quinta-feira, 20 de setembro de 2012

O início de Adriana Calcanhotto


 


Enguiço tem a bela voz de Adriana
Muito conhecida hoje por trabalhos autorais, já que nos últimos CDs a maioria das canções são de autoria própria, nesse primeiro disco ela optou por priorizar seu lado intérprete, ainda que também tenha músicas próprias, como Enguiço (que deu nome ao disco) e Mortaes. Embora eu goste muito de suas composições que certamente contribuíram para consolidar sua carreira nesses mais de vinte anos, esse primeiro disco acabou ficando marcado por algumas interpretações de canções de outros músicos, mas que com a voz e arranjos dela, adquiriram vida própria. Depois de iniciar com a citada Enguiço, ao som de uma banda de metais (saxofones, trumpetes, trombones, etc), vem Naquela Estação, bela canção de João Donato, Caetano Veloso e Ronaldo Bastos que tocou muito nas rádios na época e serviu para apresentar Adriana Calcanhoto ao público.

Em seguida, ela transformou completamente a canção do Roberto e Erasmo, Caminhoneiro (cuja original eu particularmente não gostava). Com novo arranjo e uma voz límpida, o resultado ficou muito bom. Em seguida, fez a mesma coisa com Sonífera Ilha, desacelerando completamente a conhecida música dos Titãs, incluindo cordas e empregando à canção um novo sentido. Ao interpretar a canção de Luiz Peixoto e Vicente Paiva feita para Carmen Miranda, quando retornou ao Brasil após sua primeira viagem aos Estados Unidos, Adriana Calcanhoto consegue outro belo resultado para Disseram que voltei americanizada.

Na sequência, Calcanhoto desfila seu Orgulho de um Sambista, de Gilson de Souza numa suave canção de amor de carnaval. Fiel às suas origens (ainda que hoje seja, antes de tudo, uma cantora brasileira), ela ainda inclui no repertório Nunca, de Lupicínio Rodrigues, o mais clássico compositor gaúcho, novamente acompanhada por instrumentos de cordas que valorizam sua voz, embora a canção tenha caído como uma luva na voz de Zizi Possi.

Depois de Pão Doce de Carlos Sandroni, que conta com a participação do também gaúcho Renato Borghetti (Borghettinho) e de Mortaes, a segunda música autoria própria nesse seu primeiro disco, ela finaliza com a bem humorada Injuriado de Eduardo Dusek, acelerando o ritmo, dando boa demonstração de sua versatilidade.

Desde o lançamento desse disco, em 1990, Adriana Calcanhoto (que também desenvolve excelentes trabalhos paralelos como Adriana Partimpim) vem consolidando cada vez mais sua carreira e hoje é, certamente uma das cantoras e compositoras brasileiras mais versáteis. E embora discos posteriores dela possam ser considerados até melhores, Enguiço serviu como cartão de visita de uma intérprete que concilia suavidade com personalidade. Felizmente para nós, ela seguiu atrás de algo impressionante.

 

 

Enguiço / Adriana Calcanhotto

Nota 10

Marcelo Teixeira

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