A minha arte de criticar música |
A minha função como crítico de música
é o de criticar, patrocinar a divulgação de um cantor e estar atento às
novidades que os mesmos produzem, seja ele ruim ou excelente, canhestro ou bom,
atemporal ou desanimador, estimulador ou inquieto, arrogante ou cristalino.
Enquanto houver cantoras e sejam elas boas, medianas, ruins ou excelentes, meu
papel aqui é o de criticar. Critico porque há a necessidade plural de uma
sinceridade justa dentro de um contexto ideológico e que muitos precisam saber.
Há a benevolência de uma magnitude singular que persiste estar antenado com o
que há de novo e o que há de antigo, mesmo lembrando que o antigo muitas vezes
é melhor aguçado que o novo e que o novo é sempre possível de mudanças ou
reparações. Pensando por outro lado, temos que pensar no futuro da música, no
futuro das cantoras e dos cantores, no futuro de um estilo que fale a nossa
língua, a nossa ética, a nossa relevância, o nosso amanhã. Qual será o destino
do CD físico? Ele vai sobreviver por muito tempo? Podemos dizer com toda a
certeza que o estilo A não comporta com o estilo D, que, por sua vez, está
interligado com o estilo de vida da classe B, mas que possui características físicas
da classe dominante Z, que, por outro lado, tem formas e estilos formais da
classe oriunda que perpetua o universo C? Óbvio que não! Mas podemos ter uma
ideia ou percepção daquilo que está por vir, tendo em vista o cenário da música
brasileira atual. Chico Buarque, grande compositor de excelentes clássicos nacionais,
disse recentemente que o cenário da música atual reflete o Brasil atual. Ele
está coberto de razão: os grandes barões da música financiam o grande
capitalismo cultural, fazendo com que a massa não venha intervir em seus
negócios. Quando será que nascerá de novo um Pixinguinha, um Paulinho da Viola,
uma Elis, uma Clara, uma Gal ou até mesmo Caetanos, Miltons e Djavans? A música
atual pede socorro e não mais passagem, porque ela adentra em nossa casa sem ao
menos pedir licença. Apenas invade. Invade nosso espaço, invade nosso cérebro,
invade nossa paz. E muitos críticos de música acabam caindo ou se rendendo ao
sistema burocrático da verba ilícita para ajudar a patrocinar esses estilos
difundidos pelos quatro cantos do país. Ser crítico é ser persistente na
melhoria de algo e, no meu caso, insisto na melhoria da música brasileira por
um todo. Precisa-se ter ética, postura. Precisamos descobrir mais cantoras, sem
esquecer as do século passado e incluindo as atuais. Precisamos de mais
cantores de qualidade exorbitante, pensando na junção destes atuais com os
antigos e com os que virão. Ser crítico é saber respeitar o outro, saber
distinguir que o que ele lançou hoje pode ser bom, mas que amanhã pode ser
melhorado. Ser crítico é estarmos com o coração nas mãos a procura de uma nova
voz para que possamos compartilhar. Ser crítico é ter olhar e sentimentos
verdadeiros. E ser verdadeiro é ser crítico. Por que escrevo isso para vocês?
Porque recebi uns e-mails recentemente de leitores e amigos que falam que
escrevo com sinceridade e certeza. E para vocês eu respondo: não preciso
agradar a ninguém para ser crítico. Portanto, o cantor precisa ter o termômetro
de uma pessoa crítica, progressista e que lhe faça dizer: não estou aqui para
passar-lhe a mão na cabeça, mas sim para ajudar na qualidade musical do Brasil.
E é por isso que insisto em criticar a música.
Por que sou crítico?
Uma reflexão sobre a
minha arte de criticar.
Por Marcelo Teixeira
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