sexta-feira, 11 de abril de 2014

Zii e Zie (2009) e o transambas de Caetano Veloso


Zii e Zie: sambas e reflexões de Caê
Que Caetano Veloso é embalado por orixás e deuses da Bahia de todos os santos, disso todo mundo sabe, mas na música que fecha Zii e Zie,  Diferentemente, ele deixa claro que não crê em Deus, diferentemente de Osama e Condoleeza. A música fecha o disco com chave de ouro, tendo em vista que Zii e Zie (2009 / 28,99 / Universal Music) não trata de religião e sim, de sambas e mistérios que somente um certo Caetano consegue fazer. São sambas e bambas gingados com categoria de um grande disco, embora por vezes o inquieto e belo Rio de Janeiro deixe a impressão de que tudo é samba, paz e amor. Transambas é um subtítulo adquirido e muito bem aplicado no disco, mas Caetano ousou um pouco mais ao trazer músicas como Incompatibilidade de Gênios, de autoria de João Bosco e Aldir Blanc, destoando toda a sutileza irreal da atmosfera de todo o disco. Zii e Zie é um disco de samba sincopado, desses de se ouvir sentado, alimentando e digerindo cada palavra, cada som, cada melodia. Ao todo são treze faixas em que Caetano desfila sua eterna e alegre musicalidade, sendo na sua maioria a autoria e passeando por um Rio de Janeiro colorido das praias, das favelas, da Lapa e do Leblon, além de apontar para Guantánamo e outros distantes lugares do mundo. A denúncia em A Base de Guantánamo, sobre a base militar americana em solo cubano é retratada com afinco e sabedoria, assim como Lobão tem razão que, antes de ser gravada aqui, Caetano já havia apresentado em shows anteriores, tentando arrancar emoções do público por onde passava. Menina da Ria é um oposto e uma homenagem a Menino do Rio, eternizada na voz de Baby do Brasil e aqui ganha cores de uma negra, que tanto o compositor gosta. Contemplando o disco, ainda há pérolas como Perdeu, Cais, Por quem?, Falso Leblon, a engraçada Tarado ni você, Ingenuidade, Lapa e a atemporal Diferentemente. Caetano sabe que não é mais aquele jovenzinho que queria mudar o mundo e sabia que estava ficando velho ao lançar Zii e Zie, por isso talvez tenha se cercado de pessoas mais jovens para a realização deste trabalho. A ascensão brasileira, a política, o mar, as notas híbricas e a tristeza íntima mastigada por Caetano estão todos aqui retratadas de forma sublime em um disco de alto nível. É certo que o tempo passa para todos nós, porém Caetano sempre procura se manter atual, dentro do universo que o consagrou na juventude.

 

Zii e Zie (2009) / Caetano Veloso
Nota 10
Marcelo Teixeira

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