Você faz a sua Cultura! |
Para
algumas pessoas opinar é um ato tão natural e inevitável quanto respirar.
Opinar, pra mim, é uma maneira de desenvolver a nossa responsabilidade perante
o assunto abordado, estarmos em sintonia com o que está sendo discutido e,
mesmo que a opinião seja irrelevante para alguns, a pitada está lá, dada,
colhida, absorvida. Gosto de criar polêmicas quando é para criar polêmicas,
gosto de jogar um assunto qualquer e ver as pessoas se alfinetando, degladiando
e criando polêmicas sobre assuntos que criei. Meus textos são pequenos troféus
que jogo contra o ventilador e o mesmo se espalhar por todo o Brasil e alguns
países afora. Meu objetivo como cronista da música popular brasileira é única:
levar conhecimento a todos e, o mais importante, fazer voltar à ativa o antigo
crítico de arte. Na minha infância, os jornais tinham críticos de todas as
searas: de livros, de música, de TV, de futebol e com o tempo isso foi se
perdendo. Cresci com a vontade de levar a minha escrita visceral as pessoas e
para que elas tivessem a certeza de que o texto era meu, com meu jeito de
escrever e de dizer que estou ali, presente, vivo.
Escrever não é uma das
tarefas mais fáceis, como já disse aqui em um artigo. E crescer ouvindo que sou
culto, que a minha vida é rodeada de cultura, é a mais pura balela que já ouvi
em toda a minha vida. Cultura não significa que eu seja culto e culto não significa
que a minha vida seja rodeada de livros, música, personalidades e tals.
Transpiro cultura, respiro música, cheiro livros, absorvo palavras, mas ter
cultura é diferente de ser a cultura. Em resumo geral, não sou culto. Apenas
cultivo a cultura. Busco conhecer a musicalidade genuinamente brasileira dos
nossos artistas brasileiros.
Mas o que é a cultura? Todos
nós temos cultura, seja de maneira direta ou indireta, mas para mim, cultura é
aquilo que cultivamos e aprendemos. Muitos conhecem os tons de cinzas
americanizados, mas muitos desconhecem a cultura baiana de Jorge Amado. Muitos
conhecem a cultura sartreana, mas poucos conhecem a cultura de Mello Neto,
muitos conhecem a cultura de Virginia Woolf, mas poucos conhecem a cultura de
Fagundes Telles ou Ferreira Gullar e isso sim, me envergonha culturalmente.
Cultura é o que vi e vivi quando fui a João Pessoa e me instalei no belo
apartamento de meu amigo Tom Costa e conheci a cultura privilegiada de Bruno
Gil Santos. Cultura é o xaxado de Luiz Gonzaga, a baianidade de Jorge Amado, a
mineirice de Clara Nunes e Adélia Prado, a musicalidade de Chico Buarque, Caetano,
Gil, o rock, o sertanejo, o axé. Tudo se torna cultura quando executado com
cautela, carinho, determinação e orgulho e não o que vemos por ai, jogado às
traças.
Quando me falam que sou
culto, respondo a altura: a minha cultura quem faz sou eu. Quem busca sou eu.
Eu busco informação, busco conhecimento sobre o que é novo e nunca me esqueço o
que é antigo. Sou fã incondicional de Carmen Miranda. Sou fã incondicional de
Patrícia Mello, sou fã ardoroso de Chico Buarque. Adoro Clarice Lispector.
Idolatro Ferreira Gullar. Sou fã de Elis Regina. Portanto, ter cultura não
significa ser culto e quando me dizem que não me imaginam curtindo alguns
pagodinhos e sertanejos, logo corro para dizer que aquilo é cultura brasileira.
Não podemos, em hipótese alguma, menosprezar o que o Brasil tem de melhor e eu
aprendi isso indo ao Nordeste.
Os artigos são meus troféus.
A cultura é a minha riqueza.
Marcelo
Teixeira
Nenhum comentário:
Postar um comentário