Clara: notoriedade em 1974 |
Clara Nunes foi, sem sombras de
dúvidas, a maior entre as maiores cantoras do Brasil. Basta ver seus clipes,
suas músicas e sua defesa para com uma religião (e um povo – o negro), para
saber que a cantora era uma verdadeira Guerreira, apelido que lhe coube muito
bem naqueles dias em que ela enfrentava a todos ao se apresentar e a cantar da
forma como queria. Clara é insubstituível e suas músicas provam que ninguém as
cantará da melhor forma possível, porque sempre haverá uma nota ou uma palavra
distorcida. Se há uma cantora que chegou bem próximo deste feito após mais de
trinta anos de sua morte, essa cantora foi Fabiana Cozza, que consegue driblar
as danças, os giros, os atabaques e fez de O Canto Sagrado
(2013 / Agô Produções / 39,99) em uma
verdadeira aula de musicalidade e religiosidade em homenagem à grande dama do
samba. Mas vale lembrar que Fabiana Cozza chegou bem próximo desta realidade:
há um misto de arrepios com uma sensação de que Clara surgisse no palco há
qualquer momento durante os espetáculos e era justamente esta a sensação que
causa ao falarmos que Clara é insubistituível. Graças à religião, ao candomblé,
à umbanda (religiões estas que crescem demasiadamente no país), que a cantora
ganhou notoriedade ao ser uma das protagonistas mais sutis de rodas de samba e
de controvérsias para os seus desafetos. No disco Alvorecer
(1974 / Odeon / 19,99), Clara gravou Conto de Areia, canção que até hoje é cantada e lembrada e que fala
dos mistérios e segredos preservados nas densas bebedeiras da Bahia. A letra é
uma reza: restaura inquietas efígies de lendas e santos, contos e lendas,
misticismo e religião ao tecer o que há de mais belo neste canto. Desvendando
os mistérios dos santos, o disco ponteia o melhor do candomblé na voz doce e
meiga de uma das cantoras que se tornaria dama em questão de anos. Em Alvorecer tudo era inédito: desde a capa
do disco, que mostra uma Clara com vestes de baiana e com penduricalhos que
mais soavam como miçangas de deuses até sua devoção ao candomblé, religião que
não foi muito aceita por muitos na época. Mas para mostrar que Clara era Guerreira,
bateu o pé e fincou seu nome entre as cantoras mais populares do Brasil,
demonstrando que a força de seu canto e o brilho de sua face eram mais
significativos que qualquer outra coisa. Clara sempre dizia que seu canto era a
sua verdadeira vida, a sua história, a sua luz e que cantava porque gostava e a
cada disco lançado, a cantora trazia um pouco da história dos negros, da África
perdida no tempo, dos homens que matavam por gânancia, do amor repudiado por
desenganos. Obviamente que Alvorecer
surgiu para ser um dos discos mais célebres da carreira da cantora, sendo o
ponta pé inicial para a sua incursão na religião africana. Talvez o que o povo
brasileiro não saiba é que todos nós viemos da África, mesmo torcendo os
narizes brancos e o que Clara Nunes fez foi apenas reforçar e estimular as
mentes dessas pessoas preconceituosas a pensarem sobre tal assunto.
Alvorecer (1974)
/ Clara Nunes
Nota 10
Marcelo Teixeira
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