sexta-feira, 15 de março de 2013

Respirar, de Patrícia Marx


O belo disco de Patrícia
Leve e relax como o ato de respirar - por isso mesmo, cai bem o título - é este disco de Patrícia Marx, ex-cantora infantil, ex-musa teen da bossa nova e ex-militante dance (frustrada). A moça agora adere ao crescente número de novos artistas que buscar esticar os horizontes da MPB via eletrônica. Se pensarmos menos na proposta e mais no conteúdo concreto do álbum (música pop agradável e cool, descontando as expectativas alheias e as pretensões), fica mais fácil de gostar da nova face de Patrícia. É bom notar que a moça não empaca na macumba pra turista e um surpreendente trabalho de pesquisa musical, demonstrando um amplo escopo de influências - que vão da bossa nova ao samba-jazz, tudo se encontrando em suas composições. Com este bem-vindo molho dando base às canções (e aí também cabem elogios à voz de Patrícia, que agora sabe tanto cantar quanto ficar nas ditas intervenções vocais), a produção moderninha de Bruno E. soa oportuna e inteligente. O que há de melhor em Respirar é a nítida noção de que Patrícia investe primeiro em sua música, e depois no possível verniz eletrônico-modernizador.

Patrícia Marx lançou o disco Respirar, pela Trama em 2001 e até hoje, passados mais de dez anos, o álbum permanece maravilhoso de se ouvir e parece que foi produzido ontem. O álbum traz a tona a faceta eletrônica de Patrícia. Além disso, a cantora aparece pela primeira vez como compositora (apenas uma das 12 faixas não leva assinatura sua, o que dá ao disco o status de autoral) e também como produtora - função dividida com Bruno (produtor-marido), e também a participação dos produtores ingleses 4hero, considerados como um dos mais influentes produtores da música eletrônica européia. A participação do grupo marca o segundo capítulo da história de uma associação iniciada há cinco anos, quando Patrícia foi convidada para ir a Londres cantar no disco deles - o Creating Patterns.

Dito isso, a galera que aplaudiu as incursões feitas por Patife e Marky no reino da braziltronica terá tudo para gostar e muito do disco. A sonoridade básica é o tal do broken beat, versão ainda mais atmosférica e melódica do trip hop popularizado por Tricky e Portishead. Aos mais colonizados, o grande petisco de Respirar são as duas faixas produzidas pelo duo inglês 4Hero, atuais papas do drum'n'bass. E realmente Dona Música (que ganha em suingue pela presença de Wilson Simoninha) e Submerso estão entre os melhores achados do disco - não apenas pelos crispados sons sampleados pelo 4Hero, mas também pelas melodias envolventes, a um passo da sensualidade.

Tiros mais certeiros ainda dados pela Patrícia melodista estão em Recomeçar e Desamor. Quando chega a hora de fechar o disco com ...E o Meu Amor Vi Passar (bossa nova envenenada por João Parayhba, do Trio Mocotó), e sua delicada, charmosa levada, já não há mais dúvidas sobre o talento de Patrícia. Ou sobre sua capacidade de sedução. Respirar demonstra o quanto Patrícia Marx cresceu. E apareceu.

 

Respirar / Patrícia Marx

Nota 10

Marcelo Teixeira

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