A bossa pop de Vanessa: bom e médio |
Superar Elis Regina ou Gal Costa em
um disco homenageando Tom Jobim, não é tarefa fácil. Não somente Tom, que foi
um dos maiores maestros que o Brasil já teve, mas qualquer grande compositor
brasileiro, o trabalho é árduo e o resultado tem que sair perfeito. Vanessa da
Mata bem que tentou, mas derrapou feio ao homenagear Tom Jobim, tendo em vista
que a cantora não é familiarizada com o repertório do compositor e nem gravou
(ao menos que eu me lembre) alguma música do cancioneiro jobiniano. Vanessa é a
estrela da vez do Projeto Nívea que homenageia artistas que foram importantes
para a música brasileira. Anteriormente, Elis Regina vinha embalada pela voz da
filha Maria Rita, que emocionou no começo, mas depois derrapou na mesmice de
ser apenas a filha de Elis. Em 2012, Vanessa
da Mata fez uma temporada de shows no Sesc Pompéia, em São Paulo,
abordando a obra de Luiz Gonzaga com resultado surpreendente. Era patente a
identificação da artista com aquela obra, ora exposta de forma leve e moderna
em poucas apresentações que não tenho notícia se foram ou não gravadas.
Deveriam ter sido.
Vanessa
também já tem um cd autoral pronto para lançamento. Boa compositora lançada por
Maria Bethânia em 1999, soa natural que este trabalho inédito seja até
aguardado com mais interesse. Mas veio o projeto da Nívea Viva com a proposta
de uma série de espetáculos com canções de Tom Jobim. Depois de Elis, o repertório do maestro mais conhecido
do Brasil acabou se transformado em cd de estúdio intitulado Vanessa da Mata canta Tom Jobim (2013 / Sony Music /
25,99).
Mesmo
antes do lançamento já se ouvia rumores pouco edificantes sobre o trabalho.
Puro preconceito. Com arranjos de Eumir
Deodato, produção de Kassin
e uma boa seleção de músicos convidados, Vanessa
da Mata Canta Tom Jobim,
não é um tragédia. Está, porém, anos luz de ser digno de lembrança histórica.
As músicas selecionadas são manjadas do grande público e nenhuma novidade foi
presenteada aos fãs. Mas a voz de Vanessa agrada do começo ao fim e mesmo
soando pop demais, o disco é bacaninha. Pop no sentido de atrair o público mais
jovem e que não tem contatos com a obra de Tom, podem se render ainda mais à
carreira de ambos os artistas.
O
maior acerto do trabalho é mesmo a produção de Kassin. Aparentando uma busca de
rejuvenescimento de canções tão famosas e pertencentes ao imaginário coletivo
do brasileiro, as soluções do produtor em momento algum descaracterizam o
cancioneiro de Jobim. Ao contrário, ajudam a dar uma cara jovem e atualizada a
estes clássicos. Eumir também acerta em muito na atmosfera reverente dos
arranjos, principalmente os de cordas. O problema é mesmo a Vanessa cantora.
Ainda
que a matogrossense tenha bons momentos nas interpretações de Caminhos
Cruzados (Jobim / Custódio Mesquita), música que abre o cd, Chovendo
na Roseira (Tom Jobim), Só Danço Samba (Jobim / Vinícius
de Moraes) e Este seu Olhar (Tom Jobim), o tom que domina o trabalho é
estridente demais, alto demais. Muito pouco à vontade na ambientação de temas
que exigem um pouco mais que apenas afinação (não, Vanessa não desafina no cd),
o descompasso atinge seu auge em Dindi (Jobim / Aloysio de
Oliveira), quase gritada a cada
final de frase, e, principalmente, em Por Causa de Você, densa parceria
de Jobim com Dolores Duran, que na voz de Vanessa soa rasteira, sem pingo de
originalidade ou inspiração. Dindi,
aliás, só consigo ouvir, atualmente, na voz de Virgínia Rosa no belo disco Voz & Piano (2010 / Lua Discos / 24,99) com o pianista
Geraldo Flach.
A
média de Vanessa da Mata Canta Tom
Jobim fica num patamar bem aquém de outros tantos tributos outrora
dedicados a Tom Jobim. Em que
pese a boa produção de Kassin, o cd derrapa na superficialidade e na pouca
intimidade da cantora com a obra do maior maestro brasileiro. Mas o disco é
bonzinho.
Vanessa da Mata Canta
Tom Jobim / Vanessa da Mata
Nota 7
Marcelo Teixeira
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