Ótimo disco de Leila Pinheiro |
Em
1998, Leila Pinheiro nos presenteou com um disco a sua altura, com canções que
marcaram um tempo e com novidades extraordinárias que perpetuam até hoje em
meus ouvidos. O disco em questão é Na Ponta da Língua e trás uma capa
tão singela e ulterior e sagaz e impiedosa e original e maliciosa, que este
álbum talvez seja o melhor de toda a sua carreira. Com aberturas e fechaduras
de vinhetas que somente Walter Franco consegue compor, o disco é todo marcado
por facetas múltiplas de uma Leila Pinheiro que conseguiu se desvencilhar de
ser rotulada, até então, de bossanovista e enveredar pelo campo da música
popular. Regravando grandes sucessos de Roberto e Erasmo Carlos (Sentado à Beira do Caminho) e Legião
Urbana (Vento no Litoral), o disco é
pautado pela sensibilidade de uma grande artista, que é reverenciada por
grandes nomes da MPB, como Ivan Lins e Chico Buarque e que foi a queridinha de
Tom Jobim em seus últimos anos de vida.
Abril,
composição mais que charmosa de Adriana Calcanhotto, é a melhor música do álbum
e transmite uma emoção plena de escolhas sem arrependimentos e recomeços de um
novo ciclo. Assim como o samba encorpado de Sérgio Santos e Alvin L., Pra Dizer a Verdade, que tem uma letra
deliciosamente linda, Na Ponta da Língua tem de tudo um
pouco: além de sambas, tem a esmagadora Mais
Uma Boca, composta com requinte pela fabulosa Fátima Guedes, que consegue
exprimir, através da interpretação forte de Leila, uma letra inquietante e bela
ao mesmo tempo. Destaque ímpar para a excelente música Por Favor, de Ivan Lins e Aldir Blanc, em que a língua bebe a
estranheza (frase que mais gosto de todo o disco) e que ao mesmo tempo nos leva
ao gosto de maçã, flor da nova Eva, com seus antecipamentos e suas incertezas.
Sinto o abraço do tempo apertar
E redesenhar minhas escolhas
Logo eu, que queria mudar tudo
Me vejo cumprindo ciclos
Gostar mais de hoje e gostar disso
Trecho
da música Abril, de Adriana
Calcanhotto
Seguindo sua influência
regional de seu estado natal, Pará, Leila canta brilhantemente o forró quase
universitário Influência de Jackson,
composta pelos mestres Guinga e Aldir Blanc e Leila canta numa desenvoltura que
somente ela consegue fazer e emocionar. Vale lembrar que a música é difícil de
interpretar, mas Leila dá um banho de sensualidade e musicalidade. Indo para o
lado sentimental do disco, Sorriso de Luz
trás a leveza e a pureza do amor, com seus primeiros olhares e suas primeiras
imaginações, fazendo da canção de Gilson Peranzzetta e Nelson Wellington um dos
achados para a transmutação de Leila.
Setembro, de
Alvin L., é uma canção amargurada e doce sobre os desencontros e armadilhas do
amor que um dia fora belo e romântico. Leila é capaz de se desfazer de
desmantelos ruborizados pela crítica e recria com magnitude a impactante Amor, Perigoso Amor, de Frejat e Dulce
Quental, já imortalizada na grande voz firme e forte de Ângela Ro Ro. É nesta
canção que Leila se despe e se mostra valente e única para poder recriar ao seu
gosto as canções que fizeram parte musicalmente de outra voz.
Na Ponta da Língua
demonstra o quanto a musicalidade de Leila Pinheiro é importante para cenário
musical brasileiro e ter a certeza de que sua voz é única e saber não ser rotulada,
é a forma mais pura e inocente de dizer que ela é uma cantora genuinamente
brasileira. Na Ponta da Língua é simplesmente ótimo. Recomendo.
Na
Ponta da Língua / Leila Pinheiro
Nota
10
Marcelo
Teixeira
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