sexta-feira, 7 de março de 2014

O equilíbrio de Ana Cañas em Coração Inevitável

Ana Cañas: mais equilibrada
De todas as cantoras surgidas nos últimos anos dentro da MPB, Ana Cañas continua sendo vista por mim como uma cantora que sempre guarda um mistério na manga. Desde seu primeiro disco até o lançamento do atual, a cantora sempre se mostrou inquieta conforme a reação de seu público e conforme dança a música ao qual é sempre convidada a dançar. Não que Ana Cañas seja uma cantora qualquer ou que não tenha rótulos e vive de disfarces musicais. Ela é muito mais do que isso: Ana simplesmente canta o que lhe convém e isso é uma das estratégias mais mágicas dentro do universo musical. Dona de uma voz magistral, Ana canta de boleros a jazz e consegue arriscar um sambinha distraído vez por outra, tudo com a sua técnica e ao seu jeito.  Além de corajosa, Ana Cañas gosta de se sentir livre para compor, criar, cantar, dançar, pular e não se intimida com assédios menos gratuitos de programas popularescos. Seus discos são sublimes, atemporais e não é para qualquer um ouvir e disso ela sabe muito bem. Lançando Coração Inevitável (2014) com pompa de grande estrela da música nacional, Ana se mostra mais que uma artista: se mostra uma variante de sons, de sentimentos, de equilíbrio. Sua voz soa mais que uma voz feminina: soa por vezes como um sopro de suavidade dentro daquilo que canta, dentro de suas emoções, dentro de seu coração. Ney Matogrosso é o diretor, assim como o iluminador do espetáculo. Cantor consagrado, Ney pede com suavidade para que Ana mostre seu lado mais feminino e menos moleca (sim, Ana vinha numas traquinagens que ninguém entendia), dando-lhe um ar de mais responsabilidade. A maior parte das faixas do show ao vivo foi tirada do álbum Volta, que fora lançado em 2012 e que não teve tanto êxito na vida da cantora, tendo em vista que seu disco anterior, Hein? (2009) fora mais expansivo e mais explosivo, tão marginalizado quanto Amor e Caos (2007) seu disco de estreia e com maior respeito do público. Por isso digo sempre que Ana Cañas é uma cantora de fibra, corajosa e audaciosa. Exagerada ao extremo, com suas cores berrantes que mais me lembram Frida Kahlo (eu sou apaixonado pela pintora mexicana), Ana passeia por todos os estilos musicais e estrangeiros para dar garra ao primeiro DVD de sua vida. Segura de si mesma, Ana norteia com chave de ouro um presente e tanto para seus fãs e para os que ainda virão a ser sê-los. Exagerada, temperamental, culta, bonita, cantora.... não importa a qual adequação Ana Cañas se encaixa. O importante é que sua música é rica em detalhes e sua carreira completa 10 anos. Pontos para Ana. Um salve à ela.
 

Coração Inevitável / Ana Cañas
Nota 9
Marcelo Teixeira

 

 

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