Cadê o pop? |
Desperdício! É assim que começo este
artigo que não é nada desrespeitoso com o trabalho da digníssima Julia Bosco, uma cantora que flerta entre todos os
ritmos de música, mas que se perdeu totalmente em um disco pop e eletrônico.
Quando digo desperdício, refiro-me ao desperdício de tempo, de ouvir uma boa
música ou uma boa voz. Não que Julia Bosco não tenha uma boa voz, pelo
contrário, ela o tem, mas não fez jus ao novo disco, lançado no ano passado com
pompas de um disco que revolucionaria o mercado pop. Entrou em um nicho que não
é sua seara porque nessa seara ela não domina. Não estou aqui dizendo que Julia
Bosco não é uma cantora de prestígio ou categoria, e sim, que ela não teve
maturidade o suficiente para pôr no mercado um disco tradicionalmente pop com
requintes de eletrônico. A começar pela horrenda capa, o disco deixa a desejar
no quesito originalidade, pois o que vemos é um conjunto de cores primárias
misturadas com um rosto apático e sem graça. Dance
com seu Inimigo (2016 / Coqueiro Verde / 21,90) contêm dez faixas
com menos de quarenta minutos e a expectativa é fraca, não sintetizador e
cabível de uma consternação única. Fica nítido que Julia tentou encostar-se à
obra de Tulipa Ruiz, cantora que consegue flertar livremente com o pop eletrônico
com categoria exemplar. A personalidade de Julia não compete com Dance com Seu Inimigo, seu segundo
disco, que é o oposto de Tempo (2012):
sua personalidade pode ser comparada com a de uma cantora sombria, sem muitas
palavras e sem muito temperamento. Já em Tempo,
eu havia dito, ainda em 2012, que era um
álbum que não trazia grandes inovações e nem tinha pretensões de renovar a
música brasileira. Era um disco despretensioso, mas prazeroso de se ouvir. Tempo era morno e estava dentro de uma
caixinha de surpresas que a MPB guardava e por vezes soltava, mesmo sendo, como
disse à época, despretensioso. Dance com Seu
Inimigo é frio e está quase congelado, sendo o oposto de seu
antecessor. Significações de que Julia Bosco não brilha tal como gostaria de
brilhar, mesmo pertencendo a uma família magistral de artistas musicistas. Com a aparência dos anos oitenta e a carência
em relações sutis com o mundo contemporâneo, as músicas que norteiam esse
segundo disco são balelas superficiais perto do morno chafariz interpretativo e
criativo de Julia. Músicas como Pra Gozar
e Volume são chatas, sem falar da
caretice total de Tanguloso, que chega
a ser péssima. Mesmo tendo ao seu lado o competente Donatinho, o disco não é
dos melhores, não tem brilho, não tem sensatez, não tem vanguarda, não tem essência,
não tem carisma, não tem cool, não tem bossa, não tem pop nem eletrônico.
Desperdício ainda é pouco!
Dance com seu inimigo
(2016) / Julia Bosco
Nota 4
Por Marcelo Teixeira
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