Emília: revelação do Norte
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Ela é amapaense, cresceu em Minas
Gerais, mas vive atualmente em Brasília e é da capital do Brasil que surge uma
das cantoras que merecem ser ouvidas e admiradas por seu canto, graça, beleza e
espontaneidade. Emília Monteiro tem todos os atributos para ser considerada uma
das maiores cantoras do Brasil, pois sua música é rica em elementos rítmicos do
norte do país, respeitando a sonoridade opulenta de cada estado. Lançando Cheia de Graça (2012 / Independente - Trattore / 27,99) este ano, Emília Monteiro é uma dessas cantoras que faltavam
no mercado fonográfico para falar do povo do norte, suas referencias e seus
estilos, e que o CD chega em um momento certo dentro da MPB: com pompa de um
grande disco, Cheia de Graça merece todos os destaques e ser considerado um
dos melhores discos do novo século. É
um CD com referência amazônica, mais especificamente do Pará e Amapá. Ritmos
como o carimbó, marabaixo, carimbó chamegado, batuque e lundu relidos em
arranjos contemporâneos e universais, além de outras músicas também
percussivas, mais o valor da MPB contemporânea. No CD há músicas inéditas de
compositores já conhecidos e que compõe com vontade e satisfação sempre
pensando no melhor da música como Zeca Baleiro, Celso Viáfora, Simone
Guimarães, Ellen Oléria e Dona Onete e outros igualmente talentosos, porém
ainda não conhecidos da grande mídia (de Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro).
Os
batuques são manifestações que se ramificou do candomblé e foi implantada na
Amazônia na era colonial, da mesma forma como nas demais províncias e regiões
brasileiras. O batuque é a denominação genérica dada pelos portugueses para
toda e qualquer dança de negros ou qualquer dança de tambor de caráter
religioso ou não. No Pará, Amapá e Amazonas, é a denominação comum para os
cultos afro-brasileiros. No Amapá de Emília Monteiro e em sua música, o batuque
assume rituais miscigenados, praticados nas comunidades festeiras e em outras
de origem negra. A
mais extraordinária manifestação de criatividade artística do povo paraense foi
criada pelos índios Tupinambá que, segundo os historiadores, eram dotados de um
senso artístico invulgar, chegando a ser considerados, nas tribos, como
verdadeiros semi-deuses.
Inicialmente,
segundo tudo indica, a Dança do Carimbó
era apresentada num andamento monótono, como acontece com a grande maioria das
danças indígenas. Quando os escravos africanos tomaram contato com essa
manifestação artística dos Tupinambá começaram a aperfeiçoar a dança, iniciando
pelo andamento que, de monótono, passou a vibrar como uma espécie de variante
do batuque africano. Por isso contagiava até mesmo os colonizadores portugueses
que, pelo interesse de conseguir mão-de-obra para os mais diversos trabalhos,
não somente estimulavam essas manifestações, como também, excepcionalmente,
faziam questão de participar, acrescentando traços da expressão corporal
característica das danças portuguesas. Não é à toa que a Dança do Carimbó apresenta, em certas passagens, alguns movimentos
das danças folclóricas lusitanas, como os dedos castanholando na marcação certa
do ritmo agitado e absorvente. Na
língua indígena carimbó - Curi (Pau) e Mbó ( Oco ou furado), significa pau que
produz som. Em alguns lugares do interior do Pará continua o título original de
Dança do Curimbó. Mais recentemente, entretanto, a dança ficou nacionalmente
conhecida como Dança do Carimbó, sem qualquer possibilidade de transformação. E
são essas danças que estão representadas no belo CD Cheia de Graça, revelando
os ritmos do Norte.
No
disco, Emília Monteiro reúne variadas influências da MPB e de seu Amapá natal,
com elementos europeus, africanos e ameríndios. Participação de Dona Onete em Eu Quero Esse Moreno pra Mim. A
compositora paraense também é autora de Veneno
de Cobra; as duas músicas são inéditas. Destaque ainda para Mal de Amor, de Joãozinho Gomes e Val
Milhomem, sucesso que marcou a carreira de Emília na noite macapaense. A
cantora disponibilizou o CD no site www.soundcloud.com/emiliamonteiro. Lá você poderá ter uma noção mais
abrangente da musicalidade do CD como um todo. Eu destaco As deliciosas Mandacaru e Descalço (Nanon) compositor inédito de São Paulo, Coisinha (Zeca Baleiro/Suely Mesquita), Meus Ventos (Márcia Tauil / Simone Guimarães).
Emília
Monteiro me encanta, me fascina e me influência. Seu canto é embalado por sons
amazônicos e africanos e esse é todo o emaranhado de caracteres que a cantora
exprime ao se deleitar em sua música. Logo nos encantamos com a regionalidade
musical desta amapaense simpática, sorriso largo e inspirador. Sempre antenada
com os movimentos artísticos, Emília busca na sonoridade de seu som, atributos
para que sua música seja cada dia mais levada por multidões e que não fique
apenas no reduto nortista. Emília
Monteiro é uma guerreira e seu som precisa ser desbravado pelos quatro cantos
deste país, revelando uma das melhores cantoras de todos os tempos e a vontade
de que dá é de ir até o Norte do Brasil para conhecer de perto esta rica
cultura, a qual precisamos descobrir mais e mais.
Vale
ressaltar que hoje é o aniversário desta grande guerreira e o Mais Cultura Brasileira! e o moderador deste blog, Marcelo Teixeira, assim
como milhares de leitores, desejam à você Emília, um Feliz Aniversário com muito sucesso e
que este novo ciclo seja repleto de sucessos.
Cheia de Graça / Emília Monteiro
Nota 10
Marcelo Teixeira
4 comentários:
Existe coisas que somente DEUS pode explicar. Porém, O ser humana tem a capacidade de transmitir em canção, o que o coração consegue sentir...
Parabéns Emília Monteiro...
Op_papito " Diário FM Macapá.
simplicidade e talento Emília monteiro.
Querido Marcelo Teixeira, há encontros que só se pode mesmo explicar através dos mistérios da sincronicidade ... Encontros predestinados a acontecer, como o meu contigo, sempre muito carinhoso desde o primeiro instante, me acarinhou com uma matéria feita de todo o coração, com suas palavras sinceras sobre o " Cheia de Graça" e colocadas de maneira muito natural, como se estivesse falando com a gente... Pessoa de alma sensível, amante da boa música brasileira, vc me emociona muito... Sou sua admiradora ... Bjos no seu coração , meu querido ! Agradeço tb às palavras do Operador Papito da Diário FM de Macapá e da querida Josivana que não por acaso é neta da Dona Onete . Saravá !!
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