segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Nheengatu: isso é Titãs?


Isso é Titãs?
Em tempos de guerra, política, pedofilia, mortes encomendadas, tráficos, policiais sendo massacrados, o grupo Titãs resolve fazer um CD totalmente voltado para essas políticas, envolvendo, entre outros assuntos, a religião e o preconceito. Confesso que não entendi o recado dado pela banda, que depois de cinco anos resolveram lançar o canhestro Nheengatu (2014 / Som Livre / 26,99). Com a saída de Charles Gavin, o grupo parece estar meio perdido em suas posições sobre música e perderam muito o conceito sobre a poesia com a qual abordavam os assuntos. Rock pesado ao estilo Cabeça Dinossauro lançado em 1986, o grupo não é mais o mesmo e está passando do tempo de se aposentar: as músicas aqui cantadas são horríveis, com apelos comerciais degenerativos para o público de hoje e com uma onda de violência auditiva absurda e explícita. O disco foi lançado em maio deste ano e a palavra usada como título significa Língua Geral, compilação que os jesuítas fizeram no século XVII dos diferentes dialetos indígenas brasileiros para que índios e portugueses se entendessesm, conforme explicam em um post na página oficial da banda na rede social. Já a pintura da capa de Pieter Brugel retrata a Torre de Babel e a produção do disco é de Rafael Ramos. Com tanta informação e som pesado em meio a protestos, o disco saiu pela culatra e se torna o pior lançamento fonográfico da banda dos últimos tempos. Se for para continuar assim, aposto que mais um integrante logo o mais sairá do grupo. Polêmico ao seu jeito, o disco tem letras bem explícitas do ponto de vista em que cada faixa é apresentada e a música é digerida: Fardado, Mensageiro da Desgraça, República dos Bananas, Fala, Renata e Chegada ao Brasil (Terra à Vista) são músicas violentas e que expressam o ódio e o preconceito. Falta muita coisa na nova fase do Titãs (fase esta que falta há tempos) e o que mais pesa neste contexto é a falta da poesia de Arnaldo Antunes e Nando Reis, que tinham uma característica ímpar em retratar no rock as belezas sutis e melódicas em tempos de paz. Não há nada de interessante a se ouvir em Nheengatu, porque a impressão que a banda passa é a de que tenta retornar ao início de carreira, mas sem a malícia juvenil que os consagraram. Falta aqui maturidade poética, moral e pessoal do grupo para com os fãs: ao que parece, o grupo despeja em nossa face todo o mal que o Brasil e o mundo se consagrou depois de seus discos serem lançados. E é aí que não entendo o porque um grupo tão conceituado se deixa rebaixar tanto, a ponto de serem ridicularizados com músicas pesadas em tempos que não há espaço para músicas pesadas. Sinceramente, não tenho o que dizer deste lançamento do grupo de senhores, mas confesso que não vale a pena gastar um centavo para tê-lo em mãos. Nem em mentes! A pergunta que fica no ar: quem será o próximo a sair da banda?

 
Nheengatu / Titãs
Nota 3
Marcelo Teixeira

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