|
Roberto Carlos é rei? |
Entre brigas na justiça com as leis
sobre biografias não autorizadas e músicas do passado que são proibidas de
serem regravadas, Roberto Carlos vai passando sua coroa (que nunca teve e que
nunca mereceu) para frente, deixando talvez guardada em um local de difícil
acesso ou até mesmo escondida. No país do futebol, do samba e das mulatas, não se pode ter um rei
e Roberto Carlos fora apelidado assim devido ao grande sucesso na Jovem Guarda.
Mentor da época, o cantor e compositor Roberto Carlos reinava absoluto nas
paradas de sucesso, cantando aquilo que o público, feminino na sua maioria,
queria ouvir. Roberto dividia os holofotes com outros reis que eram tão bons
quanto ele na sua época, como Paulo Sérgio, Antônio Marcos e Taiguara. Mas fora
Roberto quem sobreviveu a todos os obstáculos e vendavais que vieram após o fim
da Jovem Guarda, o início da Bossa Nova, o surgimento da Tropicália, o Samba, o
Rock... Roberto Carlos conseguiu uma proeza e tanto para a sua velhice musical:
se manter entre os melhores e maiores cantores brasileiros de todos os tempos.
Mas há muitas cinzas no mundo artístico de Roberto Carlos: como uma cólera, o
cantor sempre teve obsessões pela imagem e por sua vida retratada em livros.
Não deixa praticamente ninguém cantar suas músicas sem sua devida autorização e
exige ouvir antes de todos para ver se ficou realmente boa. Ficando de fora os
TOCs que o cercam, o chamado dito popular rei não é rei em um país regido por
pajés: Roberto Carlos está muito abaixo da cultura intelectual de Chico
Buarque, Caetano Veloso ou até mesmo Milton Nascimento, artistas estes capazes
de levar coroas sem serem reis. É
notória que a música dos anos 1970 e 1980 que Roberto produzia fazia muito mais
barulho que as músicas lançadas nos anos 2000 e mesmo com essa distância de
tempo, é impossível dizer que Roberto é o maior cantor do Brasil: ele continua
muito abaixo de qualquer cantor racional deste país. Roberto produziu muita
coisa bacana para a cultura brasileira, músicas românticas de qualidade nada
duvidosa, mas essas músicas não chegam a ser de qualidade superior, não trazem
intelectualidade alguma para o nosso dia a dia e não transmitem nada senão
serem apenas músicas românticas. As cinzas musicais de Roberto são apenas cinzas
cristalizadas no breu mais distante produzida para que a massa o alimentasse de
qualquer forma e jeito, traduzindo o que há de melhor de sua capacidade mental:
o de fazer música romântica sem ser apelativa, mas meramente comercial. Não
duvido da capacidade intelectual de Roberto em se fazer crer que é o maior
cantor do Brasil, assim como não questiono suas músicas, que são, de todo modo,
caricaturas de rostos normais aqui e ali, mas o que quero dizer é que o rei
Roberto Carlos não merece esse título que lhe designaram, pura e simplesmente
porque no país do futebol, do samba, das mulatas, das coroas e das ninfetas,
quem reina absoluto são os pajés, que mesmo com seus cocares de pena, ainda
assim perdem sua majestade.
O rei não é rei
no país do samba
Marcelo Teixeira
Nenhum comentário:
Postar um comentário