terça-feira, 19 de março de 2013

Amor Canalha, de Karla Sabah


O bem vindo disco de Karla
Antes de ler este artigo, eu aconselharia ouvir o CD Amor Canalha, de Karla Sabah, para que você vá se familiarizando com as frases abaixo. O disco é de uma perfeição única, capaz de traduzir todo o sentimentalismo aflorado que a cantora tenta transpassar e deixar derramar cada sensação de prazer emaranhado de suas entranhas. A começar pela capa, que traz a cantora em tons fortes de maquiagem e batom e serve de inspiração para muitas das faixas do maravilhoso álbum. Através de lugares-comuns, podemos ter a nítida certeza de que Karla Sabah acertou ao lançar um disco como Amor Canalha em pleno século 21, pois é um disco feminino, mas com traços masculinos e com reitoria e disciplina lideradas por uma voz pomposa e madura.

Para começo de conversa: este é um álbum musical feito de mulher para mulheres, destas que sentem saudades; apaixonam-se sem pensar nas consequências de uma entrega total, fazem cenas de ciúmes, debocham, discutem; amam sem juízo ou preconceitos e ainda mostram alta competência no mercado de trabalho pra homem nenhum por defeito! Conceitualmente, o feminismo politizado do século passado foi reciclado para atender às demandas sentimentais do terceiro milênio, na via da independência econômica e das capacidades da Inteligência Emocional Feminina, mais ou menos como foi conceitualmente trabalhado no bem sucedido seriado Sex in the City. A ideia feminista que perpassa toda a concepção do novo álbum de Karla Sahah fala de tristeza sem curtir fossa e de alegria sem histeria, algo que está sendo chamado de elegância emocional.

 

Vou dar um tempo é a solução pra mim

Não quebrou a cara

Não vou mais me entregar a esse amor canalha

(Trecho de Amor Canalha, de Karla Sabah)

 

Neste quarto trabalho solo, além do indiscutível amadurecimento profissional na colocação da voz, Karla assume todas as responsabilidades da produção executiva; desenha o conceito artístico e seleciona um repertório montado como quem edita, capítulo a capítulo, um livro de poesias (habilidade que já lhe rendeu prêmio de prestígio da ABL e lhe deu segurança para assinar algumas letras como Amor Canalha, Click No Meu Link e Já É, entre outras).

...é: Karla sabe que é chegado o tempo das musas responderem às serenatas de seus cantores e amantes (tanto que é neles que ela vai buscar versos e, sem afeminá-los, dar-lhes uma nova potência na voz feminina, a mesma que a Grécia antiga nunca permitiu, em cena, nas suas clássicas tragédias) e olha que essas novas mulheres não têm papas na língua nem deixam de ser dengosas e sedutoras. Mais do que em tempo integral, essa nova mulher que a artista busca no meio em que vive e dentro de si mesma, é uma mulher em tempo real.

Contando com o indiscutível talento do Black Rio, William Magalhães, produtor musical deste AMOR CANALHA (com o qual já trabalhara antes, no álbum drum'n bossa CD e DVD, lançados na América do Sul, Ásia e Europa com ótimas críticas), sem abusar do conceito pós-moderno que sustenta a ideia de globalização, Karla, neste processo realizado, sem dúvida, executou seu melhor trabalho de nível internacional.

Atentem para o sofisticado ambient-mood criado para embalar e dar unidade a todas canções selecionadas. Percebam como o balanço pop dos arranjos multimidiados dão ao samba uma sutileza que só encontra par no melhor da Soul Music, com um suingue intimista que faz o funk aprender os carinhos que a Bossa Nova inventou para conquistar o mundo.

Com essa cama sonora de delicadezas precisas, ficou tranquilo atualizar desde os antigos sambas (Não Me Quebro À Toa, Minha e Mulher Que Não Dá Samba) ao pop rock do Ultraje (Volta Comigo e Zoraide), o Yê-Yê-Yê da Jovem Guarda e o Tropicalismo de Caetano e Torquato Neto (Pra Ser Só Minha Mulher, Baby e Mamãe Coragem).

 ...tudo isso, com um humor que lhe é peculiar na essência de sua personalidade, é o que Karla pretende realizar em seus próximos shows, baseado neste álbum interessantíssimo; onde, junto com um set musical minimalista (bem ao estilo com que William Magalhães imprimiu ao álbum), ainda poderão estar em cena o melhor da poesia contemporânea, na voz de mulheres que tratam a poesia como ela sempre quis ser tratada e poetas que tratam suas musas com a delicadeza de quem as considera, lindas, deliciosas e insuperáveis, show performance, com os vídeos (só ela já dirigiu 15 DVDs de grandes artistas, tem mais de 20 filmes em 16mm e 35mm, participando de festivais nacionais e internacionais), performances e muito mais. Um show de verdade, cheio de humor e criatividade.

 ... de uma coisa, quem escutar este disco ou assistir a este show (que um DVD certamente registrará), terá absoluta certeza: a mulher que ela veste, com o homem, não compete; mas o leva a perceber que, nesta mesa de bilhar, ela agora é a branca: não é mais a bola 7!

 

Texto enviado e escrito por Tavinho Paes para o Mais Cultura!

Texto inicial: Marcelo Teixeira

Amor Canalha, de Karla Sabah

Nota 10

Marcelo Teixeira

Um comentário:

Anônimo disse...

Demais ! Karla Sabah está maravilhosa, assim como seu novo disco. Estive no show que rolou em outubro no Teatro Rival e foi sensacional ! Recomendadíssimo ! Amor Canalha é um arraso geral. Quero ouvir JÁ É - a faixa que mais gostei - nas Rádios, sei que tá rolando em Brasilia... Alô programadores JÁ É aposto, é hit ! Viva Karla, parabéns pelo belissimo trabalho e parabens também pelo maravilhoso texto publicado pelo Mais Cultura ! Abraços do seu admirador secreto