As verdades de Marisa |
Marisa Monte soube aproveitar boa
parte do repertório de Verdade, Uma
Ilusão (2014 / EMI / 24,99 ) para atrair o grande público, trazer de
volta os fãs dispersos, fazer nova turma de fãs e angariar novas aventuras. Marisa
Monte não é mais aquela cantora de início de carreira que tenta ser a nova
queridinha do momento: ela tem estrada, chão e personalidade. Mas no decorrer
do tempo, a cantora perdeu fãs para outras cantoras em atividade mais recente e
isso deve-se muito ao fato da cantora demorar para lançar discos: os fãs se
dispersaram e Marisa Monte deixou de produzir discos maravilhosos como as do
início de sua carreira brilhante. É evidente que O
Que Você Quer Saber de Verdade (2011) e Infinito
Particular (2006) foram discos lançados com pompa de grande estrela,
mas sem o quilates de público e crítica, diferentemente de Universo
ao Meu Redor (2006), que foi
recebido com críticas positivas e com muita aceitação no mercado fonográfico. Aqui
Marisa Monte se reinventa da melhor maneira possível: o jeito de ser Marisa
Monte. Assim como fizera com Barulhinho Bom
(1996), a cantora trouxe para este novo lançamento canções que já
cantou em outros álbuns, sem grandes pretensões e sem grandes alardes. Com
interpretação magistral, a cantora não dispensa seu timbre com o fraco
repertório do disco anterior e realça obras-primas solúveis de outros tempos. Mas o que Marisa fez foi extraordinário:
pincelou aqui e ali músicas de seu repertório em discos que cairam no
esquecimento do grande público e as cantou de modo absoluto, nunca antes
regravados por ela ou por outro cantor, exceto E.C.T, imortalizado na voz de Cássia Eller. Da cantora californiana
radicada no México Julieta Venegas vem Ilusão,
uma doce canção de amor que teve versão da própria Marisa com o ex-titã Arnaldo
Antunes. Entre uma canção e outra de O Que Você quer
Saber de Verdade, surgem as pérolas como Diariamente, do CD Mais (1991),
De Mais Ninguém, do CD Cor de Rosa e Carvão (1994), eleito até
hoje um dos melhores da cantora, Arrepio,
do CD duplo Barulhinho Bom (1996) e as
populares Gentileza e Não Vá Embora, do CD Memórias,
Crônicas e Declarações de Amor (2000). Ainda tem uma
regravação em italiano de Sono Come tu mi
vuoi e depois disso nada mais é legal de ouvir. O disco é morno e não chega
a ser considerado um novo Barulhinho Bom,
que tem formato mais animado e menos popular. Mesmo sendo um disco completamente tíbio, a
cantora já lidera com mais um feito: Verdade, Uma
Ilusão já é disco de Ouro, coisa normal na carreira magistral de
Marisa Monte. Talvez o único defeito seja escolher um repertório tão fraco e
menos visceral para tentar prender a platéia. Poderia ousar mais, colocando
músicas mais animadas, dançantes ou então fazendo roupagens novas porque até a
respiração de Diariamente é igual a
gravada originalmente em 1991, com as mesmas entradas e saliências. Assim como De Mais Ninguém, que mais se parece com
uma canção de Paulinho da Viola, mas é uma grande música da cantora com Arnaldo
Antunes que fala das dores do amor abandonado, tem a mesma melodia da anterior.
Se Marisa Monte ousasse ainda mais no capricho de suas canções, na certa este
seria o disco do ano. Mas por enquanto, a verdade aqui é apenas uma ilusão.
Verdade, uma
Ilusão / Marisa Monte
Nota 8
Marcelo Teixeira
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