Silva: disco morno |
Indiscutivelmente, Silva é um cantor nostálgico e que precisava mudar de
ares para se consagrar como um cantor que merece respeito. Ainda que tentasse
resgatar as melhores fases de uma das cantoras mais perfeccionistas da MPB,
Silva não conseguiu se desvencilhar de seu tom característico para cair de vez
nas malhas suaves da população. Ganhou, talvez, uma mistura de carinhos com um
misto de porradas singelas. Sua voz é agradável, mas é só. Não podemos associar
Silva com uma grande voz de talento superior, porque ainda falta muito para que
isso possa acontecer. Por enquanto, Silva é Silva mesmo reinventando canções de
Marisa Monte. Com uma capa retrô, simples e
comportada, Silva nos deixa a par da curiosidade em conhecer as músicas de
Marisa cantadas por um homem. O resultado por vezes soa natural, por vezes
superficial e algumas vezes neo-sofisticado. Mas depende muito do gosto
peculiar de cada pessoa ao ouvir o disco, pois cada som é indiferente para cada
ouvido e talvez esse seja o meu maior recado neste artigo e que transcrevo aqui
pela primeira vez em seis anos de crítico musical: ouvir Silva não é tão fácil
assim e quem conhece a obra do cantor na certa escolherá seus discos anteriores
a este em que canta Marisa. Lançado em novembro passado, Silva
canta Marisa (2016 / SLAP / 27,99) é um disco comum em que o artista
dá voz à uma releitura compactuada de uma grande artista nacional. Não há
defeitos nesse disco, mas não há beleza característico para ser um grande
disco, pois ele é nonsense, homogêneo, respirador, tranquilizador e temporal. Leves
batidas e muito pouco sintentizadas ficam como sendo marca registrada sob
formas aleatórias em renomadas canções como Ainda
Lembro, Infinito Particular, Eu Sei e a cansativa Não é Fácil. O jeito com a qual Silva canta aqui é arrastado,
cansativo por vezes, insatisfatório e triste, mas supera as adversidades quando
canta em tom introspectivo músicas como O
Bonde do Dom ou De Noite na Cama.
Vale ressaltar que Marisa Monte é a grande homenageada este ano pelo Mais Cultura Brasileira por seus 50 anos
de idade e Silva presta uma homenagem à deusa da música com um disco que
poderia ser melhor trabalhado, melhor desenvolvido e melhor estruturado. Eis aqui
um crivo mercantilizado que afasta o ouvinte de segunda viagem (aquele que já
conhece a obra encantadora do cantor) do ouvinte de primeira viagem (que pode
se encantar perdidamente pelo seu jeito de cantar). Silva pode ser adorado ou
odiado com este disco, assim como pode ser eternizado definitivamente como o
cantor que deu voz às canções sensoriais de Marisa Monte.
Silva
canta Marisa (2016) / Silva
Nota
7
Por
Marcelo Teixeira
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