Ana Cañas: mais equilibrada |
De todas as cantoras surgidas nos últimos anos
dentro da MPB, Ana Cañas continua sendo vista por mim como uma cantora que
sempre guarda um mistério na manga. Desde seu primeiro disco até o lançamento
do atual, a cantora sempre se mostrou inquieta conforme a reação de seu público
e conforme dança a música ao qual é sempre convidada a dançar. Não que Ana
Cañas seja uma cantora qualquer ou que não tenha rótulos e vive de disfarces
musicais. Ela é muito mais do que isso: Ana simplesmente canta o que lhe convém
e isso é uma das estratégias mais mágicas dentro do universo musical. Dona de
uma voz magistral, Ana canta de boleros a jazz e consegue arriscar um sambinha
distraído vez por outra, tudo com a sua técnica e ao seu jeito. Além de corajosa, Ana Cañas gosta de se
sentir livre para compor, criar, cantar, dançar, pular e não se intimida com
assédios menos gratuitos de programas popularescos. Seus discos são sublimes,
atemporais e não é para qualquer um ouvir e disso ela sabe muito bem. Lançando Coração Inevitável (2014)
com pompa de grande estrela da música nacional, Ana se mostra mais que uma
artista: se mostra uma variante de sons, de sentimentos, de equilíbrio. Sua voz
soa mais que uma voz feminina: soa por vezes como um sopro de suavidade dentro
daquilo que canta, dentro de suas emoções, dentro de seu coração. Ney
Matogrosso é o diretor, assim como o iluminador do espetáculo. Cantor
consagrado, Ney pede com suavidade para que Ana mostre seu lado mais feminino e
menos moleca (sim, Ana vinha numas traquinagens que ninguém entendia),
dando-lhe um ar de mais responsabilidade. A maior parte das faixas do show ao
vivo foi tirada do álbum Volta,
que fora lançado em 2012 e que não teve tanto êxito na vida da cantora, tendo
em vista que seu disco anterior, Hein? (2009) fora mais expansivo e mais explosivo,
tão marginalizado quanto Amor
e Caos (2007) seu disco de estreia e com maior
respeito do público. Por isso digo sempre que Ana Cañas é uma cantora de fibra,
corajosa e audaciosa. Exagerada ao extremo, com suas cores berrantes que mais
me lembram Frida Kahlo (eu sou apaixonado pela pintora mexicana), Ana passeia
por todos os estilos musicais e estrangeiros para dar garra ao primeiro DVD de
sua vida. Segura de si mesma, Ana norteia com chave de ouro um presente e tanto
para seus fãs e para os que ainda virão a ser sê-los. Exagerada,
temperamental, culta, bonita, cantora.... não importa a qual adequação Ana
Cañas se encaixa. O importante é que sua música é rica em detalhes e sua
carreira completa 10 anos. Pontos para Ana. Um salve à ela.
Coração
Inevitável / Ana Cañas
Nota 9
Marcelo Teixeira
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