terça-feira, 27 de março de 2012

Valéria Sattamini: grata surpresa carioca

Samba Blim, de 2003: ótimas regravações
Valéria Sattamini é uma cantora carioca e que lançou apenas um único e belo disco. Sua voz é suave, doce e cristalina. Seu disco é recheado com o velho e bom samba rock ao estilo de Jorge Benjor e se iguala ao estilo de Paula Lima (embora Paula seja mais sofisticada neste segmento). Valéria utiliza o pop moderninho e o samba menos cadenciado para levar ao público um disco com regravações à altura de uma grande interprete e que consegue captar com extrema convicção o brilho de um tempo em que fazer música era sinal de respeito e responsabilidade.

Valéria Sattamini, dizem as boas línguas, é sobrinha do multi artista Nelson Motta e ainda é muito pouco conhecida no cenário musical. O primeiro CD da cantora Valeria Sattamini relembra balanços já conhecidos de Benjor como O homem da gravata florida e Agora ninguém chora mais, Novos Baianos com a música Swing de Campo Grande, Moacir Santos na sua mais alta formosura com Nanã e até resgatando o esquecido Orlan Divo comTamanco no samba, de onde foi tirado o título do CD.

Samba Blim (2003 / Fibra Records / 21,99) é um belíssimo trabalho da cantora carioca que mostra um repertório com um toque contemporâneo, resultando num álbum com o melhor do sambalanço, ritmo muito divulgado por Jorge Benjor. No disco também há um quê de Wilson Simonal, misturados ao samba-pop e a algumas composições próprias cheias de suingue. As releituras de Benjor – O Homem da Gravata Florida e Agora Ninguém Chora Mais – são os pontos altos de um disco bom do início ao fim (algo tão raro hoje...). Esta última, então, é daquelas de não sair da cabeça, de cantarolar o dia inteiro “Chorava todo mundo, mas agora ninguém chora mais, chora mais, chora mais...” Não porque seja uma música-chiclete, daquelas que infestam as rádios. Muito pelo contrário. Valeria desenterra a canção dos anos 60 e dá a ela um vigor e uma modernidade incríveis, fazendo ainda o favor de retirá-la do obscurantismo a que foi confinada por seu criador, que não consegue, ou não quer, fugir da obviedade de seu repertório atual.

Outro achado de Samba Blim é Swing de Campo Grande, dos Novos Baianos. A música foi gravada originalmente por Moraes, Pepeu e cia. no histórico LP Acabou Chorare, de 1972, sem dúvida um dos melhores discos da música brasileira. Valeria também apresenta uma nova leitura para a clássica Nanã. Famosa com Wilson Simonal, a música já foi gravada por meia MPB, mas ainda assim a cantora fez questão de incluí-la em seu disco de estreia. O nome do disco, aliás, foi retirado de um dos versos da música Tamanco do Samba, que abre o CD e é a primeira faixa de trabalho. Aqui, mais um resgate de Valeria, que traz de volta à cena o grande Orlan Divo (compositor da música ao lado de Helton Menezes), esquecido mestre do sambalanço.

O repertório de 12 músicas é completado com seis composições de Valeria, sem parceiros. O destaque é Quero Ver Você, com um delicioso clima de gafieira. Mas vale destacar também Tua Cicatriz e Soul Black, esta última com o reforço de Cecília Spyer nos vocais. Eu Não Sei e Bem Cedo destoam do restante do disco, trazendo um clima jazzístico.



Faixas



·       1 – Tamanco no Samba (Orlan Divo e Helton Menezes)

·       2 – O Homem da Gravata Florida (Jorge Benjor)

·       3 – Quero Ver Você (Valeria Sattamini)

·       4 – O Que Me Falta (Valeria Sattamini)

·       5 – Agora Ninguém Chora Mais (Jorge Benjor)

·       6 – Eu Não Sei (Valeria Sattamini)

·       7 – Nanã (Moacir Santos e Mário Telles)

·       8 – Swing de Campo Grande (Paulinho Boca de Cantor, Moraes Moreira e Galvão)

·       9 – Tua Cicatriz (Valeria Sattamini)

·       10 – Soul Black – Participação especial: Cecília Spyer (Valeria Sattamini)

·       11 – Bem Cedo (Valeria Sattamini)

·       12 – Tamanco no Samba (Bossacucanova Remix) (Orlan Divo e Helton Menezes)



Produção: Valeria Sattamini, André Protasio e Flávio Mendes

Direção musical: André Protasio e Flávio Mendes



Nota 10

Samba Blim / Valéria Sattamini



Artigo de Marcelo Teixeira

Nenhum comentário: