sexta-feira, 20 de abril de 2012

Quando o Canto é Reza, a homenagem de Roberta Sá a Roque Ferreira




Homenagem à Roque Ferreira
Uma das vozes mais elogiadas da nova geração da MPB, Roberta Sá lançou o CD Quando o Canto é Reza no segundo semestre de 2010. O trabalho é uma parceria com o trio de percussão Madeira Brasil, formado por Marcello Gonçalves, Zé Paulo Becker e Ronaldo do Bandolim. São treze canções de autoria do compositor baiano Roque Ferreira, que já foi gravado por Clara Nunes, Maria Bethânia, Alcione e Zeca Pagodinho. O samba de Roberta Sá tem agora uma cadência e um acompanhamento diferentes. O compasso vem da Bahia e a levada é do afiadíssimo Trio Madeira Brasil. O resultado está neste belíssimo disco, que denota também uma guinada diferenciada no habitual som da cantora natalense radicada no Rio de Janeiro.

Quando o Canto é Reza (2010 / Universal / 25,90) é o mergulho de Roberta e os músicos do Trio Madeira na obra de Roque Ferreira, um compositor e cantador do Recôncavo Baiano, considerado um mestre atual do samba-de-roda. Uma musicalidade onde cabem elementos de coco, ijexá e ritmos afro-brasileiros. Um caldo de referências que resultou no seu trabalho mais vigoroso. Vigor que vem da força de sua poesia e do poder das imagens que ele retrata.

Roque Ferreira, o homenageado
Este disco de Roberta é totalmente diferente dos outros que ela já gravou, como o de estreia, Braseiro, tão rico e tão bonito que já demonstrava que a cantora logo estaria entre as melhores do novo século. Em seguida veio Que Belo Estranho Dia Pra Se Ter Alegria, que veio consolidar sua brilhante carreira, com músicas caprichadas, capa primorosa e voz cristalina. Porém, Quando o Canto é Reza, disco que norteia um novo horizonte na carreira de Roberta, passou praticamente despercebido pelo grande público, embora a crítica tenha aprovado e feito muita divulgação do disco.

Todas as músicas falam do cancioneiro baiano e o clima amistoso nos remete à Bahia de todos os santos, muito cantado por Dorival Caymmi, mas numa outra atmosfera. Aqui, Roberta canta Roque Ferreira em trejeitos e formas cadenciadas num jargão mais intimista e íntima dos santos, do candomblé, da umbanda e do misticismo que somente a Bahia tem e nos proporciona.

Roberta Sá
As músicas do CD parecem rezas, de fato. A começar por Mandingo, que mais parece uma cantiga para receber um santo. Cocada é uma delícia de música, dessas que o refrão gruda em nossa memoria e não sai por nada. A romântica Água da Minha Sede e Água Doce dão a dimensão da capacidade homérica de Roque em fazer canção com sua sapiência e cadência elevadas, desmitificando a alma das rezas. Com essas duas canções, o disco prima por experimentar o sentimentalismo aflorado do compositor e deixando evidente que Roque Ferreira consegue adentrar em nosso coração através de uma boa música.

Tô Fora é a única canção em que o homenageado faz participação vocal e, diga-se de passagem, é uma música maravilhosa e o duo entre Roberta e Roque caiu como uma luva. Dinamismo e respeito mútuo pelo trabalho alheio, Roberta Sá não só entrou definitivamente para o rol das estrelas da MPB, como teve seu carimbo assinado com um grande disco.



Faixas



·       1 – Mandingo (Roque Ferreira / Pedro Luís)

·       2 – Chita Fina (Roque Ferreira)

·       3 – Zambiapungo (Roque Ferreira / Zé Paulo Becker)

·       4 – Cocada (Roque Ferreira)

·       5 – Água da Minha Sede (Roque Ferreira / Dudu Nobre)

·       6 – Orixá de Frente (Roque Ferreira)

·       7 – Água Doce (Roque Ferreira)

·       8 – Menino (Roque Ferreira)

·       9 – Tô Fora (Roque Ferreira)

ü  Part. Especial: Roque Ferreira

ü  10 – Xirê (Roque Ferreira)

ü  11 – Marejada (Roque Ferreira)

ü  12 – A Mão do Amor (Roque Ferreira)

ü  13 – Festejo (Roque Ferreira)

ü  Citação: Samba Pras Moças (Grazielle e Roque Ferreira)



Produção de Pedro Luís



Nota 10


Quando o Canto é Reza / Roberta Sá


Marcelo Teixeira


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