Segundo disco da cantora: ótimo. |
A cada semana nasce uma nova cantora da MPB que tenta ter seu espaço na mídia, alçando público e elevando a nossa música popular brasileira ao topo que ela realmente merece estar. Cantoras com potencial, muitas delas ainda vivem a margem do desconhecimento, sendo apenas reconhecidas no cenário e âmbito plausível por pessoas que vão atrás de informação ou novidades. Thaís Gulin, cantora paranaense de qualidade excelente, está provando que para ser cantora é preciso muito mais do que uma feição bonita, uma boa voz e um bom disco. O novo CD da cantora é um misto de satisfação gerada com qualidade e perfeição quase difíceis de serem conduzidas. Resumo: Thaís canta bem e compõe muito bem.
No centro da orquestra produzida e arquitetada por músicos de calibre de alta patente e cerceada por grandes méritos e reconhecimentos, Thaís Gulin surge como uma salvadora da nacionalidade musical brasileira prontamente a brilhar na seara deixada por grandes cantoras. Sua voz, forte como um machado e suave como a brancura das nuvens, deixa a percepção de que é uma voz que grita para que alguém lá longe, do alto do mirante, a possa ouvir. Sua sensibilidade é gritante e seu senso comum é apadrinhado por vários elementos hiperquânticos de evolução sentimental.
Ôôôôôôôô (2011 / Slap / 23,99) é o segundo disco de Thaís Gulin e que merece toda a nossa atenção pela desenvoltura que o álbum apresenta e pela distinta comparação de outras cantoras da mesma formação. Thaís tem um timbre forte, ousado e que não lembra nenhuma outra interprete. Seu rosto angelical se transforma em uma mulher forte e madura quando solta a voz em canções próprias ou regravações perfeitas. Um disco que merece toda a nossa atenção pelo fato de ser inteiramente bem produzido e bem diversificado, característica já consagrada na carreira da brilhante Thaís Gulin.
O disco é composto por algumas regravações como Água (Kassin), já gravada com um certo sucesso por Caetano Veloso e que é uma música bem simples, mas que fala de um amor que um dia dará certo. A interpretação de Thaís para Horas Cariocas é tão impressionante que não deixa dúvidas de seu talento como cantora e compositora. A canção é maravilhosa, uma mistura de repetição de palavras com final melancólico e sensível. Se Eu Soubesse foi feita para o disco que trás Chico Buarque novamente ao mercado fonográfico e talvez seja a única música bonita do disco dele, lançado no ano passado e que também tem a participação de Thaís. Mas aqui a atmosfera é outra e quem rouba a cena é ela com seu timbre, sua potencia e sua qualidade em dividir os microfones com um monstro sagrado como Chico. Não por menos, Thaís é a nova musa inspiradora de Chico Buarque e deste fruto ainda renderá boas composições de ambos.
Revendo Amigos (Jards Macalé / Waly Salomão) ganhou sonoridade eletrônica, o que não deixou de ser interessante ouvir por algumas particularidades de Thaís: ela ora sussurra, ora grita, ora simula um choro. Divertido e ousado, esta regravação mais parece uma novidade do que uma pincelada no cancioneiro de Macalé ou Salomão. Recentemente estou achando que Ana Carolina está mais prestativa como compositora do que como cantora e isto está provado no disco de Maria Gadú na faixa Reis, uma das mais belas canções do álbum e que no disco de Thaís não poderia ser diferente. Uma linda canção de amor e ódio, Quantas Bocas prima pelas rimas e pelo belo refrão. Cinema Americano (Rodrigo Bittencourt) é uma música enorme de fala cortante e ligeira, que faz uma dura crítica ao mercado americano.
Encantada trás Adriana Calcanhotto na sua melhor forma, como sempre nos divertindo com suas charadas provocativas e irônicas, fazendo um jogo de palavras irresistível e admirável. Frevinho é uma composição de Thaís com Moreno Veloso, que recentemente está dando vida as marchinhas e frevos numa época em que muitos não sabem o que isso significa, tendo em vista que no novo disco de Roberta Sá ele é o responsável pela melhor faixa do disco. Paixão Passione é uma faixa bônus que fala de das torturas do amor e da paixão numa forma transversal e que somente Ivan Lins consegue transpassar. Mas a melhor faixa do disco é a pérola Ali Sim, Alice, de Tom Zé e com participação especialíssima do mesmo, transformando aqui uma mistura de vozes sensuais com um ritmo calibrado, doce, febril e magnífico.
O novo disco de Thaís não é para qualquer um. Tem que gostar de música popular brasileira de toda a sua forma e originalidade. Thaís é perfeita, seu timbre é perfeito e sua musicalidade é sensata, cortante e que não nos deixa dúvidas: Thaís Gulin é ótima.
Tudo em Thaís Gulin é sensível e tudo em Thaís Gulin é ferro, fogo, ódio e carvão. Suas cinzas deixam a nítida transparência de que o caminho da boa musicalidade está ali, bem diante de seus pés, prostrado como uma estatua lhe pedindo para que cante mais e mais e mais...
Nota 9
Ôôôôôôôô / Thaís Gulin
Marcelo Teixeira.
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