sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Anitta: vedete, cantora, medíocre

Anitta: voz do funk?
A bestialidade é a condição de quem ou daquilo que é bestial, temendo um comportamento que assemelha o homem e  mulher à besta com uma brutalidade ou imoralidade perceptível. Não podemos negar que Anitta seja um furacão estrondoso com uma potência relevância dentro da MPB, mas dizer que ela é a maior cantora com nível de voz acentuado e um pouco de sensatez dentro da música popular é incoerente aos padrões estéticos musicais vigentes. Não podemos, reitero também, menosprezar o tamanho de sua importância e valor perante seus milhões de fãs pelo agora mundo afora, mas é preciso respeitar os limites éticos e políticos que a pluralidade e a transversalidade exigem. Anitta voltou ao topo da parada de sucesso com um meteoro estilístico que marcou sua entrada no mundo das vedetes e cantoras e outras medíocres artistas que polarizam nossas mentes e reações. Anitta encabeça todas essas qualidades: é vedete, é cantora, mas também é medíocre. Seu mais recente sucesso, Vai Malandra, nada mais é que um tiro no peito do cidadão brasileiro que adere às políticas da boa vizinhança quando diz respeito aos valores morais da constituição musical. Não que a música tenha que ter um certo limite ou uma compreensão da filosofia dentro do contexto social e antropológico, mas a música e, principalmente, o clipe, são uma afrontosa negligência aos apelos civilizados de pessoas que lutaram anos e anos a fio por uma contra censura monopolizada e que hoje recebem bem na sua cara uma chuvarada de bundas e peitos e homens e mulheres pelados. Com ou sem silicone, o que mais se vê nesse clipe é a apologia ao sexo gratuito, à vulgaridade explícita, ao papel cafajeste do homem do morro e da mulher que usa cabelos estilo rastafári para poder se impor como mulher de respeito ou, em outras palavras, mulher de malandro. Está nitidamente claro e evidente que Anitta não voltou ao mundo do funk apenas por voltar: tem um contexto social e político da própria cantora acerca desse movimento. Anitta não criou o funk brasileiro e nem é detentora do estilo. Anitta não resgatou o funk e muito menos será coroada a rainha funkeira do morro e da comunidade, mas a música deixa em destaque que a mulher precisa de um empoderamento perante a sociedade para exigir respeito.O respeito por meio da bunda, dos glúteos siliconados ou não e do peitão à mostra. Enquanto Elza Soares (A Mulher do Fim do Mundo, 2016) veio com um disco sensacional em prol da luta pelas mulheres, pelos negros e pelos esfarrapados, Anitta surge com uma música que extrapola os limites da selvageria imoral ao abordar o mesmo tema. Gosto da Anitta e a respeito como cantora, como mulher e artista que és, mas não posso me curvar diante tanta insensatez imoral para poder se autorretratar perante uma canção que mostra glúteos deformados, partes pélvicas suadas e cabelos oxigenados mostrando que a periferia tem voz e vez. Lembremos que a comunidade precisa ter voz e vez, mas não com um festival de imbecilidade assistida como esse clipe de Vai Malandra. Enquanto a comunidade e o funk lutarem por uma democracia de igualdade e equidade sem mostrar seus dotes corpóreos, estaremos falando a mesma língua para uma emancipação da sociedade. Mas enquanto estiverem lutando em prol de glúteos, o movimento e a comunidade retratada perdem seus direitos pela tal igualdade e por uma tal de equidade.


Anitta: vedete, cantora, medíocre
Por Marcelo Teixeira

Nenhum comentário: