Patrícia: encantamento de voz e som |
Há uma singularidade particular com
o som que vêm do Norte: eles são fortes, formosos e encantam já na primeira
audição. Há segredos e mistérios nesta região do país que muitos desconhecem e
muitos querem descobrir. Zulusa,
o disco bem caprichado de Patrícia Bastos, é a prova disso: aqui há de tudo um
pouco, desde o som dos índios, passando pelo marabaixo e pelas belas paisagens
de Macapá, sua terra natal. A beleza no canto de Patrícia faz com que
esquecemos do corpo presente cheio de dívidas para cairmos num mundo na qual
pouco estamos habituados: o mundo da fantasia, o mundo fantástico, rico de sol,
rico de mar. A voz de Patrícia Bastos encanta pelo fato de ser irretocável: um
misto de beleza e sensualidade, carregada com um toque de emoção e sentimentos.
Patrícia encanta e canta as belezas de um lugar escondido do Norte brasileiro,
sendo bem conduzida por Dante Ozzetti, diretor musical e de arranjos de Zulusa (2012/ Tratore / 25,00). O disco
é feito de histórias e é através da música que a história se confunde com os
ritmos e nos contam uma bela narrativa que nos conduz por 14 faixas muito bem
cantadas por uma cantora inspirada, que através de seu canto nos mostra que a
beleza está bem aqui, diante nossos olhos, ouvidos e poros. Este é o quinto
disco da cantora, mas o que mais representatividade lhe prôpos: um retorno de
muito trabalho e dedicação, feito com muito esforço para mostrar ao mundo (e a
nós, brasileiros), que o Brasil é isso, feito de misturas de raças, cores e palavras.
Quem me apresentou o canto de Patrícia Bastos fora Dante Ozzetti, ao sairmos de
um show de sua irmã, Ná Ozzetti. Falou-me de uma cantora que morava no Norte,
era afinadíssima e antenada com a cultura de seu povo, pronta a demonstrar seu
canto. E Patrícia me arrebatou já no primeiro som que abre o disco, Canoa Voadeira, que é um passeio pelo
vasto rio-mar que se vê nas belas paisagens do encarte. O povo negro aqui está
bem retratado na canção Linha Cruzada,
onde a sutileza na voz da cantora ecoa pelos cantos numa forma absurda de
bradar algo preso na garganta. Patrícia emociona em Boi de Rua, cujo canta as influências amazônicas e em Incantu,
fala sobre o povo indígena. Encantador
do começo ao fim, Zulusa é um disco
para se ouvir com ouvidos atentos, ouvidos de curiosidade, com afinco e com
amor. Um disco caprichado, bem acabado, com sutilezas repletas de sonoridades
distintas, abordando um tema pouco comum nos dias de hoje. Zulusa.
Negros vindos da África, índios amapaenses, mulatos. Patrícia revisita a grande
obra esquecida por milhares de brasileiros e expõe um disco magnífico a altura
de seu talento e respeitabilidade. Zulusa
é história do Brasil esquecida por brasileiros que se tornaram americanizados num
país dentro do país. Zulusa é
o Brasil esquecido dentro do Brasil e é nesse resgate que Patrícia reina
absoluta. Zulusa é um tiro de
espingarda calibrada direta e certeira na alma lírica brasileira. Zulusa não é
para poucos aventureiros. Trata-se de um disco e tanto para a nossa cultura
pouco valorizada. Que Zulusa
possa trazer-te bons frutos e que Zulusa
seja bem interpretado por analfabetos que assolam governar nosso país sem
memória.
Zulusa (2012) /
Patrícia Bastos
Nota 10
Marcelo Teixeira
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