Carioca, de 2006: Chico volta mais intelectual |
Quando
lançou Carioca, Chico Buarque estava tão eufórico e pensativo que
pensou que fosse ter um ataque de nervos. Pudera: desde que colocou no mercado As
Cidades, em 1998, que ele não lançava um disco sequer na praça e os fãs
estavam apreensivos com o novo disco que estava por vir. Carioca veio, surpreendeu
a todos e principalmente a crítica, uma equipe generalizada que estava torcendo rezando para que o
disco fosse um fracasso. E é sempre assim: quando uma pessoa que pensa e faz algo realmente benéfico para alguém, sempre tem um ou outro que mete o bedelho e faz com que a alegria dê lugar a tristeza. É sempre assim, seja em um lugar público ou privado. O disco não foi um fracasso, muito pelo contrário: o
disco foi considerado o melhor lançamento do ano de 2006 e alçou mais uma vez
Chico Buarque ao patamar de melhor letrista de todos os tempos. As músicas de
Carioca entraram para o imaginário das pessoas e muitas canções foram parar em
discos de outros cantores, como os de Ney Matogrosso e Elza Soares.
Carioca
(2006 / Biscoito Fino / 34,99) realmente é um excelente disco. Com músicas
distintas de outros discos do cantor, o álbum tem um talento merecidamente
destacado por canções que realça ainda mais sua intelectualidade e sua forma de
compor, dando uma dimensão do tamanho da importância dele na música popular
brasileira. São doze faixas, todas compostas por Chico Buarque e algumas em
parcerias com Ivan Lins, Carlinhos Vergueiro e Jorge Helder. Músicas que
inspiram toda uma vida, este disco merece destaque pelo simples fato de ser um
disco a altura de um grande compositor, que voltou com força total após o
sucesso de As Cidades.
O álbum abre com Subúrbio, que faz uma justa homenagem ao
Rio de Janeiro, cidade natal do cantor e que tem em sua letra refrãos que
grudam e martelam durante muito tempo no nosso imaginário. Um choro-canção
afinado e suave em que Chico parece sobrevoar a cidade. Fica difícil acreditar
que um certo Chico Buarque de Hollanda fale palavrões, mas nesta faixa
exclusivamente sim, ele fala palavrões, que passa desapercebido e até mesmo
irônico e engraçado ao mesmo tempo. Outros
Sonhos parece até ser uma continuação de Sonhos, Sonhos São, do disco As Cidades, mas com um teor e uma
mensagem diferente, onde mostra Chico cantando em espanhol em alguns refrãos. Ode Aos Ratos é uma música composta em
2001 com Edu Lobo e que fora composta especialmente para o espetáculo Cambaio,
de Adriana Falcão e João Falcão e a particularidade desta canção é a faixa Embolada, que foi acrescentada apenas na
versão para o disco (não no musical). Essa música mais tarde foi regravada por
Ney Matogrosso no excelente disco Inclassificáveis.
Ode aos Ratos revela o quanto a podridão está refletida nas pessoas, dentro das pessoas, com seus cabelos pintados e suas risadas falsas. Este mundo a qual pertenceu Chico Buarque está refletida nessa canção, em que abre os braços para uma nova equipe, sendo recebida de braços abertos, sem os clichês de personas non grata em sua vida. Ratos, muitos deles, fizeram parte de sua vida e hoje liberto, a canção cai como uma luva em Carioca.
Ode aos Ratos revela o quanto a podridão está refletida nas pessoas, dentro das pessoas, com seus cabelos pintados e suas risadas falsas. Este mundo a qual pertenceu Chico Buarque está refletida nessa canção, em que abre os braços para uma nova equipe, sendo recebida de braços abertos, sem os clichês de personas non grata em sua vida. Ratos, muitos deles, fizeram parte de sua vida e hoje liberto, a canção cai como uma luva em Carioca.
