O fantástico mundo de Luisa |
Não é todo dia que podemos ter a
honra de ouvir uma cantora como Luisa Maita nas
plataformas digitais, mas posso garantir que quem compra seus CDs ou assiste
aos seus shows, reconhece sua importância dentro da música popular brasileira.
Simplesmente, Luiza é uma cantora diferenciada, culta, refinada,
intelectualmente cult e popularmente do povão. Se a massa encefálica ainda não
descobriu Luisa Maita, então tem alguma coisa estranha nesse nicho: ela está
aqui, bem no meio do povo, cercada por equipamentos refinados, mas com letras
que simbolizam a tenra estrutura que pertencem à população. Se você não a
ouviu, se você não a viu, se você não a conheceu ainda, peço para que corra e
ouça Lero-Lero (2010) e seu
mais novo lançamento, Fio da Memória
(2016), que são obras-primas dignas dos melhores prêmios. Ela está
ali bem diante de seus olhos, bem perto de seus ouvidos e ao alcance de suas
mãos e se você perde essa oportunidade, infelizmente não há o que fazer. Seis
exatos anos distanciam Lero-Lero
de Fio da Memória e esse tempo foi
primordial para que um fosse a extensão de complemento do outro, sem que ambos
tivessem ligações diretas. Quando lançou o primeiro disco, a cantora era um dos
nomes mais fortes do cenário musical, onde um pouco antes a cantora Céu despontava
com sendo uma das melhores. Não há semelhança alguma entre ambas as cantoras e
enquanto Céu seguiu uma linha mais vanguardista, Luisa optou por seguir uma linha
mais atemporal, mas sofisticada, mais popular com requintes de intelectualidade.
Não que Céu não tenha esses requisitos, mas enquanto uma seguiu uma linha mais
popularesca dentro de um padrão não blindado, a outra seguiu por uma linha
tênue entre a sofisticação e a beleza de uma pluralidade, que para entrar é
preciso de senha. Se lá no início desse artigo eu disse que você precisava
conhecer Luisa Maita e aqui digo que você precisa pegar uma senha, é porque não
é qualquer um que vai escutar a rigor as músicas de Luisa com o mesmo afinco
que escutam a música de Céu. Aqui entra a senha. Céu não é mais blindada, assim
como não é mais Roberta Sá nem Mariana Aydar, enquanto que Luisa continua com
uma blindagem que requer senha para entrar. Isso é bom porque a blindagem a
cerca dos cunhões das paranerfálias musicais existentes. Mas é ruim porque
Luisa pode viver em uma blindagem existencial por muito tempo. Lero-Lero é brasileiro, orgânico e com
cheiro da zona sul de São Paulo: um cheiro cinzento, com mistura de barro e
árvores secas. Fio da Memória é um disco
que, a princípio, causa um estranhamento mórbido, secular, personificada e
homeopática. É preciso ouvir de novo e de novo e de novo e quando você menos
perceber, estará cansado de tanto que não ouviu ainda. Contraditório? Nenhum
pouco. Faço referências à Lero-Lero
porque para entrar no mundo maitense, você precisa ouvi-lo antes de entrar de
cabeça em Fio da Memória. É como
ler Platão sem entender Sócrates. Precisamos manter um pouco a blindagem de
Luisa para que tenhamos certeza de que seu próximo disco será ainda mais
categorial que Lero e Fio. Por enquanto, pegue uma senha
enquanto não há filas exorbitantes de uma população insana e embarque no fantástico mundo de Luisa Maita.
Fio
da Memória (2016) / Luisa Maita
Nota
10
Por
Marcelo Teixeira
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