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Desespero ou desesperada? |
Não há como negar a
existência de Ângela Ro Ro na música popular brasileira, assim como não há que
negar seus escândalos e suas aventuras amorosas e suas amizades esdruxulas.
Ângela é uma cantora de peso, com sucessos gravados e regravados por diversos
nomes de categoria refinada e que merece destaque quando falamos de música de
qualidade ou de cantoras que lutaram pela inclusão da mulher na seara dominada
por homens. É bem verdade que seus escândalos amorosos com a cantora Zizi Possi
tornaram sua vida pública ainda mais saborosa, fazendo com que sua música
ficasse em segundo plano, impossibilitando a cantora de ser uma referência
musical nos dias de hoje. Antes mesmo de escrever este artigo emergencial, saí
às ruas (adoro fazer isso) para perguntar quem conhecia a cantora e dez entre
oito pessoas jovens não sabiam de sua
existência. Ângela está esquecida do grande público, não tem gravadora, não tem
patrocinador, não tem plateia e não tem fãs, porque estes debandaram para a
nova safra de cantoras ou migraram para outros nomes de pesos que preferem
lançar discos cada vez mais autênticos, rebuscados e completos. Mas Ângela é
daqueles tipos de cantoras que não levam desaforos para casa, não tolera a
intolerância do outro, não usa o modernismo para se proclamar como a detentora
do saber, não aceita modismos, não acata a rivalidade, mas quando entra na
briga ela sabe que é pra ganhar. Recentemente a cantora se envolveu em mais uma
polêmica, humilhando fãs, rebaixando funcionários do teatro, agredindo a quem
estava lhe assistindo e, para piorar a situação, revidou aos insultos que
estava sendo acometida. Ângela errou apenas em uma coisa neste episódio:
denegrir a imagem do Ceará, um dos cartões postais mais belos do Nordeste e se
auto afirmando ser uma cópia original
carioca. Tudo bem que a cantora não precisa de público para ir aos seus
shows, não precisa mais provar a ninguém que sabe fazer música de qualidade e
não precisa mais estar entre as grandes cantoras para estar no auge de um
sucesso, mas a mesma não consegue ficar longe de um holofote. Chega a ser
vergonhoso senão pecaminoso seus versos filosóficos neste lamentável caso, em
que a integridade moral de uma senhora de cabelos brancos deixa transpassar
para todos aqueles que a estimam. Humilhar fãs não é caráter de nenhum artista,
ainda mais quando este fã é jovem e que está dedilhando em poder conhecer sua
carreira. Humilhar fãs não é caráter de um artista que trilhou um caminho de
longa estrada para se chegar nesse ponto da vida e se ver desesperada com tal
situação. Se em 2002 a cantora lançou um dos melhores discos do ano com o
sensacional Acertei no Milênio e
recentemente a cantora voltou às paradas de sucesso com Compasso, sendo muito executado nas rádios de todo o Brasil, a
mesma Ângela que um dia cantou Amor, Meu
Louco Amor e recusou de Cazuza a música Malandragem
(cantada brilhantemente por Cássia Eller) se rende a histeria do desespero
compassado com a tristeza de um abismo profundo.
O desespero de Ângela Ro Ro
Por Marcelo Teixeira
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