quinta-feira, 31 de julho de 2014

Entrevista: Alberto Salgado




Alberto Salgado: o entrevistado*
Uma das melhores vozes masculinas dos últimos tempos, Alberto Salgado é um cantor inspirado e transpassa essa inspiração a quem o ouve. Tudo o que vêm de Alberto soa como poesia, lirismo ou pura música, pois como o próprio cantor diz, a música é a expressão da vida em forma de som. Seu CD, Além do Quintal, foi lançado recentemente e conta com uma brasilidade impressionante, misturando ritmos e tendências musicais e demonstrando todo o seu equilíbrio contagiante ao compôr sobre a pluralidade da vida, colocando sobre isso toda a sua magnitude ao se impor como um dos cantores mais espetaculares da atualidade. Aproveitando o lançamento de seu primeiro disco, o Mais Cultura Brasileira teve o privilégio e a honra de poder bater um papo com este grande músico. Elogiado por dez entre dez estrelas da música, Alberto Salgado faz com que Brasília acorde mais animada ao som de suas músicas, sempre procurando levar sua voz ao ouvinte que não o conhece.  Nesta entrevista surpreendente, que vai do samba ao baião, Alberto Salgado revela detalhes de seu minucioso trabalho, diz o que há além de seu quintal e que os melhores cantores são Emílio Santiago, Elis Regina, Kiko Klaus e Juçara Marçal.

 

Marcelo Teixeira: Alberto, o que é música pra você?

Alberto Salgado: Música pra mim é a expressão da vida em forma de som.

M.T: De onde surgiram as inspirações para o disco Além do Quintal (2014)?

A.S: O disco Além do Quintal foi construído a partir de composições antigas e de parceiros naturais daqui de Brasília (meu quintal) e de parceiros de outros estados (além daqui), o que deu a primeira ideia de se colocar o nome desse disco homônimo à música Além do Quintal, feita em parceria com Atan Pinho, e que trata esta de tema ecológico. O disco Além do Quintal é na verdade uma espécie de catálogo dos meus posteriores discos. Por isso preocupei-me bastante em colocar ritmos diversos, dos quais cada ritmo presente no disco, representa um segmento diferente de música. Por exemplo, a própria faixa intitulada Além do Quintal, tem uma pegada bem africana e com influências da música árabe e indiana, porém sem perder a brasilidade também presente. E pretendo fazer o próximo disco todo naquela pegada mais tribal. A fim de dar um caráter mais homogêneo ao disco.  E assim será com todas as demais composições. São 12 faixas, mais uma remix no álbum Além do Quintal. Então terei muito trabalho nessa vida, graças a Deus!

M.T: Suas músicas são de altíssima qualidade, com começo, meio e fim e com letras que fogem do determinado comum das coisas, não fala apenas de amor e sim da nossa realidade cotidiana. Você acha que a sua música ajuda a difundir a qualidade musical de hoje em dia?

A.S: Modéstia parte acredito sim. Não só pelas composições, como também pelos amigos que gravaram comigo. Tendo em vista que nos anos 90 por exemplo, pouco vi e ouvi de trabalhos autorais como vem ocorrendo agora. E acredito que atualmente (graças a internet) podemos acessar trabalhos maravilhosos que ajudam muito a enriquecer a música brasileira de qualidade, que parecia estar tirando férias em outros países. Citarei aqui alguns que admiro demais e tenho muito respeito aos seus trabalhos. São eles (as): Nathália Lima, Kiko Klaus, Paulinho Beissá, Wilson Bebel, Juçara Marçal, Kiko Dinucci, Rodrigo Campos, Douglas Germano, André Abujamra, Raquel Coutinho, Fernanda Cabral, Vavá Afiouni, Andréa dos Santos, Alessandra Leão, Curumim, Túlio Borges, Litieh Pacelle, Eduardo Rangel, Silvério Pessoa, Arthur Maia entre outros que considero grandes artistas, que representam bem o lado bom da música brasileira. Sem contar os músicos e compositores que trabalham com música instrumental. Altíssimo nível!!!

M.T: Brasília sempre foi um pólo cultural muito rico e muito detalhado para todos nós. Do rock para a MPB, sempre esteve presente na vida cultural brasileira. Hoje Brasília recebe de braços abertos diversos ritmos musicais e a sua música tem apreço estimado por aí. Como se explica isso?

