segunda-feira, 26 de março de 2012

Rebeca Matta: surpresa baiana



Segundo disco da cantora: boa surpresa
Em seu novo disco, Rebeca Matta avança bastante em relação ao primeiro, Tantas Coisas (1998) que chamou a atenção da crítica em 1998 por sua inesperada e corajosa receita musical: uma bem conduzida adaptação do bel canto de inspiração nas vozes femininas da "vanguarda paulista" à música eletrônica e do rock. Um maior domínio do software musical por parte do produtor andré t e a adesão de uma banda vigorosa e coesa (o baixista Renato Nunes, o baterista Guimo Migoya e o ótimo guitarrista Pêu Souza) fizeram com que o som de Rebeca em Garotas Boas Vão Pro Céu, Garotas Más Vão Pra Qualquer Lugar (2000 / Lua Discos / 19,99), ganhasse peso, profundidade e um caráter mais dançante - em especial na faixa de encerramento, a techno-batucada A Novidade.

Na maior parte do disco, o que predomina é o rock (havia um pouco mais de brasilidade no primeiro), de faixas longas, com muita sujeira eletrônica (no bom sentido), instrumental pesado e guitarras rasgando o estéreo. É o que se ouve nas faixas É Que a Vida É, Garotas Boas Vão Pro Céu, Garotas Más Vão Pra Qualquer Lugar, que tem até palavras fortes, pesadas, mas que não foge disparate da crítica, Seja Lá o Que For (eletrônica e pesada), a funkeada Mal Necessário, grande sucesso de Secos & Molhados, O Olho Nu (mais depressiva e a mais bela do disco) e Um Beijo no Pescoço (que tem elementos bem reconhecíveis).

A presença da música brasileira fica mais evidente na versão de Xique-Xique (Parabelo) (de Tom Zé e Zé Miguel Wisnik, da trilha de um balé do Grupo Corpo), na excelente regravação do mestre João Bosco em parceria com Aldir Blanc na bela O Ronco da Cuíca e na boa Pra Que Sofrer (que tem gosto de samba-canção, com percussão-metralhadora e voz acelerada eletronicamente) e na releitura de Na Cadência do Samba (Ataulfo Alves / Paulo Gesta / Matilde Alves) - a voz de Rebeca se prende à melodia enquanto o acompanhamento enlouquece. Completam o bom pacote da cantora uma versão absolutamente inventiva e não-mangue de A Cidade (de Chico Science) e outra, delicada, com vibrafone, de música do francês Manu Chao (A Mentira). Tudo em Garotas Boas Vão Pro Céu E Garotas Más Vão Pra Qualquer Lugar é muito bem feito - o encarte, então, nem se fala.

Em 2006 Rebeca chegou a ser convidada para fazer os vocais femininos em substituição a Rita Lee na reunião do grupo Os Mutantes, ao lado dos irmãos Sérgio e Arnaldo Dias Baptista. Por estar às voltas com a gravação de seu terceiro disco, Rebeca declinou do convite, tendo assumido o lugar nos Mutantes a cantora Zélia Duncan. O terceiro disco de Rebeca, Rosa Sônica, saiu em 2006, também basicamente autoral, com arranjos mais voltados para a eletrônica. A única regravação desse disco é Vapor barato (Jards Macalé - Waly Salomão), sucesso de Gal Costa no início da década de 70.

Rebeca Matta se notabilizou por produzir MPB eletrônica numa cidade dominada pelas modas da Axé Music e Pagode, e mesmo não tendo estourado comercialmente, chamou a atenção para a cena rock baiana, o que possibilitou posteriormente o aproveitamento de outros artistas baianos que não fazem Axé ou Pagode, como a cantora Pitty, que se tornou um dos grandes sucessos do rock nacional poucos anos depois.





Faixas

·       1 É que a vida é ... (Rebeca Matta)

·       2 Xique-Xique (Parabelo) (Tom Zé, José Miguel Wisnik)

·       3 Garotas boas vão pro céu, garotas más vão pra qualquer lugar (Rebeca Matta)

·       4 Seja lá o que for (Rebeca Matta)

·       5 O olho nu (Rebeca Matta)

·       6 Mal necessário (Mauro Kwitko)

·       7 A mentira (Manu Chao, Rebeca Matta)

·       8 Um beijo no escuro (Rebeca Matta)

·       9 A cidade (Chico Science)

·       10 O ronco da cuíca (Aldir Blanc, João Bosco)

·       11 Pra que sofrer? (Rebeca Matta)

·       12 Na cadência do samba (Matilde Alves, Paulo Gesta, Ataulfo Alves)

·       13 A novidade



Nota 9

Rebecca Matta / Garotas Boas Vão Para o Céu, Garotas Más Vão Para Qualquer Lugar



Marcelo Teixeira

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