sábado, 18 de fevereiro de 2017

Elis, trilha sonora do filme: mais uma obra de baú


Elis: CD de baú
Salvo pela ótima e excepcional interpretação de Andréia Horta, o filme Elis (2016) não tem nada de especial. Venhamos e convenhamos que o filme é mais um musical do que um filme propriamente dito, em que contasse as verdades de Elis, os julgamentos pessoais, o verdadeiro nascimento de uma estrela, seus verdadeiros amigos, suas inimizades musicais e pessoais, o caloroso amor por Milton Nascimento, a relação com os filhos, o desafeto com Tom Jobim e Chico Buarque, o rancor por Nara Leão e Maria Bethânia, o amor incondicional por Rita Lee e Gal Costa e o amor platônico por Clara Nunes. Cadê Tim Maia? Cadê Samuel Wainer, seu último namorado e que a vira estirada no chão do apartamento da rua Doutor Mello Alves, nos Jardins? Cadê a verdadeira história? Não houve nada disso e o público fora subestimado a assistir um musical reproduzido dos palcos brasileiros para as telonas. A qualidade do filme é excelente, as cenas são primorosas, a luz está perfeita, a direção foi impecável, mas o essencial faltou: não retrataram a vida de Elis conforme o enunciado. Trataram seu lado musical. Esqueceram de colocar suas famosas entrevistas, suas diversas frases de efeito moral, seus pensamentos acerca da música, seu carinho por João Bosco. E cadê a passagem com as drogas? Cadê o envolvimento rápido e conturbado com Fábio Junior e Guilherme Arantes? Não houve nada disso. Para além do filme houve o acontecimento rápido de se lançar um disco: tudo foi proposital. Primeiro lançam o filme mediano e em seguida um CD com os melhores sucessos da cantora. É sempre assim. Mas não trata-se de um grande filme (reitero que a interpretação de Andréia Horta e a direção estão impecáveis, mas faltaram argumentos para ser o filme do ano) e não trata-se de um grande disco. As prateleiras terão apenas mais um disco de coletâneas de Elis Regina com uma capa diferente. Porém, o que não foi retratado civilizadamente no filme foi colocado propositadamente no disco, como a faixa em que Nara Leão canta Borandá (1964) e Cartola interpretando O sol nascerá, registro também de 1964. Se a intenção era fazer um filme para homenagear uma das maiores cantoras do Brasil, o tiro saiu pela culatra, porque falta informação decente e coerente para com a artista que revolucionou a música brasileira e se tornou uma das maiores vozes do mundo através de sua garra e determinação. Faltou entusiasmo, carisma e o principal: a vida da artista. Para quem acompanha a carreira da cantora certamente ficou descontente com o resultado final, mas a ideia  central aqui é resgatar Elis para o público novo, para que sua imagem seja lembrada à nova geração. Portanto, tudo errado na diagramação de Elis. Por que não fizeram tal qual o filme Piaf – Um Hino ao Amor, em que retrataram fielmente sua ascensão e sua decadência, seus amores impossíveis e nostálgicos? Tanto tentaram camuflar a vida de Elis e seus turbulentos momentos de crise que o filme logo cairá no esquecimento e o CD com a trilha sonora logo será artigo de arquivo no baú.


Elis – o filme (trilha musical)
Nota 4
Por Marcelo Teixeira

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