A cantora mineira Roberta Campos: reservada |
À
primeira audição, a cantora, violonista e compositora mineira Roberta Campos,
natural de Caetanópolis (MG), pode parecer apenas mais uma das dezenas de vozes
suaves femininas que apareceram nos últimos anos. É só impressão. Além de compositora
de boa parte das faixas do recém-lançado segundo álbum, Diário de Um Dia, ela
recupera o estilo dos menestréis, se cerca de ótimos parceiros e músicos, e
escolhe boas canções de outros autores para criar um disco conceitual e
consistente. Produzido e mixado por Rafael Ramos, o trabalho destaca-se também
pela riqueza dos arranjos.
A proposta de aconchego
proposta pela cantora fica explícita logo na faixa-título, composta por ela e
que abre o trabalho: Deita do meu lado /
Passo o feriado / Todo com você / Toda minha vida / Numa tela colorida / Vejo o
sol nascer. Ela é sucedida por Rio
Sem Água, marcada por uma grandiosidade orquestral, proporcionada pela
percussão de Marcos Suzano, baixo de Dunga, Fender Rhodes de Humberto Barros,
os teclados de Fabrizio Iorio e Mellotron do produtor Rafael Ramos.
A balada Meu Nome é Saudade de Você, de Paulinho
Moska, que faz backing e toca violão, é romântica, sem ser piegas, e confirma o
tom do álbum, marcado pela interpretação que cria uma intimidade com o ouvinte,
marcada até por certa infantilidade tonal, e apresenta uma grande profusão de
cores, combinando com uma sonoridade que remete ao grupo mineiro 14 Bis: Vem me matar / Que o meu nome é saudade de
você / Vem me amar / Nunca some a vontade de te ver / Tento tanto entender / E
continuo sem saber.
Uma pegada pop eletrônica
marca Quem Me Dera, de Zélia Duncan,
que conta com a guitarra preciosa de Davi Moraes, a viola de Christiane
Springel, o violino spalla de Bernardo Bessler, o violoncelo de Marcos Ribeiro,
os violinos de Ruda Issa, Rogerio Rosa, Marco Catto, Pedro Mibielli e Carol
Panesi, e os arranjos de cordas do craque Lincoln Olivetti. O mesmo clima segue
na triste Sete Dias, parceria com Danilo
Oliveira, e no hit nato Carne da Boca,
de Mauro Sta. Cecília, Frejat e Guto Goffi, e que traz a Lap Steel e o Mandolim
de Christiaan Oyens, conhecido pelo trabalho com a mesma Zélia Duncan: Agora descubra quem diz a verdade / A carne
da boca, teus beijos que ardem.
O clima delicado da
menestrel Roberta Campos retorna na doce Pedaço
do Céu e nas parcerias com Carolina Zocoli, A Suave Volta e De Você Pra
Mim. Se elas se aproximam no pop romântico, pontuado por batidas
eletrônicas, as três canções possuem letras que tratam da saudade do amado, que
provoca uma paixão cada vez mais avassaladora, e são marcadas até por certa
pieguice, cujo clímax vem em De Você Pra
Mim: Minha fortaleza é você / Suas
palavras me deixam tão feliz / Toda vez que te encontro não me sinto só.
Com ares Beatles
psicodélicos, marcados pelos samplers de cordas de Humberto Barros e pelo
Mellotron de Fabrizio Iorio e Rafael Ramos, Só
Para Depois, marca o momento de sofrimento e crise amorosa. Mas para chegar
de sofrimento, em seguida, vem o rock E
Eu Fico e depois o romance é retomado no country delicioso, com ares de
Clube da Esquina, Vida Prática do Tempo:
Nós dois num barco a remo / Passo a passo
/ Nós dois e um manual / Da vida prática e do tempo / Mais fácil te dizer / Do
que esconder o meu amor / Preencho as páginas em branco / Pontuo os nossos
desenganos.
Diário de Um Dia destaca-se,
portanto, por dois aspectos principais. A unidade temática das canções que se
unem umas as outras tematicamente, como um diário que retrata um amor que chega
avassalador, com potência máxima, atinge seu ápice e entra em crise, com a
narradora sofrendo inicialmente e depois se recompondo, demonstrando ter forças
e vontade para começar tudo de novo. Tudo marcado pela doce, mas segura,
interpretação da menestrel pop roqueira Roberta Campos.
Diário
de Um Dia / Roberta Campos
Nota
10
Marcelo
Teixeira
Nenhum comentário:
Postar um comentário