segunda-feira, 28 de julho de 2014

Gal Costa canta e encanta Chico e Caetano


Gal entre amigos
Se cantar as músicas de Chico Buarque e Caetano Veloso já é um sopro de alívio aos nossos ouvidos, imagem algumas dessas pérolas na voz cristalina e suave de Gal Costa? Pois bem, a cantora baiana resolveu coletar algumas das melhores músicas do conterrâneo Caetano e do carioca Chico para fazer-lhes uma justa homenagem no CD Mina D’água do meu canto (1995 / BMG Ariola / 26,99), que teve a direção primorosa de Jaques Morelenbaum e é um dos mais respeitosos discos de toda a carreira da cantora. Lançado após o provocativo show e disco O Sorriso do Gato de Alice, em que mostrava os seios na música Brasil, de Cazuza, a cantora tinha motivos de sobra para lançar um disco mais expoente de sua carreira, mostrando sua irreverência afetiva para com os amigos homenageados e atenuando-se das polêmicas do ano anterior. A prova disso está marcada neste disco, marcado pelo virtuosismo de sua voz e pelas belas palavras de cada faixa, como Odara (Caetano), Futuros Amantes (Chico), Língua (Caetano) ou A Rita (Chico). Gal Costa, com sua voz de panela como atestou em entrevistas em início de carreira,  se viu obrigada a lançar um disco mais denso, porém não de todo melancólico, para alfinetar os críticos da época, que apostavam na decadência da cantora. Mero engano. Para alguns críticos da época, de fato, o disco não passou de mais um na carreira da cantora, mas para muitos (como para mim, que não vivenciou corretamente esta época do Sorriso), o disco, que encerra de vez em formato de vinil na carreira da cantora, se transformou em um dos mais experimentais discos em homenagem em vida de dois dos maiores gênios da música popular brasileira. Há beleza no canto de Gal em todas as faixas do disco e a atmosfera atemporal é a mais respeitosa possível, transmitindo uma certa inquietude em sua voz e, ao mesmo tempo, um certo ar de nostalgia. Todas as faixas deste magnífico álbum tem a sua devida importância para a própria Gal Costa, pois era a sua necessidade de se reinventar, mostrar a sua cara e se firmar como uma das cantoras mais experientes do país. Há lirismo poético aqui, assim como há o romantismo. Não há política, mesmo em se tratando de dois compositores politicamente incorretos. Mas o amor imperando neste, que é um dos mais brilhantes discos de Gal para firmar o elo de amizade entre ela e seus dois gênios amigos.
 

Mina d’água do meu canto (1995) / Gal Costa
Nota 10
Marcelo Teixeira

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