João Bosco em sua plena forma |
Se
Elis Regina estivesse viva, na certa gravaria Papel Marchê, música composta por
João Bosco e Aldir Blanc nos anos 90 e que foi a música mais executada e
gravada por grandes nomes da MPB. Se João Bosco tivesse composto a canção nos
anos 70, certamente Elis a gravaria e com estrondoso sucesso. Zizi Possi, que
fora cogitada como a sucessora de Elis após sua morte precoce, gravou a canção
lindamente, que não precisaria de retoques ou outra grande interprete para
canta-la. Assim como Milton Nascimento, as músicas de João Bosco foram feitas
para Elis, mesmo as compostas nos anos 90 e no início do século vinte e um. As
músicas do disco Na Esquina remete ao disco Elis 1973, tamanha a bela conjuntura
de jogos de palavras. Isso acontece com o disco Os Malabaristas do Sinal Vermelho
(2003), em que algumas faixas nos dão a dimensão de que Elis está ali, captando
o som, administrando as palavras, sentindo a letra da canção.
Se 40 minutos são uma
eternidade, 40 horas são demoradas e podem-se produzir maravilhas, imagina o
que se pode fazer em 40 anos! São tantos se,
que João Bosco, completando 40 anos de sucesso e carreira, pode se dar ao luxo
de dizer que fez muito pela música, pela MPB, pela cultura brasileira e por
todos nós. Cantado por ilustres bambas da MPB, de Clementina de Jesus a Caetano
Veloso, Ana Carolina, Céu, Maria Rita, Chico Buarque, Clara Nunes e Rebecca
Matta, João Bosco é um ícone a ser respeitado no cenário musical de todos os
tempos e seu legado é de extrema competência.
Aos 65 anos, o cantor e
compositor de Ponte Nova, cidade da zona da mata mineira, retorna para onde
tudo começou: a canção Agnus Sei,
parceria dele com Aldir Blanc, lançada em 1972, num disco de bolso
comercializado pelo jornal O Pasquim.
Com forte influência da arte barroca mineira, o cantor dá nova roupagem à
canção ao contar com a participação especial dos também mineiros Milton
Nascimento e Toninho Horta. Faces sob o
sol, os olhos na cruz / Os heróis do bem prosseguem na brisa da manhã / Vão
levar ao reino dos minaretes / A paz na ponta dos arietes / A conversão para os
infiéis.
Os tais mestres da tradição
e de geração escolhidos por João Bosco são Tom Jobim, presente com Fotografia; o cubano Ernesto Grenet, com
a charmosa Drume Negrita; Paulinho da
Viola, com Tudo Se Transformou; Noel
Rosa, na parceria com Vadico, Pra Que
Mentir; e Milton Nascimento, com a parceria com Márcio Borges, Tarde (um dos símbolos do Clube da
Esquina) e instrumental Julia
(ironicamente o nome de sua filha, a também cantora Julia Bosco), que conta com
a participação do amigo de longa data e pianista Cristóvão Bastos. Chico
Buarque é o autor de Bom Tempo, a
qual interpreta com João Bosco e que termina como se fosse um poderoso
samba-enredo.
Chico Buarque faz outro
dueto com João Bosco num dos maiores sucessos deste, O Mestre-Sala dos Mares, parceria com Aldir Blanc lançada no álbum Caça
a Raposa, de 1975. Do mesmo trabalho, vem outras três parcerias com
Blanc – a faixa-título, “Bodas de Prata,
que conta com Toninho Horta e Cristóvão Bastos; e De Frente Pro Crime, com a cantora Roberta Sá e o instrumental Trio
Madeira Brasil. Esse trio também está presente em Plataforma, outra composição de Blanc-Bosco, originalmente do álbum
Tiro de Misericórdia, de 1977.
Da safra mais recente, aparecem
Tanajura, do disco Não vou pro céu, mas já não vivo no chão,
de 2009; Jimbo no Jazz, parceria com
Nei Lopes, do mesmo trabalho; e a maravilhosa Eu Não Sei Seu Nome Inteiro, do disco Os Malabaristas do Sinal Vermelho
composta com o filho Francisco Bosco e o eterno amigo João Donato, que
participa tocando piano.
João Bosco é acompanhado de
músicos que já estiveram com ele nas estradas da vida. São eles: Ricardo
Silveira (guitarra), Nelson Faria (guitarra), Jorge Helder (baixo acústico),
João Baptista (baixo elétrico), Armando Marçal (percussão) e Kiko Freitas
(bateria). E, desse modo, o artista estabelece, mesmo que sem se valer das
músicas mais conhecidas do grande público, um intenso diálogo com seu passado e
com o futuro.
João
Bosco – 40 Anos Depois
Nota
10
Marcelo
Teixeira
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