Alma Lírica Brasileira, de 2011: lirismo puro |
Ela é a preferida de Chico Buarque. Ela é a cantora mais bem afinada da música popular brasileira. Ela é detentora de prêmios importantes da MPB. Ela canta. Ela encanta. Ela emociona. Ela satisfaz. Ela reinventa a musicalidade perdida. Ela se chama Mônica Salmaso. E seu nome tem um peso enorme na nossa música pelo simples fato de ser uma cantora moderna com requintes de uma brasilidade única e universal, capaz de transbordar sentimentos por onde passa. Sua voz é lisonjeada até pelos menos entusiasmados por MPB. E seu timbre de voz é capaz de entorpecer homens desmotivados.
Alma Lírica Brasileira (2011 / Biscoito Fino / 27,99) é o novo disco de Mônica Salmaso que trás canções esquecidas e de um lirismo há pouco encontrado na nossa música de hoje. Pérolas esquecidas ou apagadas com o tempo, o disco tem destaque pela lírica e pela formosura que a textura de uma voz é capaz de embalar. Músicas com novas harmonias e melodias deixam a sensação de que Mônica, com seu faro apurado, acertou em cheio ao trazer para a modernidade canções como Melodia Sentimental (Villa Lobos / Dora Vasconcelos), que se transforma na melhor música do álbum devido a sua carga emotiva ou uma nova roupagem para o clássico Trem das Onze (Adoniram Barbosa).
Como sempre é costume, Mônica compila do cancioneiro buarquiano A História de Lily Braun, já cantada com enorme sucesso por Maria Gadú e Maria Rita e que neste disco, Mônica não faz por menos: a beleza de sua voz é tão poderosa e marcante, que mais parece uma canção nova. Em Noite (Nelson Ayres), os versos e as palavras cortantes representam a doçura do amor perdido ou entregue a outro alguém e que deixa a perfeita combinação entre voz, linguagem, harmonia e sentimentos. Lábios que Beijei é de uma inocência e um afeto tão profundos que deixa claro que só poderia ser cantada por Mônica em sua mais completa perfeição.
Carnavalzinho (Meu Carnaval), bela música de Lisa Ono e Mário Adnet, abre o disco com um capricho tremendo, deixando nítido o teor do álbum: como numa marchinha de carnaval, a música é curta, direta e a mensagem é clara, demonstrando que o carnaval de outros tempos era bem melhor. Samba Erudito (Paulo Vanzolini) é uma ironia fina de um dos melhores compositores da época de ouro da música de amores vingativos e nesta belíssima música não é pra menos: a canção de quase dois minutos é tão esplendida e charmosa, que fica impossível ouvi-la apenas uma vez. Regravando Cutelinho, também uma adaptação de Vanzolini e já cantada com enorme sucesso por Milton Nascimento, a canção destoa toda a versatilidade de Mônica como cantora excepcional que é.
José Miguel Wisnik, um dos maiores intelectuais que este país já conheceu, está presente mais uma vez nos discos e na vida de Mônica, com uma música sobre o poema do poeta Gregório de Matos, na bela canção Mortal Loucura. Tom Jobim e Vinicius de Moraes aparecem com Derradeira Primavera, deixando a bossa nova adentrar nesta alma lírica de Mônica. E tem também Meu Rádio e Meu Mulato, um grande sucesso do compositor Herivelto Martins que já fez sucesso na voz de Zélia Duncan em 2005. Mas regravar Violeta Parra nos dias de hoje é um risco que poucos cantores arriscam em fazer. Elis Regina e Zizi Possi foram as cantoras que gravaram ao menos uma canção de Violeta e Mônica recria Casamiento de Negros na sua alta formosura.
Alma Lírica Brasileira é um disco feito em família: Teco Cardoso é esposo de Mônica e excelente saxofonista. Nelson Ayres é um extraordinário compositor e um pianista de mão cheia. Ambos já tocaram ao lado de cantores tarimbados como Ná Ozzetti, Joyce Moreno e Ceumar. Portanto, Alma Lírica Brasileira deve e merece lugar de destaque na sua prateleira, estando no mirante mais alto, com todas as pompas de destacamentos que esta maravilhosa cantora merece.
Seu nome é Mônica Salmaso.
Nota 8
Alma Lírica Brasileira / Mônica Salmaso
Marcelo Teixeira
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