mãos dadas, rindo, felizes, para
uma plateia que não está retratada na foto. Anos depois, entendendo de música,
consegui obter o disco em mãos e confesso: é um dos meus melhores. Melhor ainda
é assisti-los, cada qual ao seu estilo, em DVD que está disponível nas melhores
lojas do ramo. Miúcha é, de quebra, uma das maiores cantoras que este país já
teve e é uma pena que poucos reconheçam isso. O mesmo acontece com Toquinho,
que hoje tem mais fama por ser amigo pessoal do poeta Vinicius de Moraes e não
pela sua rica musicalidade que hoje tenta transpassar às pessoas (no Japão,
Toquinho é, ao lado de Joyce Moreno) o cantor mais executado e conhecido e
admirado por sua música. Trata-se da gravação em 1977 do show no Canecão (casa
de espetáculo famosa no Rio de Janeiro à época), que reuniu quatro gigantes da
bossa nova em um momento de total sintonia, difícil de ocorrer em ocasiões
semelhantes.
Começa em ritmo eletrizante
com Estamos Aí, emendando com a
entrada de Vinícius de Moraes recitando a sensacional Dia da Criação. Confesso que naturalmente sou avesso a poesias em
show de música, mas dessa vez, o poeta acertou totalmente o tom. Em seguida,
partem para uma Tarde em Itapuã,
composição da parceria Toquinho/Vinícius que dispensa apresentação, emendando
com Gente Humilde (Toquinho). Em seguida, duas canções em uma: Carta ao Tom e Carta do Tom, uma espécie de brincadeira entre esses amigos que
retratavam em carta ao distante Tom, como a cidade havia mudado.
O disco segue com um
cantinho e um violão do Tom Jobim interpretando o clássico Corcovado, canção que serviu de inspiração para batizarem,
justamente diga-se de passagem, o aeroporto internacional do Rio de Janeiro de
Maestro Antônio Carlos Jobim, emendando com Wave.
Em seguida, Miúcha entra no palco para dar o toque feminino ao show, com a versão
que se tornou definitiva de Pela Luz dos
Olhos Teus, em interpretação dupla com Tom. No momento certo, o ritmo diminui
com Saia do Caminho e Samba pra Vinícius, mais uma homenagem
de Miúcha e Toquinho ao poeta.
Mesmo com toda a fama, com
toda a Brahma, com toda a cama, com toda a lama, o quarteto segue com Vai Levando, de Chico Buarque e Caetano
(outro dois monstros sagrados que acabaram, dessa forma, também contribuindo
para esse disco). Na sequência, Água de
Beber é outra que dispensa comentários, seguida da mais famosa canção
composta em mesa de bar por amigos inspirados pela beleza de uma garota que
passa. Garota de Ipanema foi eleita a
14ª canção essencial da música brasileira pela revista Bravo e deveria ser matéria obrigatória no ensino fundamental.
Nessa interpretação, há inserções de lembranças do Vinícius da garota vestida
de normalista que olhava e sorria pra eles... por causa do amor...
Depois de Sei lá, mais um momento de pura
inspiração da parceria Toquinho/Vinícius com frases lapidares como a hora do sim é um descuido do não.
Genial. Se você quer ser minha
namorada..., o show segue em um momento romântico com mais uma bela
interpretação da Miúcha com Minha
Namorada. Como se não bastasse, o disco finaliza com Chega de Saudade (eleita 4ª canção essencial da música brasileira
pela Bravo), pois há menos peixinhos a nadar no mar do que os
beijinhos que eu darei na sua boca, complementando com Se todos fossem igual a você e um bis de Estamos Aí. Felizmente, depois de um tempo passei a valorizar esse
disco que hoje ocupa lugar especial na minha prateleira. Tudo isso porque hoje é sábado.
Portanto, se acordássemos em 1977, ainda teriamos a chance de ver quatro monstros sagrados na sua melhor forma de expressão, nos dando de bandeja um grande disco. Ainda teríamos Vinicius vivo (ele morreria em 1980) e ainda teríamos a verdadeira música brasileira mais viva do que nunca.
Tom
/ Vinicius / Toquinho / Miúcha / Gravado ao vivo no Canecão (1977)
Nota
10
Marcelo
Teixeira
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