sábado, 29 de julho de 2017

O comodismo de Chico Buarque em Tua Cantiga (2017)



Chico: prolixo e difuso
Chico Buarque mobilizou o país inteiro essa semana com o lançamento de seu novo single, Tua Cantiga (2017), que fará parte do álbum de inéditas que será lançada agora em agosto com o título de Caravanas. Juram os especialistas de plantão, com carreira renomada e com título de doutor em criticar música que Tua Cantiga é a continuação de Todo Sentimento (1987), canção que marcou a retórica parceria entre Chico e Cristovão Bastos, cujo fora gravada no último disco de Elizeth Cardoso, em 1989 e sendo recontinuação de Futuros Amantes (1993), gravada depois por Gal Costa. Primeiro que não concordo com essa comparação pífia, pura e simplesmente porque ambas as músicas são díspares em suas nuances e propostas. Segundo porque Chico Buarque parece querer se afastar dessas músicas mais antigas e se apropriar de canções mais atuais e, por esse motivo, Tua Cantiga se assemelha mais com Chico (2011) do que com as compilações da década de 1980. Terceiro porque Chico encostou-se ao comodismo e no comodismo ficou encostado. Não gosto muito de escrever sobre canções jogadas ao público aleatoriamente, mas como essa é a nova onda do momento, tenho que me adequar, mas, mesmo sendo fã incondicional de Chico Buarque, tenho que reiterar que, por hora, Tua Cantiga não é uma surpresa itinerante, muito menos há um sabor de frescor.  Por pouco, enquanto ouvia Chico cantar, não via Machado de Assis conversando com Eça de Queiróz num banco de praça ou ver trólebus e casais apaixonados sendo embalados por longas serenatas, mas o que mais senti foi a real presença da singularidade humana e de uma realidade assemelhada ao mundo europeu e talvez isso tenha acontecido depois de ter lido seu último romance, O irmão alemão (2014), em que fala exatamente sobre a esperança do amanhã, do recomeço amoroso, da sutileza de gestos amáveis que não voltarão a existir. Falta a Chico a inovação, a esperança, a sutileza de entender que os dias mudaram, tal qual fizera com o espetacular As Cidades (1998) ou no atemporal e sensato e atual Carioca (2006), onde Chico se rendera aos encantos da pobreza local, do dilaceralante tempo equidistante entre o real e o imaginário e do perfeccionismo acerca de sua redoma musical. Mas ainda não estou criticando o disco num todo e sim, uma única canção, mas já posso ter uma noção do venha a ser a tal Caravanas de Chico. Tua Cantiga, por hora, se assemelha às canções de Chico (2011), mas ainda assim é cedo para poder dizer algo à altura do cantor. Prefiro ouvir o disco inteiro para poder criticar com veemência, mas, de antemão, Tua Cantiga demonstra o comodismo musical que assola a vida de Chico Buarque nesses últimos anos de hiato criativo.
 

Tua Cantiga (2017) / Chico Buarque
Por Marcelo Teixeira

Nenhum comentário: