Os especiais de 1980 eram melhores |
O
Som Brasil apresentado
recentemente pela Rede Globo de Televisão dedicou a recordar as melhores
canções da bossa nova. Sai Rolando Boldrin, entra Patrícia Pillar que recebeu
um dos anfitriões ainda na ativa, Roberto Menescal, um dos precursores do gênero que
inovou ao misturar influências do jazz à cultura nacional. Canções que viraram
referências da música brasileira – como Garota de Ipanema, O Barquinho e Ela É
Carioca – compõem o repertório do programa em homenagem ao estilo. Menescal
dividiu o palco com Andrea Amorim, Daíra Saboia, BeBossa e Cris Delanno.
Tom
Jobim, Vinicius de Moraes, Jhonny Alf e Baden Powell se foram, mas ainda
permanecem na ativa três grandes monstros sagrados da Bossa Nova: João
Gilberto, Carlos Lyra e Roberto Menescal. João Gilberto se isolou nos Estados
Unidos e não há santo cristo que o faça dar uma entrevista ou uma aparição
pública qualquer. Carlos Lyra mal compõe
músicas hoje em e dia e seu último lançado no ano passado, intitulado Só Danço
Samba (Ao Vivo), mas também virou um adepto do esconderijo, pois quase não é
possível ver Carlos Lyra.
Roberto
Menescal é o contrário de tudo isso e de todos. Ainda na ativa e morando em
Brasília, o cantor, compositor, violonista e artista completo lança a cada ano
ótimos discos lapidando as melhores vozes femininas de todos os tempos. Seu
disco de maior destaque é o Elas Cantam Menescal, lançado no ano passado ao
lado de belas vozes, como Márcia Tauil, Sandra Duailibe, Cely Curado e Nathália
Lima. Recentemente, Menescal está em companhia da cantora mediana Adriana
Amorim – que não é nem maravilhosa, nem boa, nem nada. Apenas fraca cantora.
Há
mais de uma década na estrada, Andrea se divide entre a paixão pelo rock e pela
bossa nova desde que gravou um CD com Menescal. O compositor também foi
fundamental na carreira de Daíra, que começou a trabalhar nos palcos de
espetáculos musicais ainda criança e está produzindo seu primeiro disco com o
ídolo. O sexteto BeBossa, cujos arranjos são predominantemente vocais, lança um
álbum com regravações das letras de Menescal. O cantor protagoniza ainda mais
um dueto ao lado de Cris Delanno, que traz experiência como solista em corais.
Também são convidados Celso Fonseca, cantor e produtor que participou de
diversos festivais internacionais; Alaíde Costa, vocalista que começou em
programas de calouro de rádios e hoje tem mais de 50 anos de estrada; Georgeana
Bonow, compositora e professora infantil de iniciação musical; e Tibless,
representante da afrobeat.
Exceto
um dos pais da bossa nova, Roberto Menescal e de Celso Fonseca, Cris Delanno e
da excelente Alaíde Costa (que fora aplaudidíssima), os outros músicos não
representaram nada ao estilo bossa nova. Às vezes encontramos um Roberto
Menescal perdido nas próprias melodias ou perdido de frente das câmeras, mas
mesmo assim, o músico se saiu muito bem, pois representou ali como sendo o
representante do movimento e criador de várias músicas cantadas.
Adriana
Amorim decepcionou! Fanha, a cantora tentou ser maior que tudo ali: maior que o
programa, maior que Menescal, maior que as outras cantoras. Abrindo o programa,
Adriana sambou mais que cantou e isso prejudicou sua participação. Mesmo sendo
um playback, a cantora se esforçou demais para cantar, estorvando seu show e
caindo na caretice de ser apenas mais uma entre tantas. Aquele beijinho no
Menescal (forçado demais) ao final da música foi o erro fatal e cheio de
piegas.
Daíra
Sabóia tentou ser uma nova Elis: dançou, requebrou, sorriu, ergueu os braços
igual uma Elis Regina. Sua voz até que é agradável, mas de olhos fechados.
Péssima escolha do programa em tê-la ali cantando O Pato, com aquela voizinha irritante por
vezes e macia por poucos minutos. Mesmo
com um suingue descontraído, Georgeanna Bonow não convenceu. Sua maquiagem
estava muito carregada e sua vestimenta não correspondia ao estilo mais
intelectual do movimento. Mais parecia uma cantora de rock punk do que
propriamente de bossa!
Decepção
geral foi o grupo mineiro Tibless, representante do afrobeat. O cantor até tem
uma voz suave, macia, mas ele estava visivelmente fora do tom bossa novista e
não convenceu em nada, mesmo sendo um grupo realmente bem afinado. E por falar
em afinação, foi a partir da apresentação deste grupo que percebi que tudo ali
era cantado em playbak e isso, definitivamente, acabou de enterrar o programa
Som Brasil.
Lamentável!
O vexame do Som Brasil
Bossa Nova
Marcelo Teixeira
Um comentário:
Muito bom seu artigo Marcelo. Destaco também a utilização indiscriminada de programas afinadores de voz, como o Melodyne. Isto é o que mais me incomoda e me impede de assistir ao programa na íntegra. Terrível! Ah! O Celso Fonseca arrebentou. Já gostava dele, virei fã. Beijos querido!
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