terça-feira, 10 de abril de 2012

Karina Buhr: surpresa nordestina





Karina Buhr: revelação nordestina
Karina Buhr é aquilo que ela canta. Não me ame tanto / Eu tenho algum problema com amor demais / Eu jogo tudo no lixo sempre / Não me ame tanto / Não posso suportar um amor que é mais do que / O que eu sinto por dentro / Penso, garante a cantora e compositora baiana Karina Buhr, na contagiante Não me ame tanto. Mas como não se apaixonar por essa artista que passou boa parte da vida em Pernambuco, convivendo com as pastoras, o cavalo marinho e o maracatu? Afinal, ela possui a ousadia de quem aposta nos próprios versos, dialoga com o que há de melhor na música brasileira e aposta no experimentalismo.

 Ex-integrante do grupo Comadre Fulozinha, Karina Buhr já havia deixado parte da crítica especializada de queixo caído ao estrear com Eu Menti Pra Você (2010). Porém, ela chega ainda mais forte e amadurecida ao segundo álbum, Longe de Onde, onde é autora de todas as faixas e se faz acompanhar por ótimos músicos como o baterista Bruno Buarque e o baixista Mau, que produziram o álbum com ela; o tecladista André Lima, o trompetista Guizado e os guitarristas Edgard Scandurra e Fernando Catatau. Ela segue à risca o que o compositor Itamar Assumpção lhe disse um dia: “A música brasileira tem muitos melodistas populares. Luiz Gonzaga, Monsueto, Cartola, Lupicínio, Adoniran, as melodias são eternas, então se você diz que está na tal MPB tem que prestar atenção nisso, ser diferente é o mínimo!”.

Realmente, Karina Buhr é diferente, o que fica mais do que comprovado em Sem Fazer Ideia, onde recita os versos da canção, sendo acompanhada por uma sonoridade que remete às antigas fanfarras nordestinas. Em seguida, ela emenda com a doce Pra Ser Romântica, que possui certo toque do início do rock brasileiro, da época da Jovem Guarda: Nem ia imaginar / O sol, como você está / Nesse dia, esse viaduto lindo / Como calendário de verão / Do mês que a gente está / Na cidade que continua linda. Para completar com uma canção ensolarada, que remete de certo modo à Gal Costa e possui o título Cadáver – maior contraste impossível: Sua dúvida é produto da sua escravidão / Mantenha então / Sua sanidade em defesa do seu estômago.

O segundo disco: sonoridade diferente
Longe de Onde (2011 / Sony Dact / 19,99) começou a ser divulgado com o videoclipe da ótima Cara Palavra, em que Karina Buhr brinca com as palavras, remetendo aos poetas concretos: Cada fala / Cada palavra cala / E ganha um signovosignificado para mim / Desperta dor / Apaga dor / Vai embora / Fica / Meu amor. Essa é a canção que abre o álbum e tem continuidade com A Pessoa Morre, no caso, de tanto verbo. A temática da morte retorna em Copo de Veneno, cujos versos ganham certa candura na voz da artista: Não tenho medo de morrer / Pelos mesmos venenos / Por favor me dê um copo de veneno / Pelo menos / Com duas pedrinhas de gelo, / Pelo meio. No final, com boa pegada psicodélica, Karina desabafa: A cada pedaço meu que se vai / Um pouco do medo sai / E o que fica às vezes me atrai suficientemente / Pra acordar e depois dormir / Às vezes não / Não precisa me procurar mais não.

Assemelho Karina Buhr a Rebeca Matta, cantora baiana que mescla ritmos e estilos diferentes, mas com um particularidade extrema: Karina Buhr realmente é diferente. Karina Buhr é Recife e é São Paulo, Fortaleza, Salvador… Consistência artística e originalidade em alto grau. Além deste post e de qualquer explicação. Nada como sentir.



Nota 8

Longe de Onde / Karina Buhr

Marcelo Teixeira




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