Alf, um mestre brasileiro |
Um pouco antes de morrer, vi Johnny
Alf passar por mim no cruzamento das ruas Vieira de Carvalho e Aurora, no
Centro Velho de São Paulo e fiquei com um misto de espanto com admiração e
cutuquei meu amigo e disse: é o cara! Ele entrou em um bar com o que parecia
ser seu irmão mais velho e o vi sumir. Um breve tempo depois veio a notícia de
que Johnny Alf estava morto. E para tornar a minha angustia ainda maior, o
cantor e compositor veio falecer um dia depois do meu aniversário, 04 de março
do ano de 2010. Sendo um dos compositores mais prestigiados de todos os tempos,
Johnny deixou sua marca dentro da MPB como sendo um cantor de enorme carisma e
de uma sintonia fina entre seu piano e seu dom de compor o amor. A música de
Johnny é como um antidoto que nos desperta para uma melodia sem fim de
musicalidade brasileira que precisa urgentemente ser ouvida e esmiuçada por
aqueles que ainda não entenderam que o Brasil foi feito por músicos de verdade.
Johnny Alf era (e é!) um dos músicos mais respeitáveis deste mundo e seu ponto
crucial foi batizado em discos que hoje tornaram-se raros, com epítetos de
colecionador e mais valorizado fora que dentro de seu país de origem. Ao longo
de sua carreira artística fez diversos amigos, verdadeiros, cúmplices, reais e que lhe transportaram para
mundos tão díspares e atemporais que é quase impossível não dizer que ele fora
de fato o pai e mentor da Bossa Nova. Há profundidades em sua música. Há
riqueza de detalhes em suas composições. E é tão bela quanto suas notas. Apesar
do enredamento harmônico de imensa categoria, tudo soa como algo que não podia
ser de outro modo, por isso apesar de tão elaborada, soa natural, mais natural
do que nunca. Há amor na música de Alf, assim como há paixão, há brasilidade,
há bossanovismo e há verdades. E, para ser sincero, gosto da verdade musical de
Alf, gosto da brasilidade atemporal das cores musicais de Alf, gosto da beleza
que ronda a atmosfera de Alf e gosto daquilo que invadia a alma do compositor
como uma forma única de expressar seu lado discreto de mostrar seu lado poeta. Prova
de tudo isso foi o lançamento da caixa Johnny Alf Entre Amigos (2011 / 28,99), que
reúne um verdadeiro arsenal artístico que dividiram os vocais com o grande
cantor em algum momento de sua vida. Essa caixa é dividida em três CDs, que fazem
uma justa homenagem a Alf, como forma de homenagear esse mestre, quase
desconhecido do grande público mas com uma obra bastante significativa. Entre
eles estão Leila Pinheiro, Joyce Moreno, Cida Moreira, Wanderléa, Alaíde Costa,
Toquinho e Filó Machado. Um CD que precisa estar no pedestal reverenciando um
dos artistas mais complexos, mais amorosos e mais humildes da música popular
brasileira. Johnny Alf.
Johnny Alf
Entre Amigos (2011)
Nota 10
Marcelo
Teixeira
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