Isso é Titãs? |
Em tempos de guerra, política,
pedofilia, mortes encomendadas, tráficos, policiais sendo massacrados, o grupo
Titãs resolve fazer um CD totalmente voltado para essas políticas, envolvendo,
entre outros assuntos, a religião e o preconceito. Confesso que não entendi o
recado dado pela banda, que depois de cinco anos resolveram lançar o canhestro Nheengatu (2014 / Som Livre / 26,99).
Com a saída de Charles Gavin, o grupo parece estar meio perdido em suas
posições sobre música e perderam muito o conceito sobre a poesia com a qual
abordavam os assuntos. Rock pesado ao estilo Cabeça
Dinossauro lançado em 1986, o grupo não é mais o mesmo e está
passando do tempo de se aposentar: as músicas aqui cantadas são horríveis, com
apelos comerciais degenerativos para o público de hoje e com uma onda de
violência auditiva absurda e explícita. O disco foi lançado em maio deste ano e
a palavra usada como título significa Língua
Geral, compilação que os jesuítas fizeram no século XVII dos diferentes
dialetos indígenas brasileiros para que índios e portugueses se entendessesm,
conforme explicam em um post na página oficial da banda na rede social. Já a
pintura da capa de Pieter Brugel retrata a Torre de Babel e a produção do disco
é de Rafael Ramos. Com tanta informação e som pesado em meio a protestos, o
disco saiu pela culatra e se torna o pior lançamento fonográfico da banda dos
últimos tempos. Se for para continuar assim, aposto que mais um integrante logo
o mais sairá do grupo. Polêmico ao seu jeito, o disco tem letras bem explícitas
do ponto de vista em que cada faixa é apresentada e a música é digerida: Fardado, Mensageiro da Desgraça, República
dos Bananas, Fala, Renata e Chegada ao Brasil (Terra à Vista) são músicas
violentas e que expressam o ódio e o preconceito. Falta muita coisa na nova
fase do Titãs (fase esta que falta há tempos) e o que mais pesa neste contexto
é a falta da poesia de Arnaldo Antunes e Nando Reis, que tinham uma
característica ímpar em retratar no rock as belezas sutis e melódicas em tempos
de paz. Não há nada de interessante a se ouvir em Nheengatu,
porque a impressão que a banda passa é a de que tenta retornar ao início de
carreira, mas sem a malícia juvenil que os consagraram. Falta aqui maturidade
poética, moral e pessoal do grupo para com os fãs: ao que parece, o grupo
despeja em nossa face todo o mal que o Brasil e o mundo se consagrou depois de
seus discos serem lançados. E é aí que não entendo o porque um grupo tão
conceituado se deixa rebaixar tanto, a ponto de serem ridicularizados com
músicas pesadas em tempos que não há espaço para músicas pesadas. Sinceramente,
não tenho o que dizer deste lançamento do grupo de senhores, mas confesso que
não vale a pena gastar um centavo para tê-lo em mãos. Nem em mentes! A pergunta
que fica no ar: quem será o próximo a sair da banda?
Nheengatu /
Titãs
Nota 3
Marcelo Teixeira
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