Dura
Na Queda foi composta em 2000 e foi composta especialmente para
Elza Soares, que foi cantada e gravada no disco Do Cóccix até o Pescoço,
elogiado pela crítica e público e com um artigo aqui no Mais Cultura!. A canção
seria incluída no disco As Cidades, mas acabou ficando de
fora. Esta música recebeu o subtítulo de Ela
Desatinou Número 2, porque é uma continuação de Ela Desatinou, gravada no disco Chico Buarque de Hollanda Volume
3 (1968). Porque Era Ela, Porque
Era Eu é uma música tão linda e apaixonante, que demonstra todo o
sentimentalismo de Chico com relação ao amor. Assim como já homenageou os
jogadores de futebol, os cantores de cabaré e até as aeromoças em músicas, As Atrizes é perfeita e faz de Chico um
homem exemplar homenageando esta profissão com tamanho requinte. A música já
foi tema até de um especial que uma emissora de televisão colocou no ar em
homenagem ao cantor. Assim como Ela Faz
Cinema, que também inspira-se no mundo das telas, a canção é tão bonita e
caprichada, que fica impossível não dizer que Chico é um gênio.
Renata
Maria, primeira parceria com Ivan Lins, foi composta em 2005
para o disco de Leila Pinheiro de inéditas daquele mesmo ano, mas que na
verdade virou uma ponta de interrogação na vida do cantor. Dizem as más línguas
que a canção foi feita especialmente para uma mulher, a nova namorada de Chico
(que estava conhecendo realmente uma moça muito bonita) e cujo os fotógrafos
flagraram o cantor saindo da praia carioca com uma mulher, a tal Renata Maria.
Nunca foi confirmado nada sobre esta tal moça e nunca se soube se esta moça
chamava Renata Maria, mas o fato é que Chico estava separado de Marieta Severo,
sua esposa por mais de trinta anos e mãe de suas filhas e o pivô foi esta
mulher misteriosa.
Leve foi
composta juntamente com Carlinhos Vergueiro, antigo amigo do cantor e que foi
inclusa no disco que Dora Vergueiro lançou em 1997, cujo é um bolero sobre a
efemeridade do verão e seus amores. Sempre
é uma canção romântica e que foi tema do filme de Cacá Diegues, O Maior Amor do Mundo. Despojadamente
amorosa, a música se torna um achado e tanto para a carreira do cantor. Imagina conta com a participação de
Mônica Salmaso, cujo é a queridinha do cantor. Esta música é, certamente, uma
das mais lindas do mundo. Originalmente apenas instrumental e chamada Valsa Sentimental, ela foi feita muito
antes por Tom Jobim em 1983 foi letrada por Chico para a trilha sonora do filme
Para Viver Um Grande Amor, do
cineasta Miguel Faria Junior. A parceria entre Mônica e Chico saiu tão
cristalina e perfeita, que parece que a canção foi feita para os dois cantarem.
Oito anos separaram As
Cidades de Carioca. Aos sessenta e dois anos, o velho e bom Chico Buarque
nos presenteia com um disco maravilhoso, sendo este o quinquagésimo nono de sua
carreira. Chico é popular e sofisticado. Criativo e humano. Cantor e
compositor. Mas o resultado é nítido: uma capa perfeita, mostrando a cidade
carioca estampada sobre o rosto de Chico, músicas de alta qualidade e um Chico
Buarque destoando o que havia de melhor em sua intelectualidade. Além de ter
uma aura crepuscular, Carioca é, definitivamente, um dos
melhores discos do cantor e do ano de 2006.
Faixas
· 1 – Subúrbio (Chico Buarque)
· 2 – Outros Sonhos (Chico Buarque)
· 3 – Ode Aos Ratos (Chico Buarque / Edu
Lobo)
· 4 – Dura Na Queda (Chico Buarque)
· 5 – Porque Era Ela, Porque Era Eu (Chico
Buarque)
· 6 – As Atrizes (Chico Buarque)
· 7 – Ela Faz Cinema (Chico Buarque)
· 8 – Bolero Blues (Chico Buarque / Jorge
Hélder)
· 9 – Renata Maria (Chico Buarque)
· 10 – Leve (Chico Buarque / Carlinhos
Vergueiro)
· 11 – Sempre (Chico Buarque)
· 12 – Imagina (Chico Buarque / Tom Jobim)
ü Part. Especial: Mônica Salmaso
Nota
Dez
Carioca
/ Chico Buarque
Marcelo
Teixeira
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