Zizi Possi: diva das divas |
Trabalhando a música de forma mais
acústica e valorizando grandes clássicos da nossa música popular brasileira com
um jeito único de cantar e expressar o sentimento por meio de canções que
entrelaçam perfeita e nitidamente com o timbre de sua voz, Zizi Possi é considerada hoje uma das cantoras do
primeiro time do cenário nacional, com toda a sofisticação e riqueza cultural
que conseguiu angariar desde os anos de 1980, quando de fato adentrou na
cultura do povo brasileiro. Em 1978, período fértil para a MPB, na qual
despontavam vários novos artistas, como Alceu Valença,
Marina Lima, Zé Ramalho e
Elba Ramalho, o lirismo cristalino da voz de
Zizi dava o tom do recado em músicas imortalizadas em sua voz com requintes de
pluralismo acentuado acerca do amor, do romantismo, da aproximação entre o real
e o imaginário do poder de seduzir e ser seduzido por meio do ar teatral e das
mãos ao vento que a cantora sentenciava categórica e perfeitamente. Dona de uma privilegiada de soprano, Zizi
conseguiu dar um marca própria às interpretações de Meu Amigo, Meu Herói (1980), primeira canção das muitas de Gilberto Gil que gravou ou, ainda, Eu Velejava em Você, grande sucesso de Eduardo Dusek e Luiz Carlos
Góes, que gravou em 1981, entre outras. Mas antes do sucesso vir bater à
sua porta, em 1978 a cantora lançou o emblemático e atemporal Flor do Mal, que foi recebido mornamente
pelos críticos da época, mas não pelo público, que vinha sendo seduzido por
cantoras como Gal Costa e Elis Regina, seguindo a mesma linha cultivada pela
autonomia e perfeccionalismo profissional. Assim como Gal e Elis, Zizi é uma
intérprete e utiliza a voz como instrumento e recurso de trabalho e, perante
isso, era sempre comparada às duas cantoras, ficando até em vantagem musical quando
Elis morreu, em 1982. Chico Buarque a concebera
ao estrelato dos estrelatos com a imortal e arrepiante Pedaço de Mim, cujo fizera dueto com o cantor em 1979, levando o
país ao choro conturbado e generalizado.
Em 1982 gravou Asa Morena,
música que a representou definitivamente ao grande público devido à sua
interpretação sensacional e a grande intercalação entre sua voz e a canção
regional, que pedia grande apelo comercial, mas que, devido a isso, não perdeu
o seu caráter oficial de ser popular. Outro salto de qualidade foi
proporcionado, novamente, pelo padrinho Chico, que a convidou para participar
do disco em parceria com Edu Lobo, O Grande Circo Místico (1983), onde
interpretou a faixa principal, O Circo
Místico. Tão dilacerante quando Pedaço de Mim, essa canção, que aborda o
sobrenatural e o universo mítico do circo é até hoje um dos momentos mais
emocionantes na carreira de Zizi. O perfil de Zizi Possi sempre foi o de estar
antenada à sua geração musical e, por esse motivo, gravou de Djavan à Marina Lima,
passando por João Bosco, Tom Jobim e Lulu Santos. Que, graças
à sua personalidade musical, ganharam novo formato e nova roupagem. No entanto,
o cansaço de estética pop, o axé, o pagode, o sertanejo e outros estilos
musicais que não se encaixavam com o estilo único da cantora com o rótulo de
cantora de excelente recurso vocal e repertório refinado, fizeram com que a
cantora arregaçasse as mangas e desse uma grande virada em sua carreira. A
partir de uma nova mudança musical nos anos 1990, sendo totalmente diferente
daquela de início de carreira, Zizi passa por uma grande transformação musical
e reconhece que seu estilo é único e intransferível. O refinamento na concepção
e na produção de seus novos trabalhos deram a tônica à obra de Zizi desde
então. Mas sem o apoio da máquina das grandes gravadoras, a cantora tomou as
rédeas de sua carreira tornando-se produtora independente. O caminho aberto por
ela nessa nova trilha foi o disco Sobre todas as
coisas (1991), mas a consagração mesmo veio com Valsa
Brasileira (1993), elogiado em todos os segmentos e veículos de
mídia por ser um disco que prima pelas pérolas da MPB. O refinado Mais Simples (1996) se interpõe ao figurado
Bossa (2001) e que se consagra com Per Amore (2006), disco que remete ao seu
passado de origem italiana. Seu último trabalho foi o espetacular E o mar me leva (2016), em que reúne
composições de Zeca Baleiro com produção
artística de Swami Júnior, que veio embalado com
o DVD Na Sala com Zizi, registro
bem sucedido em sua carreira. A carreira magistral de uma grande diva da MPB se
faz presente em todos os âmbitos de sua carreira magistral, com ênfase maior em
sua categoria profissional e sua límpida e cristalina voz. Viva Zizi Possi!
Os
trunfos de Zizi Possi
Por
Marcelo Teixeira
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