Elis: CD de baú |
Salvo pela ótima e excepcional
interpretação de Andréia Horta, o filme Elis (2016) não tem nada de especial. Venhamos e
convenhamos que o filme é mais um musical do que um filme propriamente dito, em
que contasse as verdades de Elis, os julgamentos pessoais, o verdadeiro
nascimento de uma estrela, seus verdadeiros amigos, suas inimizades musicais e
pessoais, o caloroso amor por Milton Nascimento, a relação com os filhos, o
desafeto com Tom Jobim e Chico Buarque, o rancor por Nara Leão e Maria
Bethânia, o amor incondicional por Rita Lee e Gal Costa e o amor platônico por
Clara Nunes. Cadê Tim Maia? Cadê Samuel Wainer, seu último namorado e que a
vira estirada no chão do apartamento da rua Doutor Mello Alves, nos Jardins?
Cadê a verdadeira história? Não houve nada disso e o público fora subestimado a
assistir um musical reproduzido dos palcos brasileiros para as telonas. A
qualidade do filme é excelente, as cenas são primorosas, a luz está perfeita, a
direção foi impecável, mas o essencial faltou: não retrataram a vida de Elis
conforme o enunciado. Trataram seu lado musical. Esqueceram de colocar suas
famosas entrevistas, suas diversas frases de efeito moral, seus pensamentos
acerca da música, seu carinho por João Bosco. E cadê a passagem com as drogas?
Cadê o envolvimento rápido e conturbado com Fábio Junior e Guilherme Arantes?
Não houve nada disso. Para além do filme houve o acontecimento rápido de se
lançar um disco: tudo foi proposital. Primeiro lançam o filme mediano e em
seguida um CD com os melhores sucessos da cantora. É sempre assim. Mas não
trata-se de um grande filme (reitero que a interpretação de Andréia Horta e a
direção estão impecáveis, mas faltaram argumentos para ser o filme do ano) e
não trata-se de um grande disco. As prateleiras terão apenas mais um disco de
coletâneas de Elis Regina com uma capa diferente. Porém, o que não foi
retratado civilizadamente no filme foi colocado propositadamente no disco, como
a faixa em que Nara Leão canta Borandá
(1964) e Cartola interpretando O sol
nascerá, registro também de 1964. Se a intenção era fazer um filme para
homenagear uma das maiores cantoras do Brasil, o tiro saiu pela culatra, porque
falta informação decente e coerente para com a artista que revolucionou a
música brasileira e se tornou uma das maiores vozes do mundo através de sua
garra e determinação. Faltou entusiasmo, carisma e o principal: a vida da
artista. Para quem acompanha a carreira da cantora certamente ficou descontente
com o resultado final, mas a ideia
central aqui é resgatar Elis para o público novo, para que sua imagem
seja lembrada à nova geração. Portanto, tudo errado na diagramação de Elis. Por
que não fizeram tal qual o filme Piaf – Um Hino ao Amor, em que retrataram
fielmente sua ascensão e sua decadência, seus amores impossíveis e nostálgicos?
Tanto tentaram camuflar a vida de Elis e seus turbulentos momentos de crise que
o filme logo cairá no esquecimento e o CD com a trilha sonora logo será artigo
de arquivo no baú.
Elis
– o filme (trilha musical)
Nota
4
Por
Marcelo Teixeira
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