sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Gal é Estratosférica (2015)

Gal é Gal
Se Recanto  (2013) trouxe a sonoridade estranha, barulhenta e deliciosa de Caetano Veloso como forma de trazer à tona toda a magnitude e potência exuberante de Gal Costa, seu mais recente álbum vem com uma carga experimental acompanhada de jovialidade e bossa novista que deu certo. Estratosférica (2015 / Sony Music / 27,00) não remete a Recanto, assim como não remete a nenhum outro disco que Gal veio a lançar, mas em se tratando de ousadia, podemos dizer que Gal acertou em cheio ao fazer este belo álbum. A começar pela capa em que seus cabelos estão esvoaçantes e cada vez mais negros e seu sorriso demonstrando toda a sua felicidade (e sua marca registrada), o disco tem um regozijo que não se encontram em seus discos anteriores e nem lembra o ar pesado e político e sombrio de Recanto. O tropicalismo de Junio Barreto em Jabitacá faz com que Gal reinvente um jeito novo de soletrar as palavras e fazer desta canção uma linda história de cruzamento entre seu início de carreira e e seu tempo real. Sem Medo Nem Esperança (Antônio Cícero / Arthur Nogueira) remete perfeitamente ao mundo tropicalista, com suas instrumentações intimistas e cheia de parafernália que nos tende a crer que Gal não está de brincadeira e que no alto de seus mais de 70 anos, ainda pode nos mostrar coisas maravilhosas. O que Gal fez foi juntar uma boa galera atual e antiga para dar o ar da graça nesse disco. Assim como Ney Matogrosso fizera em seus discos desde o início dos anos 2000, Gal chamou os melhores artistas da atualidade para lhe darem canções novas e harmonias refinadas. O que se vê em Estratosférica é um disco bem acabado, muito bem cantado e muito bem produzido. Mas chama a minha atenção para que todos esses adjetivos acima soassem como algo que valem a pena uma reflexão. Todos os compositores que lhe entregaram as músicas parecem que a fizeram como se eles mesmos estivessem cantando. Explico: a música Estratosférica (Pupillo / Junio Barreto / Céu), está muito perto de do disco Caravana Sereia Bloom (2012), lançada por Céu. Assim como Quando Você Olha Pra Ela (Mallu Magalhães), sinto que mais parece ter saído do álbum Pitanga (2009), de Mallu. Se percebermos mais atentamente, Por Baixo (Tom Zé) é uma continuação de e Amor Se Acalme, de Arnaldo Antunes, Marisa Monte e Cezar Mendes, é uma continuação de Aquela, lançada por Marisa no CD Infinito Particular (2006). Ainda colhendo os bons frutos do disco anterior e tentando arriscar as guitarras elétricas, Caetano surge com seu filho Zeca na composição de Você me Deu, que soaria bem em Recanto. Thalma de Freitas se junta a João Donato para comporem a romântica e sensacional Ecstasy e Criolo aparece com Dez Anjos, juntamente com Milton Nascimento, sendo talvez a grande parceria inédita do disco, demonstrando toda a força dramática de ambos os compositores para narrarem suas histórias Espelho d’água (Marcelo Camello / Thiago Camello) é uma baladinha sentimental que nos lembra e muito o bom tempo de Los Hermanos. Ilusão à Toa fecha com chave de ouro o disco, fazendo com que Johnny Alf seja relembrado com muita saudade. Mesmo sendo uma faixa que não estava prevista no álbum (e sim encomendada para ser trilha de novela global), Gal conseguiu passar uma enorme emoção com essa canção de 1961. Estratosférica veio para ficar e ser o disco do ano, tendo em vista que muitos críticos de música assim o elegeram e eu mesmo sou suspeito para dizer o contrário. Gal conseguiu reunir um timaço de estrelas contemporâneas para darem o ar de suas graças no cenário da música popular e conseguiu, mais uma vez, ser a estrela maior da nossa música. Mesmo deixando Chico Buarque (que não anda tendo inspirações coerentes) e Gilberto Gil (que não compõe há um tempo algo inédito) de lado, o novo disco de Gal é resultado de um trabalho satisfatório, energizante, cristalino e doce. Cantando cada vez melhor, tendo uma subordinação total de sua voz, Gal consegue nos hipnotizar, chegando a fazer deste disco um tropicalismo sem igual, adentrando em nossas almas assim como em nossas bocas, peles, mentes e casas. E é por isso que Gal é Gal.
 

Gal é Estratosférica (2015)
Nota 9
Marcelo Teixeira

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