Anitta: voz do funk? |
A bestialidade é a condição de quem
ou daquilo que é bestial, temendo um comportamento que assemelha o homem e mulher à besta com uma brutalidade ou
imoralidade perceptível. Não podemos negar que Anitta seja um furacão
estrondoso com uma potência relevância dentro da MPB, mas dizer que ela é a
maior cantora com nível de voz acentuado e um pouco de sensatez dentro da
música popular é incoerente aos padrões estéticos musicais vigentes. Não
podemos, reitero também, menosprezar o tamanho de sua importância e valor
perante seus milhões de fãs pelo agora mundo afora, mas é preciso respeitar os
limites éticos e políticos que a pluralidade e a transversalidade exigem.
Anitta voltou ao topo da parada de sucesso com um meteoro estilístico que
marcou sua entrada no mundo das vedetes e cantoras e outras medíocres artistas
que polarizam nossas mentes e reações. Anitta encabeça todas essas qualidades:
é vedete, é cantora, mas também é medíocre. Seu mais recente sucesso, Vai Malandra, nada mais é que um tiro no
peito do cidadão brasileiro que adere às políticas da boa vizinhança quando diz
respeito aos valores morais da constituição musical. Não que a música tenha que
ter um certo limite ou uma compreensão da filosofia dentro do contexto social e
antropológico, mas a música e, principalmente, o clipe, são uma afrontosa
negligência aos apelos civilizados de pessoas que lutaram anos e anos a fio por
uma contra censura monopolizada e que hoje recebem bem na sua cara uma chuvarada de bundas e peitos e homens e
mulheres pelados. Com ou sem silicone, o que mais se vê nesse clipe é a
apologia ao sexo gratuito, à vulgaridade explícita, ao papel cafajeste do homem
do morro e da mulher que usa cabelos estilo rastafári para poder se impor como
mulher de respeito ou, em outras palavras, mulher de malandro. Está nitidamente
claro e evidente que Anitta não voltou ao mundo do funk apenas por voltar: tem
um contexto social e político da própria cantora acerca desse movimento. Anitta
não criou o funk brasileiro e nem é detentora do estilo. Anitta não resgatou o
funk e muito menos será coroada a rainha funkeira do morro e da comunidade, mas
a música deixa em destaque que a mulher precisa de um empoderamento perante a
sociedade para exigir respeito.O respeito por meio da bunda, dos glúteos siliconados ou não e do peitão à mostra. Enquanto Elza Soares (A Mulher do Fim do Mundo,
2016) veio com um disco sensacional em prol da luta pelas mulheres, pelos
negros e pelos esfarrapados, Anitta surge com uma música que extrapola os
limites da selvageria imoral ao abordar o mesmo tema. Gosto da Anitta e a
respeito como cantora, como mulher e artista que és, mas não posso me curvar diante
tanta insensatez imoral para poder se autorretratar perante uma canção que
mostra glúteos deformados, partes pélvicas suadas e cabelos oxigenados
mostrando que a periferia tem voz e vez. Lembremos que a comunidade precisa ter
voz e vez, mas não com um festival de imbecilidade assistida como esse clipe de
Vai Malandra. Enquanto a comunidade e o funk lutarem por uma democracia de
igualdade e equidade sem mostrar seus dotes corpóreos, estaremos falando a
mesma língua para uma emancipação da sociedade. Mas enquanto estiverem lutando
em prol de glúteos, o movimento e a comunidade retratada perdem seus direitos
pela tal igualdade e por uma tal de equidade.
Anitta:
vedete, cantora, medíocre
Por
Marcelo Teixeira
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