quarta-feira, 25 de julho de 2012

João Bosco - 40 Anos Depois


João Bosco em sua plena forma
Se Elis Regina estivesse viva, na certa gravaria Papel Marchê, música composta por João Bosco e Aldir Blanc nos anos 90 e que foi a música mais executada e gravada por grandes nomes da MPB. Se João Bosco tivesse composto a canção nos anos 70, certamente Elis a gravaria e com estrondoso sucesso. Zizi Possi, que fora cogitada como a sucessora de Elis após sua morte precoce, gravou a canção lindamente, que não precisaria de retoques ou outra grande interprete para canta-la. Assim como Milton Nascimento, as músicas de João Bosco foram feitas para Elis, mesmo as compostas nos anos 90 e no início do século vinte e um. As músicas do disco Na Esquina remete ao disco Elis 1973, tamanha a bela conjuntura de jogos de palavras. Isso acontece com o disco Os Malabaristas do Sinal Vermelho (2003), em que algumas faixas nos dão a dimensão de que Elis está ali, captando o som, administrando as palavras, sentindo a letra da canção.

Se 40 minutos são uma eternidade, 40 horas são demoradas e podem-se produzir maravilhas, imagina o que se pode fazer em 40 anos! São tantos se, que João Bosco, completando 40 anos de sucesso e carreira, pode se dar ao luxo de dizer que fez muito pela música, pela MPB, pela cultura brasileira e por todos nós. Cantado por ilustres bambas da MPB, de Clementina de Jesus a Caetano Veloso, Ana Carolina, Céu, Maria Rita, Chico Buarque, Clara Nunes e Rebecca Matta, João Bosco é um ícone a ser respeitado no cenário musical de todos os tempos e seu legado é de extrema competência.

Aos 65 anos, o cantor e compositor de Ponte Nova, cidade da zona da mata mineira, retorna para onde tudo começou: a canção Agnus Sei, parceria dele com Aldir Blanc, lançada em 1972, num disco de bolso comercializado pelo jornal O Pasquim. Com forte influência da arte barroca mineira, o cantor dá nova roupagem à canção ao contar com a participação especial dos também mineiros Milton Nascimento e Toninho Horta. Faces sob o sol, os olhos na cruz / Os heróis do bem prosseguem na brisa da manhã / Vão levar ao reino dos minaretes / A paz na ponta dos arietes / A conversão para os infiéis.

Os tais mestres da tradição e de geração escolhidos por João Bosco são Tom Jobim, presente com Fotografia; o cubano Ernesto Grenet, com a charmosa Drume Negrita; Paulinho da Viola, com Tudo Se Transformou; Noel Rosa, na parceria com Vadico, Pra Que Mentir; e Milton Nascimento, com a parceria com Márcio Borges, Tarde (um dos símbolos do Clube da Esquina) e instrumental Julia (ironicamente o nome de sua filha, a também cantora Julia Bosco), que conta com a participação do amigo de longa data e pianista Cristóvão Bastos. Chico Buarque é o autor de Bom Tempo, a qual interpreta com João Bosco e que termina como se fosse um poderoso samba-enredo.

Chico Buarque faz outro dueto com João Bosco num dos maiores sucessos deste, O Mestre-Sala dos Mares, parceria com Aldir Blanc lançada no álbum Caça a Raposa, de 1975. Do mesmo trabalho, vem outras três parcerias com Blanc – a faixa-título, “Bodas de Prata, que conta com Toninho Horta e Cristóvão Bastos; e De Frente Pro Crime, com a cantora Roberta Sá e o instrumental Trio Madeira Brasil. Esse trio também está presente em Plataforma, outra composição de Blanc-Bosco, originalmente do álbum Tiro de Misericórdia, de 1977.

Da safra mais recente, aparecem Tanajura, do disco Não vou pro céu, mas já não vivo no chão, de 2009; Jimbo no Jazz, parceria com Nei Lopes, do mesmo trabalho; e a maravilhosa Eu Não Sei Seu Nome Inteiro, do disco Os Malabaristas do Sinal Vermelho composta com o filho Francisco Bosco e o eterno amigo João Donato, que participa tocando piano.

João Bosco é acompanhado de músicos que já estiveram com ele nas estradas da vida. São eles: Ricardo Silveira (guitarra), Nelson Faria (guitarra), Jorge Helder (baixo acústico), João Baptista (baixo elétrico), Armando Marçal (percussão) e Kiko Freitas (bateria). E, desse modo, o artista estabelece, mesmo que sem se valer das músicas mais conhecidas do grande público, um intenso diálogo com seu passado e com o futuro.



João Bosco – 40 Anos Depois

Nota 10

Marcelo Teixeira

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