O belo disco de Patrícia |
Leve
e relax como o ato de respirar - por isso mesmo, cai bem o título - é este
disco de Patrícia Marx, ex-cantora infantil, ex-musa teen da bossa nova e
ex-militante dance (frustrada). A moça agora adere ao crescente número de novos
artistas que buscar esticar os horizontes da MPB via eletrônica. Se pensarmos
menos na proposta e mais no conteúdo concreto do álbum (música pop agradável e
cool, descontando as expectativas alheias e as pretensões), fica mais fácil de
gostar da nova face de Patrícia. É bom notar que a moça não empaca na macumba
pra turista e um surpreendente trabalho de pesquisa musical, demonstrando um
amplo escopo de influências - que vão da bossa nova ao samba-jazz, tudo se
encontrando em suas composições. Com este bem-vindo molho dando base às canções
(e aí também cabem elogios à voz de Patrícia, que agora sabe tanto cantar
quanto ficar nas ditas intervenções vocais), a produção moderninha de Bruno E.
soa oportuna e inteligente. O que há de melhor em Respirar é a nítida noção
de que Patrícia investe primeiro em sua música, e depois no possível verniz
eletrônico-modernizador.
Patrícia Marx lançou o disco
Respirar, pela Trama em 2001 e até hoje, passados mais de dez anos, o álbum
permanece maravilhoso de se ouvir e parece que foi produzido ontem. O álbum
traz a tona a faceta eletrônica de Patrícia. Além disso, a cantora aparece pela
primeira vez como compositora (apenas uma das 12 faixas não leva assinatura
sua, o que dá ao disco o status de autoral) e também como produtora - função
dividida com Bruno (produtor-marido), e também a participação dos produtores
ingleses 4hero, considerados como um dos mais influentes produtores da música
eletrônica européia. A participação do grupo marca o segundo capítulo da
história de uma associação iniciada há cinco anos, quando Patrícia foi
convidada para ir a Londres cantar no disco deles - o Creating Patterns.
Dito isso, a galera que
aplaudiu as incursões feitas por Patife e Marky no reino da braziltronica terá
tudo para gostar e muito do disco. A sonoridade básica é o tal do broken beat,
versão ainda mais atmosférica e melódica do trip hop popularizado por Tricky e
Portishead. Aos mais colonizados, o grande petisco de Respirar são as duas
faixas produzidas pelo duo inglês 4Hero, atuais papas do drum'n'bass. E
realmente Dona Música (que ganha em
suingue pela presença de Wilson Simoninha) e Submerso estão entre os melhores achados do disco - não apenas
pelos crispados sons sampleados pelo 4Hero, mas também pelas melodias
envolventes, a um passo da sensualidade.
Tiros mais certeiros ainda
dados pela Patrícia melodista estão em Recomeçar
e Desamor. Quando chega a hora de
fechar o disco com ...E o Meu Amor Vi
Passar (bossa nova envenenada por João Parayhba, do Trio Mocotó), e sua
delicada, charmosa levada, já não há mais dúvidas sobre o talento de Patrícia.
Ou sobre sua capacidade de sedução. Respirar demonstra o quanto Patrícia
Marx cresceu. E apareceu.
Respirar / Patrícia Marx
Nota 10
Marcelo Teixeira
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