A vitrola de todos nós |
Com
esta onda de internets, downloads, sites que patrocinam músicas gratuitas para
certos tipos de aparelhos de celular, o povo brasileiro (e talvez do mundo),
está perdendo um hábito simples e que vem de nossos antepassados: a compra do
material vivo, ou seja, a compra do CD e do livro. Com a onda de pirataria, que
muitas vezes é impossível detectar, a indústria fonográfica e, principalmente o
cantor, é quem sai perdendo nesta batalha boba e criminosa. Hoje, um
determinado cantor faz sucesso com uma única e exclusiva música, deixando assim
todo o resto do disco a ver navios e é justamente neste espaço de tempo que o
consumidor adere à internet para baixar a música, esquecendo-se, assim, do
produto por completo. Para um artista que passa meses com um projeto em mente,
reformulando, trabalhando, ajustando, nada mais desagradável é saber que seu
produto, seu único produto de venda, é fruto de marginais que pirateiam e
vendem por míseros reais.
Não sou tão velho assim, mas
tenho idade suficiente para carregar na memória os tempos de criança, em que
pirataria praticamente não existia, os vinis eram tremendo sucesso e os
compactos eram produtos gerados por artistas que vinham apenas com quatro
músicas (recentemente Roberto Carlos utilizou deste recurso, mas o artista que
veio com esta novidade foi o Chico César, quando trouxe ao mercado o irrequieto
Odeio Rodeio, com a participação de
Rita Lee). Naquele tempo, nós, crianças, não tínhamos acesso aos vinis de
nossos pais, observando apenas de longe. E via nos vinis de papai uma beleza
extrema, um plano de fundo inconfundível, um dos melhores lugares de minha
casa. Cresci tendo como companheira fiel a vitrola, artigo tão raro hoje em
dia, que quase entrou em extinção alguns anos atrás. Para quem acompanha o blog
no Facebook, o símbolo da marca Mais Cultura! é representada por uma
vitrola.
Sou do tempo da fita
cassete, em que praticamente a pirataria passou a ter um pouco de retorno
financeiro e como a inflação era gigantesca, muitos aderiram ao esquema. A fita
cassete também se instalava e era um artigo de luxo e para poucos. A vitrola
ainda era forte, mas com o tempo perdia o espaço para as malditas fitas
cassetes, que sempre se enroscam, pulavam, queimavam nos aparelhos.
Definitivamente, odiei as fitas cassetes. Com a chegada definitiva dos CDs, a
pirataria veio à tona e o mundo pôde participar de um dos crimes mais comuns a quais todos tinham acesso e
ninguém intervinha. Confesso que fiquei ainda mais indignado quando vi, no
centro de São Paulo, vários camelôs vendendo livros de escritores famosos e CDs
de vários cantores nacionais e internacionais.
O cantor Nando Reis fez algo
realmente inovador para sair deste círculo chamado por estudiosos pueris como livre acesso para baixar músicas de graça
pela internet e criou em seu site um aplicativo para que as pessoas comprem
seu novo CD diretamente com ele. Ou seja, a preços populares que variam de
semana a semana (às vezes oscila entre 16,00 e 25,00) o consumidor participa
ativamente da negociação com o próprio Nando, fazendo deste negócio um lucro
rentável, controlando assim a pirataria e os famosos downloads. Parece brincadeira,
mas o cantor Nando Reis, depois de sucessos ao lado de Titãs, sucessos ao lado
de Cássia Eller, Zélia Duncan e sucessos com Os Infernais, seja obrigado a ser
um negociante para driblar a sua inimiga pessoal. Em suas palavras, ele virou
um vendedor.
Chega a ser caricato, mas o
meu tempo de criança foi perfeito. Hoje eu com 31 anos, tenho orgulho pela
falta de tecnologia a qual vivi e a qual carecia de tantas informalidades que
hoje penso que estava vivendo em Cuba dentro do próprio Brasil.
A inimiga pessoal do
artista: a pirataria
Marcelo Teixeira
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