A.S: Brasília é um palco onde se reúne e apresenta a grande diversidade da cultura brasileira. Aqui temos acesso a todas as culturas presentes não só no Brasil, como também de diversos cantos do mundo. Sendo assim, percebi o quanto meu trabalho é aceito e recebido com muito carinho do público daqui. E por essa diversidade toda, acredito que não é difícil qualquer compositor com trabalho de qualidade passar batido, sem o devido e merecido reconhecimento do público. Temos público para tudo no Brasil. Porém o público daqui é bem exigente e com razão. Se a maioria gosta de boas coisas em minha cidade e estou no papel para servi-los com minha arte, terei que fazer o melhor possível para merecer esse precioso reconhecimento. O público é quem nos faz crescer e melhorar cada vez mais.

M.T: Pensa em fazer shows pelo Sudeste ou levar Além do Quintal para outras regiões do Brasil?

A.S: É o que mais quero! Percebi também que mesmo com a internet, ainda existe uma pressão sobre nós artistas em termos que sair de nossa cidade e buscar o eixo RJ-SP, para ampliar nossas portas e palcos. Infelizmente ou não, ainda é comum artistas fora desse eixo terem que abandonar suas cidades para fazer mais shows.

M.T: Em um país com tantas vozes femininas, a sua chega em um momento em que música pede passagem ou mais respeito?

A.S: Não diria mais respeito, pois temos belíssimas cantoras no Brasil. Mas não posso negar que minha voz pede passagem também. Ou melhor, espaço para mostrar meu canto.

M.T: Um cantor?
 
A.S: Emílio Santiago. Mas contemporâneo ao momento atual: Kiko Klaus.

M.T: Uma cantora?

A.S: Elis Regina. Mas contemporânea ao momento atual: Juçara Marçal.

M.T: Se você não fosse o excelente cantor que és, seria um excelente...?

A.S: Professor de música... (risos)

M.T: Numa de nossas conversas, você disse que não gostava de cantar nem de compor somente sobre o amor, sendo que a maioria das pessoas gosta de ouvir sobre isso e a maioria dos cantores canta sobre isso, mas você prefere ir para o lado contrário. Por quê?

A.S: Porque acredito demais no poder que nós compositores temos em auxiliar a sociedade e alertar para temas sociais de urgência. Como Saúde Pública, famílias que sofrem por ter alcoólatras ou usuários de crack, por exemplo, como citado na música Tem Uma Pedra, feita também em parceria com Atan Pinto. Aí com tantos problemas urgentes, não consigo ter um coração egoísta em exaltar apenas um amor que é menos abrangente (amor de namorados) que a necessidade do amor universal em ajudar muito mais pessoas com mensagem que reforcem uma ideia positiva de uma mudança a quem precisa. E muitas pessoas precisam, infelizmente. Porém nada tenho contra a quem canta só músicas românticas. Só sei do que gosto, do que não gosto e do que posso fazer. Mas também rolam duas canções neste álbum que soam como românticas, que são Cores da Vida e Lombra. Ambas de minha autoria.

M.T: Além do Quintal tem uma mistura de samba, baião, pitadas de romantismo, delicadeza. Qual foi o critério para fazer nascer o álbum?

A.S: Como é meu primeiro disco, o Além do Quintal, fiz escolha de algumas canções antigas, que eu precisava gravá-las para enfim, começar de fato outros discos com ritmos mais homogêneos. Sem desprezar a qualidade indiscutível do disco, claro. Porém, ele nasceu da necessidade de eu ter que montar um catálogo que represente através de cada música um segmento para cada próximo álbum.

M.T: Além do Quintal, para mim, é um dos melhores discos do ano de 2014, com ótimas letras, ótimas melodias e ótimas vibrações. Mas qual é o seu plano para depois deste mega sucesso?

A.S: Obrigado pelo elogio! Bem, meu plano é de circular ao máximo apresentando este trabalho a maioria das pessoas que eu puder. Quero cruzar o país com o passaporte que a música nos dá. Não sei se será possível, mas sonho é sonho e ainda bem que é de graça sonhar. Espero positivamente que eu possa alcançar e construir bons públicos através deste trabalho primoroso feito com muito amor e muito sonho.

M.T: O que há além do quintal, Alberto?

A.S: Além do quintal há muitos mundos a serem descobertos. Muitos sorrisos para serem admirados, muitos brilhos nos olhos. Mas também há muita gente precisando de ajuda e se conseguimos sair além do quintal, é porque de alguma forma merecemos ou precisamos.

M.T: Para encerrar, Alberto, como seria a vida sem música?

A.S: A vida não teria voz!

 
Muito obrigado por ceder um precioso tempo para esta entrevista, Alberto.

E pra você que quer conhecer um pouco mais da obra deste sensacional cantor e compositor, basta acessar os links abaixo para ter o melhor de sua música com apenas um clique.


Foto: Amanda Freitas
 

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Entrevista com Alberto Salgado
Por Marcelo Teixeira

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