Jair: sempre eterno |
Jair Rodrigues foi um músico
espetacular, de uma fineza sem constestamentos e um cantor extremamente
brasileiro. Sua morte foi um abalo geral para todos nós, que não esperavámos
por ela: dentro de sua casa, no seu lugar preferido, Jair estava morto. O clichê
é gritante, mas faz parte: morreu o homem, mas não a sua voz, a sua trajetória
de vida, o cantor. A voz de Jair estará sempre ecoando por este Brasil que não
conhece o Brasil, em cada esquina e em cada coração brasileiro. Mas Jair era um
cantor que não poderia (nem merecia) morrer. Jair era a parte viva de uma MPB
morta. E era justamente por sua memória que o cantor não poderia morrer tão
cedo. De todos os cantores que mais bradavam sobre os festivais da TV Record
dos anos de 1960, a amizade com a cantora Elis Regina, o início do rap no
Brasil, os encantamentos de uma música sertaneja, o samba, os amigos que não
comentavam mais nada sobre a música do passado, tudo isso Jair contava em rima
e prosa e agora tudo se calou. Jair Rodrigues gostava de contar os bastidores
daqueles tempos áureos e tinha muita coisa na bagagem para ser contada ainda,
mas o destino o quis calado. Assim como no último show de sua vida, registrado
em Minas Gerais e que conta particularidades de Elis como se fosse um sussurro,
Jair tinha muitas histórias e notas para contar. Morreu sabendo que fora feliz
e que era um dos cantores de maior grandeza da música popular brasileira.
Morreu no melhor momento de sua vida: trabalhando e fazendo samba. Assim como
Caetano Veloso gosta de comentar o início da Tropicália e o movimento dos
festivais, Jair Rodrigues também gostava de falar abertamente sobre tudo aquilo
com sabedoria e maestria. Calou-se a voz de Jair aos 75 anos e espero que
Caetano não se cale, embora já tenha quase 71 anos! Diferentemente de Gilberto
Gil, Gal Costa ou Maria Bethânia, Caetano gosta de relembrar fases daqueles
tempos em que lutar pela sobrevivência de uma boa música era significado maior
de uma cantoria melhor para futuramente poder se expressar com o passado numa
forma direta e franca. E assim como Jair, Caetano também tem cartas na manga
ainda. Chico Buarque não fala praticamente mais nada sobre o tempo dos
festivais; Geraldo Vandré não se mostra mais em público e nem em entrevistas;
Nara Leão morreu; Roberto Carlos não fala mais de Jovem Guarda, embora Erasmo
Carlos tenha boas recordações e cartas na manga também. Morreu o patrono do
fino da bossa, morreu o menino pobre que vencera na música e se tornara amigo
de uma das maiores intérpretes do país, morreu Jair Rodrigues no momento
errado. Com a morte de Jair, a música fica mais pobre, mais cinza e mais
triste, obviamente. Mas a morte de Jair traz outro significado ainda maior: aquietou-se
o moleque cantor mais feliz da MPB e calou-se os bastidores de um festival!
Por que Jair
Rodrigues não poderia morrer?
Marcelo Teixeira
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