Livro, lançado em 1997: intelectual e hermético |
Se o disco Livro
(1997 / Polygran / 29,99) de Caetano Veloso, contasse apenas com as faixas Livros e Não Enche, o disco já seria uma obra prima do cantor, dessas
músicas que grudam em nossa memória e não são, em hipótese alguma, composições
de conteúdo chulo. Díspares no contexto e na sonorização, Livros trás o lirismo e a poesia que Caetano sempre almeja em
várias músicas ditas intelectualizadas de sua autoria, enquanto Não Enche é a mensagem mais desumana e
descaracterizada para que uma mulher saía do pé de seu homem, o deixando viver
em paz. Mas o álbum é muito mais do que isso. Beleza, sofisticação, dedicação e
palavras embutidas em frases difíceis fazem deste merecido disco um achado e
tanto para a carreira do cantor como para ouvintes tão carentes de boa música.
Não foi a toa que Caetano Veloso ganhou, no ano 2000, o Grammy como melhor
álbum por este elogiado trabalho. E não é a toa também que o baiano de Santo
Amaro da Purificação, filho de Dona Canô, mereceu destaque por este disco.
O disco tem suas
particularidades extras. A Língua Portuguesa aqui expressada é de uma riqueza
profunda e enigmática, tão enigmática, que algumas músicas são complicadas de
cantar, caso de Os Passistas, que
abre o disco. Livros, a faixa título
e a mais sublime do álbum, também é meio complicada de assimilar à primeira
audição, mas com o tempo ela penetra em nossos poros como uma avalanche de
sentimentos. A música retrata o carinho que Caetano tem para com os livros, na
sua forma geométrica e original e o resultado ficou perfeito.
Caetano Veloso: ele ganhou o Grammy |
Exceto por How Beautiful Could A Being Be (Moreno
Veloso), O Navio Negreiro (Castro
Alves) e Na Baixa Do Sapateiro (Ary
Barroso), todas as outras faixas são de autoria de Caetano. O amor, o sentimento aflorado pelas palavras
e o sentimentalismo profundo pela Bahia estão aqui retratadas na sua
singularidade mais preenchida e sonora. E por homenagear os livros, Caetano
Veloso complicou ainda mais a língua em versos e na forma de cantar. Isso não é
nenhuma novidade na carreira do cantor, que adora inventar palavras ou
expressá-las numa forma mais contundente e não podemos esquecer que músicas
como Outras Palavras (quando a
palavra computador ainda era um tabu e praticamente não falada) ou Língua, já foram cantada com maestria
num jogo dificílimo de palavras.
Em Livro, ele volta a
dificultar a vida das pessoas em músicas como Alexandre, cujo ajuda a contar a história do rei que transformou a
Macedônia e conquistou o Egito e a Pérsia ou na canção Não Enche, cujo canta com rapidez palavras pouco comuns no dia a dia.
Mas nem de palavras difíceis vive o disco e como prova disso Caetano impera o
amor com a romântica e sensata Você é
Minha (quase uma alusão a Você é
Linda), Minha Voz, Minha Vida ou
na homenagem que fez a sua Bahia em Onde
o Rio é Mais Baiano.
As homenagens não param por
ai. Manhatã ele compôs especialmente
para Lulu Santos, Um Tom para Tom
Jobim e na derradeira homenageou seu grande inspirador João Gilberto em Pra Ninguém, onde Caetano faz uma justa
homenagem aos grandes cantores, de Nana Caymmi a Marisa Monte, passando por
Elisete Cardoso e até sua melhor amiga Gal Costa e sua irmã Maria Bethânia.
As participações especiais
ficaram por conta da própria irmã, Maria Bethânia e de Carlinhos Brown, que
juntos fizeram uma gravação emocionante na canção O Navio Negreiro, uma releitura de Castro Alves, aonde Caetano, na
sua forma mais ousada, incluiu ai um domínio público muito popular na Bahia,
chamado Que Navio é Esse...
Com este belo disco, Caetano
Veloso não precisa provar mais nada como musico ou como artista, pois sua
criatividade está comprovada neste espetacular Livro. E como já cantou
Adriana Calcanhotto em uma música de sua autoria, Vamos Comer Caetano. Vamos revelarmo-nus.
Faixas
· 1 – Os Passistas (Caetano Veloso)
· 2- Livros (Caetano Veloso)
· 3 – Onde o Rio é Mais Baiano (Caetano
Veloso)
· 4 – Manhatã (Caetano Veloso
· 5 – Doideca (Caetano Veloso)
· 6 – Você é Minha (Caetano Veloso)
· 7 – Um Tom (Caetano Veloso)
·
8 – How Beautiful Could A Being Be (Moreno Veloso)
· 9 – O Navio Negreiro (Castro Alves)
ü Part: Maria Bethânia e Carlinhos Brown
· 10 – Não Enche (Caetano Veloso)
· 11 – Minha Voz, Minha Vida (Caetano
Veloso)
· 12 – Alexandre (Caetano Veloso)
· 13 – Na Baixa do Sapateiro (Ary Barroso)
· 14 – Pra Ninguém (Caetano Veloso)
Produzido
por Jaques Morelenbaum e Caetano Veloso
Nota
10
Livro
/ Caetano Veloso
Marcelo
Teixeira
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