O bem vindo disco de Karla |
Antes
de ler este artigo, eu aconselharia ouvir o CD Amor Canalha, de Karla
Sabah, para que você vá se familiarizando com as frases abaixo. O disco é de
uma perfeição única, capaz de traduzir todo o sentimentalismo aflorado que a
cantora tenta transpassar e deixar derramar cada sensação de prazer emaranhado
de suas entranhas. A começar pela capa, que traz a cantora em tons fortes de
maquiagem e batom e serve de inspiração para muitas das faixas do maravilhoso
álbum. Através de lugares-comuns, podemos ter a nítida certeza de que Karla
Sabah acertou ao lançar um disco como Amor Canalha em pleno século 21, pois é
um disco feminino, mas com traços masculinos e com reitoria e disciplina
lideradas por uma voz pomposa e madura.
Para começo de conversa:
este é um álbum musical feito de mulher para mulheres, destas que sentem saudades;
apaixonam-se sem pensar nas consequências de uma entrega total, fazem cenas de
ciúmes, debocham, discutem; amam sem juízo ou preconceitos e ainda mostram alta
competência no mercado de trabalho pra homem nenhum por defeito!
Conceitualmente, o feminismo politizado do século passado foi reciclado para
atender às demandas sentimentais do terceiro milênio, na via da independência
econômica e das capacidades da Inteligência Emocional Feminina, mais ou menos
como foi conceitualmente trabalhado no bem sucedido seriado Sex in the City. A
ideia feminista que perpassa toda a concepção do novo álbum de Karla Sahah fala
de tristeza sem curtir fossa e de alegria sem histeria, algo que está sendo
chamado de elegância emocional.
Vou dar um tempo é a solução pra mim
Não quebrou a cara
Não vou mais me entregar a esse amor
canalha
(Trecho de Amor
Canalha, de Karla Sabah)
Neste quarto trabalho solo,
além do indiscutível amadurecimento profissional na colocação da voz, Karla
assume todas as responsabilidades da produção executiva; desenha o conceito
artístico e seleciona um repertório montado como quem edita, capítulo a
capítulo, um livro de poesias (habilidade que já lhe rendeu prêmio de prestígio
da ABL e lhe deu segurança para assinar algumas letras como Amor Canalha, Click No Meu Link e Já É, entre outras).
...é: Karla sabe que é
chegado o tempo das musas responderem às serenatas de seus cantores e amantes
(tanto que é neles que ela vai buscar versos e, sem afeminá-los, dar-lhes uma
nova potência na voz feminina, a mesma que a Grécia antiga nunca permitiu, em
cena, nas suas clássicas tragédias) e olha que essas novas mulheres não têm
papas na língua nem deixam de ser dengosas e sedutoras. Mais do que em tempo
integral, essa nova mulher que a artista busca no meio em que vive e dentro de
si mesma, é uma mulher em tempo real.
Contando com o indiscutível
talento do Black Rio, William Magalhães, produtor musical deste AMOR
CANALHA (com o qual já trabalhara antes, no álbum drum'n bossa CD e
DVD, lançados na América do Sul, Ásia e Europa com ótimas críticas), sem abusar
do conceito pós-moderno que sustenta a ideia de globalização, Karla, neste
processo realizado, sem dúvida, executou seu melhor trabalho de nível
internacional.
Atentem para o sofisticado
ambient-mood criado para embalar e dar unidade a todas canções selecionadas.
Percebam como o balanço pop dos arranjos multimidiados dão ao samba uma sutileza
que só encontra par no melhor da Soul Music, com um suingue intimista que faz o
funk aprender os carinhos que a Bossa Nova inventou para conquistar o mundo.
Com essa cama sonora de delicadezas precisas,
ficou tranquilo atualizar desde os antigos sambas (Não Me Quebro À Toa, Minha e Mulher Que Não Dá Samba) ao pop rock
do Ultraje (Volta Comigo e Zoraide), o Yê-Yê-Yê da Jovem Guarda e o
Tropicalismo de Caetano e Torquato Neto (Pra
Ser Só Minha Mulher, Baby e Mamãe
Coragem).
...tudo isso, com um humor que lhe é peculiar
na essência de sua personalidade, é o que Karla pretende realizar em seus
próximos shows, baseado neste álbum interessantíssimo; onde, junto com um set
musical minimalista (bem ao estilo com que William Magalhães imprimiu ao
álbum), ainda poderão estar em cena o melhor da poesia contemporânea, na voz de
mulheres que tratam a poesia como ela sempre quis ser tratada e poetas que
tratam suas musas com a delicadeza de quem as considera, lindas, deliciosas e
insuperáveis, show performance, com os vídeos (só ela já dirigiu 15 DVDs de
grandes artistas, tem mais de 20 filmes em 16mm e 35mm, participando de
festivais nacionais e internacionais), performances e muito mais. Um show de
verdade, cheio de humor e criatividade.
... de uma coisa, quem escutar este disco ou
assistir a este show (que um DVD certamente registrará), terá absoluta certeza:
a mulher que ela veste, com o homem, não compete; mas o leva a perceber que,
nesta mesa de bilhar, ela agora é a branca: não é mais a bola 7!
Texto
enviado e escrito por Tavinho Paes para o Mais Cultura!
Texto
inicial: Marcelo Teixeira
Amor
Canalha, de Karla Sabah
Nota
10
Marcelo
Teixeira
Um comentário:
Demais ! Karla Sabah está maravilhosa, assim como seu novo disco. Estive no show que rolou em outubro no Teatro Rival e foi sensacional ! Recomendadíssimo ! Amor Canalha é um arraso geral. Quero ouvir JÁ É - a faixa que mais gostei - nas Rádios, sei que tá rolando em Brasilia... Alô programadores JÁ É aposto, é hit ! Viva Karla, parabéns pelo belissimo trabalho e parabens também pelo maravilhoso texto publicado pelo Mais Cultura ! Abraços do seu admirador secreto
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