Os olhos de onda de Adriana |
Desde Maritimo
(1998), que Adriana Calcanhotto devia um disco a altura de seu
talento. Não que os discos seguintes sejam menores, mas o fato é que a cantora
passou a cantar acompanhada de banquinho e violão e deixou outros instrumentos
para outro campo. Mas Adriana não precisa de outros instrumentos, porque o
violão que a acompanha e o banquinho que lhe é seu melhor amigo, faz de todo o
palco um ambiente confortável e original e a voz da cantora passa a ser um
alívio de musicalidade quando começa a dedilhar as cordas. Lançando Olhos de Onda (2014 / Sony Music / 19,99),
o disco seria um discão se não fosse alguns erros perdoáveis da cantora, como,
por exemplo, ficar no ar bossa novista em tempos em que a música exige muito
mais que isso. Não que a Bossa Nova esteja perdida no tempo, mas Adriana
poderia utilizar da artimanha de se inovar no disco através de ousadias
pitorescas que apenas ela consegue fazer (e vem fazendo isso com habilidade)
para pincelar aqui ou ali um momento de descontração com relação à sua música.
Pincelando canções de discos anteriores e mais focado nos esquecidos Maré (2008) e Cantada
(2003), a cantora deu um sopro de respiração aguda e pensou numa
estratégia para não cair no marasmo de Público (1999)
que mais se parece com Olhos de Onda
na sua forma mais ampla e elaborada. Olhos
de Onda é o título da música número sete, inédita e simples, mas que tem o
carimbo da cantora gaúcha. A sacada genial de Adriana Calcanhotto para que Olhos de Onda superasse os outros
lançamentos e, automaticamente, ficasse em alta no mercado fonográfico do ano,
foi a regravação de Me dê Motivos,
imortalizada na voz inconfundível de Tim Maia e a versão de Back to Black, da cantora Amy Winehouse,
fazendo uma comparação assim como em Cantada,
quando a cantora deu voz a música Music,
de Madonna e surpreendeu ao público pelo timbre agudo e pela inspiração que
causou. Aqui não é diferente e até as fotos do encarte são sensacionais.
Músicas manjadas, como Maresia, o álbum
é repleto de sucessos que a própria Adriana não cantara mais em discos, como Metade, Esquadros ou Inverno. Mas vale a pena ouvir o disco
porque Adriana Calcanhotto voltou renovada depois de Micróbio
do Samba (2011) e trazendo na bagagem poemas de Augusto dos Campos,
a música de Caetano Veloso, O Nome da
Cidade, e a sua paixão pelo Rio de Janeiro. Não chega a ser o melhor disco
de Adriana Calcanhotto, mas que o repertório foi muito bem pensado e elaborado,
isso sem sombra de dúvidas ajudou e muito na sua colocação entre as melhores,
fortes e firmes cantoras da velha e boa música popular brasileira.
Olhos de Onda /
Adriana Calcanhotto
Nota 9
Marcelo Teixeira
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