Zizi: velhas roupagens |
Nove anos separam a cantora Zizi
Possi do público. Nove anos separam Bossa,
lançado em 2001 de Tudo se
Transformou, lançado agora em 2014. Se Bossa
tinha uma pegada mais pra MPB elitísta, Tudo se
Transformou nos remete à Bossa.
Zizi Possi pegou a todos de surpresa ao lançar um disco este ano, pois ninguém
imaginava que isso fosse acontecer tão cedo, mesmo a cantora tendo feito shows
com o mesmo repertório, aqui em São Paulo. Mas aconteceu e o que Zizi nos apresenta
aqui é um álbum bonito, bem feito e com a boa música popular sendo bem
representada, característica de sua carreira. Zizi deixou Bossa
suspensa no ar, com muitas perguntas e sombras de sua carreira, mas Tudo se Transformou (2014 / Eldorado / 20,90)
é um disco de capacidade única que consegue juntar uma excelente voz com um
piano majestoso. Na verdade e musicalmente falando, o novo disco de Zizi é pura
MPB, ressoando nas músicas a leveza e autenticidade de sua belissima voz. Zizi
é uma das maiores cantoras deste Brasil e esteve no páreo de ser a nova
sucessora de Elis Regina juntamente com Gal Costa, em 1982. Mas Zizi mostrou
que seu talento é superior e trilhou seu caminho com discos de sucesso e
músicas que adentraram na mente do público até hoje. Se Bossa
foi friamente recebido pela crítica e público, aposto que certamente este novo
lançamento não passará pelo mesmo crivo. Como disse, Zizi está cantando
divinamente, o CD está com uma capa estonteante
e a cantora continua sendo a melhor dentre as melhores e os treze anos
que separaram a cantora de seu público a fizeram selecionar as músicas e fazer
um disco a sua altura. Mas erros fatais aconteceram para que Tudo se Transformou não entrasse de
cabeça erguida para o mercado fonográfico como as boas vindas à Zizi.
Primeiramente, a música de abertura, Filho
de Santa Maria, foi composta sobre a poesia de Paulo Leminski musicada por Itamar
Assumpção. E cadê o nome de Itamar nos créditos? Mas não precisava da voz de
Webster Santos nos vocais desta música, porque ele não canta nada e mais parece
um cantor esperando as notas dos jurados. Voz grave, forte e estranha que
contrasta com a voz doce, pura e sentimental de Zizi. Outro erro fatal foi a
regravação de Disparada, já cantada
habilmente pela própria no disco Puro Prazer
(1999), já que sua voz casou-se muito bem com o piano de Jether Garotti. Aqui a canção fica batida e mesmo
tendo novos arranjos, ficou chato ter que ouvi-la em sua voz novamente. Tudo se transformou, do mestre Paulinho
da Viola e que deu título ao novo trabalho da cantora, é um samba lamentação
das dores ocorridas pelo amor e valeu a pena, porque Zizi dá um show de
interpretação. O disco é todo caprichado desde a abertura até a décima e última
faixa do show ao vivo, tendo neste meio tempo canções de Guilherme Arantes (Meu mundo e nada mais) e da estreante
compositora Necka Ayala, No Vento.
Luiza Possi, a filha ilustre, surge como compositora ao lado de Dudu Falcão na
música arrastada Cacos de Amor,
gravada no CD de Luiza, intitulado Seguir Cantando
(2011) e Gonzaguinha ressurge das cinzas em Explode Coração. De Dominguinhos e Anastácia vem Contrato de Separação e Porta Estandarte (Fernando Lona e
Geraldo Vandré) fecha o disco ao vivo com chave de ouro pela alegria
contagiante que a música proporciona, alternando com Filho de Santa Maria. O bônus fica por conta dos tribalhistas
Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown na música Sem
Você, que fala dos sentimentos amorosos e da solidão. Aqui Zizi mostra todo
o seu encanto ao dar vida a uma música de dois homens totalmente amorosos e a
canção acaba sendo a melhor do disco. Tudo se
Transformou é um disco sensível, aberto, curioso e com direção certeira
na carreira Zizi em que revisita a obra dos amigos, pinça com dignidade uma
música de cada e lança em disco. Mas o que se vê aqui é um disco novo e sensato
e que acaba com o jejum da cantora. Merecidamente.
Tudo se
Transformou (2014) / Zizi Possi
Nota 8
Marcelo Teixeira
Um comentário:
Marcelo,
Gostei da resenha sobre o CD, concordo com as suas observações sobre cada interpretação, embora as minhas preferidas sejam Contrato de Separação e Porta Estandarte. Concordo também que a regravação de Disparada foi totalmente desnecessária, ainda mais porque não inovou na roupagem. Filho de Santa Maria também teve esse problema, assim como Explode Coração. Morena dos Olhos D'Agua, no entanto, ganhou de fato uma nova versão. Apesar de tantas regravações, o CD está muito bonito e o canto de Zizi continua maravilhoso, superando a si própria. Eu também a considero das melhores cantoras do Brasil, senão a melhor.
Entretanto, queria chamar atenção para dois equívocos na sua resenha. Primeiro, não são treze anos de separação do público, pois Zizi fez uma série de shows em 2008, que resultaram no DVD duplo Cantos e Contos (2010). O seu último CD data de 2005 (Para Inglês Ver e Ouvir...), com DVD homônimo. Portanto, são 4 anos sem show e DVD, e 9 anos sem lançar um CD. Poderia considerar treze de separação entre CDs de música brasileira, aí sim, mas não de separação do público e muito menos de lançamento de CD.
Em segundo lugar, o pianista e maestro Jether Garrotti Jr. não foi marido de Zizi e não é pai de Luiza Possi. O pai de Luiza se chama Liber Gadelha, músico e produtor, que fez parte da banda de Zizi na sua fase pop, até o final da década de 1980.
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