Chico: prolixo e difuso |
Chico Buarque
mobilizou o país inteiro essa semana com o lançamento de seu novo single, Tua Cantiga (2017), que fará parte do
álbum de inéditas que será lançada agora em agosto com o título de Caravanas. Juram os especialistas de
plantão, com carreira renomada e com título de doutor em criticar música que Tua Cantiga é a continuação de Todo Sentimento (1987), canção que
marcou a retórica parceria entre Chico e Cristovão
Bastos, cujo fora gravada no último disco de Elizeth
Cardoso, em 1989 e sendo recontinuação de Futuros
Amantes (1993), gravada depois por Gal Costa.
Primeiro que não concordo com essa comparação pífia, pura e simplesmente porque
ambas as músicas são díspares em suas nuances e propostas. Segundo porque Chico
Buarque parece querer se afastar dessas músicas mais antigas e se apropriar de
canções mais atuais e, por esse motivo, Tua
Cantiga se assemelha mais com Chico
(2011) do que com as compilações da década de 1980. Terceiro porque Chico encostou-se
ao comodismo e no comodismo ficou encostado. Não gosto muito de escrever sobre
canções jogadas ao público aleatoriamente, mas como essa é a nova onda do
momento, tenho que me adequar, mas, mesmo sendo fã incondicional de Chico
Buarque, tenho que reiterar que, por hora, Tua
Cantiga não é uma surpresa itinerante, muito menos há um sabor de frescor. Por pouco, enquanto ouvia Chico cantar, não
via Machado de Assis conversando com Eça de Queiróz num banco de praça ou ver trólebus e
casais apaixonados sendo embalados por longas serenatas, mas o que mais senti foi
a real presença da singularidade humana e de uma realidade assemelhada ao mundo
europeu e talvez isso tenha acontecido depois de ter lido seu último romance, O irmão alemão
(2014), em que fala exatamente sobre a esperança do amanhã, do
recomeço amoroso, da sutileza de gestos amáveis que não voltarão a existir. Falta
a Chico a inovação, a esperança, a sutileza de entender que os dias mudaram,
tal qual fizera com o espetacular As Cidades (1998)
ou no atemporal e sensato e atual Carioca (2006),
onde Chico se rendera aos encantos da pobreza local, do dilaceralante tempo
equidistante entre o real e o imaginário e do perfeccionismo acerca de sua
redoma musical. Mas ainda não estou criticando o disco num todo e sim, uma
única canção, mas já posso ter uma noção do venha a ser a tal Caravanas de Chico. Tua Cantiga, por hora, se assemelha às canções de Chico (2011), mas ainda assim é cedo para
poder dizer algo à altura do cantor. Prefiro ouvir o disco inteiro para poder
criticar com veemência, mas, de antemão, Tua
Cantiga demonstra o comodismo musical que assola a vida de Chico Buarque
nesses últimos anos de hiato criativo.
Tua
Cantiga (2017) / Chico Buarque
Por
Marcelo Teixeira
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